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Putin retrata Rússia como vítima e culpa Ocidente por guerra

9 de maio de 2023

No Dia da Vitória, que marca o triunfo soviético sobre o nazismo, líder russo diz que país trava "luta sagrada" contra ucranianos e Ocidente, a quem acusa de fomentar russofobia.

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Vladimir Putin discursa cercado de militares no Dia da Vitória em Moscou
No Dia da Vitória em Moscou, Putin diz que a Rússia trava "luta sagrada" contra Kiev e o OcidenteFoto: Gavriil Grigorov/Sputnik/Kremlin Pool Photo/AP

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, retratou seu país como sendo a vítima no conflito com a Ucrânia, em discurso nesta terça-feira (09/05) nas comemorações do Dia da Vitória em Moscou.

Ele disse que a Rússia está unida numa "luta sagrada" contra Kiev e o Ocidente, da qual sairá vitoriosa, e acusou os Estados Unidos e seus aliados de terem esquecido o triunfo soviético sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial.

Ao utilizar a mesma retórica do discurso do ano passado, Putin comparou a situação atual na Ucrânia aos desafios enfrentados pelo Exército Vermelho quando as tropas de Adolf Hitler invadiram a União Soviética, em 1941.

"Hoje, a civilização se encontra novamente em um ponto de inflexão decisivo", afirmou. "As batalhas decisivas pelo destino de nossa pátria sempre se tornaram patrióticas, nacionais e sagradas", disse o líder de 70 anos a soldados e veteranos reunidos na Praça Vermelha, em Moscou, para o desfile militar anual do Dia da Vitória.  

Desfile militar reduzido

Desde que chegou ao poder, em 2000, Putin tenta alimentar um fervor patriótico em torno da vitória do poder soviético – do qual se coloca como herdeiro legítimo – sobre os nazistas.

Ele acusou "elites globalistas ocidentais" de disseminarem russofobia e ideias nacionalistas agressivas, e disse que o povo ucraniano se tornou refém de um golpe de Estado e das ambições do Ocidente.

O discurso de Putin, repleto de exaltações às Forças Armadas, ocorreu em meio a uma parada militar bastante reduzida em comparação a anos anteriores, sem a quantidade habitual de equipamentos pesados e sem a presença da Força Aérea. Somente um tanque de guerra desfilou pela Praça Vermelha.   

"Uma verdadeira guerra foi lançada contra nossa Pátria"

A Ucrânia e seus aliados acusam Putin de iniciar uma guerra de agressão não provocada, com a intenção de conquistar território. Kiev rejeita as alegações russas de que a expansão da Otan em direção a suas fronteiras justificaria a invasão do país vizinho. 

Putin, no entanto, busca impor a narrativa de que seu país seria a vítima no atual conflito, apesar de Moscou ter orquestrado uma série de atos hostis a Kiev nos últimos anos, como a anexação da Península da Crimeia  em 2014 e o apoio à insurgência separatista no leste ucraniano.

"Uma verdadeira guerra foi lançada contra nossa Pátria", declarou. O líder russo exaltou como heróis as tropas que lutam pelo futuro da nação contra o Ocidente, que, segundo afirmou, se esqueceu do papel decisivo da União Soviética na Segunda Guerra Mundial.

A antiga União Soviética perdeu 27 milhões de pessoas na Segunda Guerra, incluindo milhões que morreram na Ucrânia.Mas eventualmente o Exército Vermelho conseguiu expulsar as forças nazistas de seu território.

"Queremos um futuro pacífico, livre e estável", disse Putin. Ele se queixou de que memoriais aos soldados soviéticos estejam sendo destruídos em vários países.

"Repelimos o terrorismo internacional. Vamos proteger os habitantes do Donbass (região no leste da Ucrânia), vamos garantir nossa segurança", afirmou, ao lado de líderes de países da ex-União Soviética, entre eles os da Armênia e do Cazaquistão. Nenhum chefe de Estado ocidental compareceu ao evento.

Em torno de 354 mil russos e ucranianos perderam suas vidas no conflito, que já dura mais de 14 meses e poderá se estender para muito além de 2023, segundo documentos da inteligência americana vazados nas últimas semanas.

Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, discursa em Kiev ao lado do líder ucraniano, Volodimir Zelenski
Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, discursa em Kiev ao lado do líder ucraniano, Volodimir ZelenskiFoto: Sergei Supinsky/AFP

Eventos cancelados 

A comemoração em Moscou ocorre menos de uma semana depois de a Rússia acusar Kiev planejar um ataque de drones ao Kremlin, numa suposta tentativa de matar Putin, o que o governo ucraniano nega.

Nos dias que antecederam o desfile militar, vários atos de sabotagem ocorreram no país, incluindo uma explosão que descarrilou um trem e um atentado a bomba que feriu um escritor pró-Moscou.

Apesar das garantias do Kremlin de que todas as medidas de segurança estavam sendo tomadas antes do Dia da Vitória, dezenas de cidades russas cancelaram suas paradas militares.

Von der Leyen em Kiev

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, esteve nesta terça-feira em Kiev para as comemorações do Dia da Europa, uma celebração de paz e unidade que visa se contrapor ao Dia da Vitória em Moscou.

Von der Leyen se reuniu com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, para tratar de uma possível adesão da Ucrânia à União Europeia (UE). Ela exaltou a decisão do líder ucraniano de declarar o dia 9 de maio como o Dia da Europa, da mesma forma como é celebrado em Bruxelas.

"Minha presença hoje em Kiev, neste 9 de maio, é simbólica, mas é também um sinal de uma realidade crucial e bastante prática: a UE trabalha lado a lado com a Ucrânia em diversas questões", afirmou.

rc/lf (Reuters, AFP)