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Alexander Litvinenko

(ag / lk)2 de dezembro de 2006

Por trás do envenenamento de Alexander Litvinenko estariam agentes secretos interessados em manter seu poder, avalia especialista.

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O quartel-general do FSB em Moscou sediava antigamente o poderoso KGBFoto: AP

A confirmação de que o italiano Mario Scaramella também está contaminado alimenta as especulações sobre um envolvimento dos serviços secretos russos nos misteriosos casos de envenenamento com o elemento radioativo polônio 210. Desde a morte do antigo agente do FSB (Serviço Federal de Segurança) Alexander Litvinenko, em Londres, as mais diferentes suposições a esse respeito são veiculadas pela imprensa.

O ministro russo do Exterior, Sergei Ivanov, reiteirou neste sábado (02/12) em entrevista transmitida pela televisão russa não ver nenhum indício de que o FSB tenha algo a ver com a morte de Litvinenko. Em sua opinião, não é verdade que o ex-agente estaria em posse de um grande número de informações compremetedoras. E a Rússia está disposta a prestar toda a colaboração possível para o esclarecimento do caso, assegurou o ministro.

A hipótese de que Litvinenko tenha sido morto a mando do presidente Vladimir Putin foi descartada pela própria Scotland Yard. A opinião é compartilhada também por Gerhard Mangott, pesquisador do Instituto Austríaco de Política Internacional (ÖIIP), especializado em assuntos relativos à Rússia.

"Se o Kremlin estivesse por detrás do caso, Litvinenko teria sido morto a tiros, como se fez com outros que saíram da linha", disse Mangott à DW-WORLD. "Não, aqui tinha gente interessada em que a agonia demorasse tanto quanto possível e despertasse o interesse público."

Patrono dos serviços secretos

Großbritannien Fall Alexander Litwinenko mit FSB Agent
Alexander Litvinenko com um agente encapuzado do FSB numa coletiva de imprensa, em 1998Foto: picture-alliance/ dpa

O pesquisador supõe que se tenha formado, dentro dos serviços secretos russos, uma célula que está agindo por conta própria. De fato, os investigadores estão se concentrando em suas buscas, segundo informações da imprensa britânica, num grupo formado por agentes ativos e veteranos do FSB.

A organização que sucedeu ao KGB (Comitê de Segurança do Estado) teria todos os motivos para temer a perda do poder adquirido na época em que era dirigida por Putin. O mandato do presidente termina em 2008, e Putin se recusa veementemente a concorrer ao cargo pela terceira vez, seja por meio de um referendo, seja por uma emenda constitucional. "O FSB tem um grande interesse em que Putin assuma um terceiro mandato e mantenha, como um patrono, os serviços secretos sob sua proteção. Ou então ele deve escolher um sucessor, um príncipe herdeiro, dentre os integrantes dos serviços secretos", afirma Mangott.

Decadência na época de Ieltsin

Até há alguns anos, os bons tempos dos serviços secretos russos pareciam pertencer ao passado. Quando Boris Ieltsin desmantelou o KGB, no início dos anos 1990, criando novas organizações com tarefas específicas, pouco restou do antigo gigante dos serviços de informação. O monolito partiu-se em FSB, o serviço secreto doméstico, SWR, o serviço de inteligência militar, Fapsi, a agência governamental de comunicação e informação, e FPS, o serviço federal de fronteiras.

Ascensão sob o governo Putin

Russland Wladimir Putin mit Sonnenbrille
Presidente da Rússia foi diretor do FSB de 1998 a 1999Foto: AP

Depois que Putin – que fora diretor do FSB de 1998 a 1999 – assumiu o governo, houve uma reconsolidação: Fapsi e FPS foram integrados ao FSB; os recursos financeiros para os serviços de inteligência foram aumentados; o controle parlamentar sobre eles, dificultado. Além disso, Putin nomeou inúmeros ex-colegas para postos de importância estratégica. "Hoje os serviços secretos têm de fato um poder de veto na política e na economia", disse o pesquisador do ÖIIP.

Importantes setores da economia russa são controlados por ex-integrantes do FSB ou do SWR: metalurgia, aviação, a indústria do petróleo e do gás. Também na política infiltraram-se antigos agentes secretos. Os dirigentes dos ministérios da Defesa, do Exterior, do Interior, da Justiça, da Energia Atômica e da Economia, segundo uma lista preparada pela Fundação Heinrich Böll, são ex-agentes do KGB, do FSB ou do SWR.

Ocorre que os ex-agentes que o próprio Putin nomeou não são mais leais a ele, avalia Mangott. Ele está convicto de que eles estão empenhados em manter o poder para além de 2008 e esboça um cenário nada tranqüilizador: "Por isso o mundo precisa se preparar no futuro próximo para uma Rússia muito mais instável, enquanto a questão da sucessão de Putin não estiver esclarecida e os serviços secretos temerem a perda de poder".