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Última chance para a caça aos nazistas

av24 de maio de 2004

Simon Wiesenthal está fazendo um último esforço para capturar os cúmplices de Hitler ainda ocultos, antes que morram de velhice. Seu projeto já está sendo aplicado no Leste Europeu e chegará à Alemanha em junho.

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Simon Wiesenthal em 1991Foto: dpa

O tempo está se esgotando tanto para Simon Wiesenthal como para os nazistas que ele persegue há mais de 50 anos. Aos 95 anos, o judeu austríaco concentra-se num último esforço para justiçar os responsáveis pelo Holocausto, antes que morram. A Operação Última Chance utiliza recompensas, campanhas de publicidade, coletivas de imprensa e linhas telefônicas diretas para encorajar as pessoas a divulgar o que sabem sobre criminosos de guerra nazistas que escaparam à lei.

Já atuando no Leste da Europa e na Áustria, o Centro Simon Wiesenthal planeja levar sua campanha à Alemanha. A partir de junho, ele tentará localizar ex-nazistas que permaneceram ocultos no país por mais de meio século. Está prometida uma recompensa de 10 mil euros a quem apresentar informações que levem à condenação de uma pessoa por crimes ligados ao nacional-socialismo.

Quebrando o silêncio

Efraim Zuroff, diretor do escritório do Centro Simon Wiesenthal em Israel, afirmou à DW-RADIO acreditar plenamente que há suficiente determinação política na Alemanha para levar os nazistas à Justiça. "A idéia básica desse projeto é atingir pessoas que possuem informações e que de outra forma nunca se apresentariam", explica Zuroff. "Com todo o respeito aos procuradores de Justiça, estamos falando de gente que até hoje preferiu reter essas informações."

A Operação Última Chance foi lançada em 2002 na Estônia, Letônia e Lituânia, estendendo-se mais tarde à Áustria, Polônia e Romênia, com graus de sucesso desiguais: "Extremamente bem-sucedida no Báltico e menos na Áustria", especifica Zuroff. "Recebemos os nomes de quase 300 suspeitos, dos quais mais de 70 foram apresentados aos procuradores."

Cabe a estes tomar as medidas necessárias, baseados nessas denúncias, o que nem sempre acontece: "Escolhemos começar nos países onde há sérios problemas em entregar nazistas à Justiça e onde a determinação política é relativamente escassa", lamenta Zuroff. "Essa é grande parte do problema."

Ele está certo de que ainda há diversos ex-nazistas escondidos em países europeus, como ficou evidenciado em diferentes processos nos últimos anos. O mais recente foi a condenação, no princípio de maio, de três antigos oficiais da SS pelo massacre de 560 civis em Sant’Anna di Stazzema, Toscana, em 1944. Os três homens, todos octagenários, foram julgados à revelia. Ainda não está claro se serão extraditados para a Itália a fim de cumprir a sentença.

"Lembremos que para cometer um crime tão hediondo, que resultou no assassinato de seis milhões de judeus e milhões de outros, são necessárias centenas de milhares, milhões de pessoas, envolvidas de formas diversas", sublinhou Zuroff.

Pouco otimismo

Cerca de dois mil criminosos podem ainda estar vivendo na Alemanha, calcula Micha Brumlik, diretor do Instituto Fritz Bauer. Sediado em Frankfurt, este se dedica à pesquisa do Holocausto. Brumlik insistiu expressamente que Zuroff não oferecesse recompensas, para que os denunciantes não sejam motivados pelo dinheiro e sim por razões morais.

Ele também duvida do sucesso do projeto Wiesenthal: "Seria extraordinariamente difícil reunir evidência válida". O fato de a maioria dos suspeitos serem bastante idosos significa que dificilmente serão julgados ou forçados a cumprir pena de prisão. Segundo Brumlik, apenas nove dos casos que a Operação Última Chance passou para os procuradores de Justiça no Báltico estão sendo realmente investigados pelas autoridades.

Zuroff estenderá o projeto à Croácia, Hungria e Ucrânia. Ele próprio admitiu não ter muita esperança de que haverá condenações. Mas o tempo corre: "Ainda há milhares de criminosos na Europa. Iremos aonde quer que judeus tenham sido assassinados".