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Revendo o Homem de Neandertal

Neusa Soliz2 de fevereiro de 2003

Na imaginação popular, não passavam de primitivos e brutos os primeiros seres humanos que viveram na Alemanha. As pesquisas das últimas décadas, porém, redimiram a imagem negativa do homem de Neandertal.

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Reprodução do Homem de Neandertal, exposta no museu alemão que leva seu nomeFoto: AP

Os seres que habitavam o vale de Neandertal (Tal, em alemão, significa vale) eram bem melhores do que a sua fama. Isto é, não ficavam nada a dever ao Homo sapiens quanto a tecnologia e vida social. Isso é o que afirmam os arqueólogos alemães Bärbel Auffermann e Jörg Orschied, no livro Seguindo as pegadas dos homens de Neandertal, no qual resumiram os resultados das pesquisas mais recentes a respeito. Ela é vice-diretora do Museu do Neandertal, ele professor da Universidade de Hamburgo. A correção da imagem tornou-se possível graças a novos modelos teóricos, achados arqueológicos, novas técnicas de pesquisa e datação.

"A partir das primeiras tentativas de reconstruir a aparência do homem de Neandertal, principalmente da forma do crânio, concluiu-se que ele era primitivo e nada inteligente", disse Bärbel Auffermann, em entrevista à DW-WORLD. Para esta apreciação também contribuiu o fato de ele ser associado ao uso da clava e de cavernas.

No entanto, não há nenhuma prova concreta de que ele tenha usado a clava. Quanto às cavernas, sabe-se apenas que os achados pré-históricos foram feitos nas imediações de cavernas. Os esqueletos do Neandertal foram encontrados perto de Düsseldorf em 1856. O primeiro museu ali data de 1937, tendo sido substituído por um moderno em 1996.

Adaptação e ferramentas

Caçadores e coletores, os Neandertaler - como são chamados em alemão - eram exímios em matéria de adaptação ao meio ambiente. Escolhiam o lugar de seus acampamentos de forma a chegar em poucas horas a regiões com grande variedade de plantas e animais.

Neanderthal Museum zur Entwicklungsgeschichte der Menschheit
Museu de Neanderthal

Eles conseguiram sobreviver na Europa de forma duradoura o que inclui também as épocas mais frias, em que tinham que se dedicar principalmente à caça. Hoje sabe-se que o clima, na época em que essa espécie humana viveu, podia mudar com extrema rapidez. Sobreviver, portanto, exigia muita flexibilidade.

A sua tecnologia também era relativamente avançada. Eles tinham ferramentas como martelos e cinzéis para trabalhar a pedra, fabricavam lâminas e sabiam até colocar cabos de madeira em objetos de pedra. Os últimos vestígios encontrados demonstram que conheciam a técnica de obter breu da casca de árvores (bétula) e usá-lo como cola, o que os autores do livro consideram sensacional.

Assunto ainda controvertido é como se deu a passagem dos Neandertaler aos Homo sapiens. Ambos derivam do Homus erectus, o tronco original da raça humana, que tem sua raiz na África. Segundo os cientistas, 600 mil anos atrás o homem de Neandertal se afastou da linhagem da qual resultaram depois o Homo sapiens, que imigrou para a Europa através da Ásia Menor, e o homem moderno. Durante uns 50 mil anos, as duas espécies conviveram paralelamente, até que os espécimes "alemães" - robustos e musculosos - desapareceram para sempre, 30 mil anos atrás.

As hipóteses da sua desaparição

A suposição de que os "imigrantes" vindos do sul (Homo sapiens) teriam superado o homem de Neandertal por sua técnica mais avançada e sua maior inteligência - já não é mais sustentável, afirmam Auffermann e Orschiedt. Hoje é preciso ver tudo isso como um processo cultural complexo, afirmam, apontando as mudanças climáticas nos últimos 20 mil anos de sua existência como um fator que possivelmente contribuiu para o desaparecimento do Homo sapiens neanderthalensis.

Tais mudanças podem ter desencadeado movimentos migratórios, o que teria sido reforçado pela chegada de novos grupos humanos ao continente. Como na Europa de então viviam 250 mil pessoas no máximo, não deve ter sido muito difícil para o novo grupo de Homo sapiens multiplicar-se e superar os "primeiros europeus". Fato é que o código genético da raça humana moderna não apresenta quase nenhum vestígio de parentesco com os homens e mulheres de Neandertal.