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25 anos depois

26 de abril de 2011

No sudoeste de Belarus, na província de Moguiliov, moradores convivem com a onipresente catástrofe de Chernobyl. Passados 25 anos, a radioatividade ainda assombra o local.

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Onde havia um vilarejo, hoje um memorialFoto: DW

Tcherikov fica no sudoeste de Belarus. No centro da cidade, um monumento homenageia os povoados que foram soterrados pelas autoridades, após o desastre de Chernobyl : 25 placas trazendo o nome de cada vilarejo arrasado, assim como o número de moradores relocados.

Próximo dali mora o aposentado Vassili. Vinte e cinco anos após o desastre, ele desenvolveu uma hipótese surpreendente: a mudança para um local livre de radiação, porém estranho, causou a morte prematura de muitos dos ex-moradores, enquanto seus coetâneos que permaneceram na zona de perigo vivem até hoje.

"No vilarejo de Uchaki vive um homem velho – até hoje. Em Malinovka vive uma família – até hoje. Mas todos aqueles que deixaram a área não vivem mais. O motivo é terem sido 'transplantados' do seu lugar de costume", afirma Vassili.

Radioatividade presente

Nos povoados mencionados, Uchaki e Malinovka, os medidores ainda registram doses perigosas de radioatividade. E, de fato, os moradores mais idosos ainda vivem. Mas outros que se mudaram para áreas não contaminadas não chegaram nem aos 55 anos – por não suportarem o estresse, diz-se.

Stadtbewohner Tscherikov Wassilij
Sobrevivente Vassili mora em TcherikovFoto: DW

A vizinha de Vassili, Ievguenia, expressa a mesma convicção. "Nós, mais velhos, não precisamos mais ter medo de nada. Eu me preocupo apenas com os jovens e as crianças. E para onde é que nós vamos ir? E aí, se formos para uma zona 'limpa', como os outros que já se mudaram? Eles já estão mortos – e em lugares 'limpos'!" Assim, a pessoa deve mesmo ficar onde está, é o seu conselho.

Entre os mais idosos, quem pode envia os filhos para outra região. Mesmo assim, a cidade de Tcherikov dá uma impressão jovem, parece oferecer perspectivas. A estudante Oxana viaja todos os finais de semana de Moguiliov a Tcherikov. A radiação de fundo elevada não a assusta, pois ela acredita que, de qualquer maneira, a radioatividade se espalhou por bem mais longe do que se afirma. "Eu estou viva. Nasci em 1987, como ir embora daqui? Para onde? Nós entramos na floresta, comemos de tudo o que tem lá."

Ninguém quer se lembrar

Der ehemalige Abgeordnete des Gemeindeamtes Semen Ponisowzev
Semion Ponissovtsev com um indicador de radiaçãoFoto: DW

Na região, 90 povoados foram destruídos, 141 evacuados e cerca de 21 mil pessoas foram removidas. Atualmente mais de 100 mil moradores vivem na área contaminada.

Um dos poucos que ainda pensam no que aconteceu em 1986 é Semion Ponissovtsev. Em meados dos anos 1990, ele foi deputado do conselho municipal, e se mantém atualizado para que a catástrofe de Chernobyl permaneça na memória das gerações futuras. Ele se diz decepcionado com o Estado, cuja memória não durou mais do que dez anos.

Antes, os atingidos tinham certos privilégios, conta. Eles recebiam mensalmente dois quilos de sêmola de trigo-sarraceno, uma garrafa de vodka e uma lata de carne de porco cozida. "Diziam que era preciso se alimentar bem para fortalecer o sistema imunológico", comenta com amargura. Agora, as regalias acabaram.

"Medições? Sim, ainda fazem. Mas essas, se pode torcer à vontade, dependendo do se queira provar. Queriam mostrar que Tcherikov estava contaminada pela radiação: as medições comprovaram. Queriam mostrar que Tcherikov estava limpa: foi esse o resultado, então ", relata Ponissovtsev. "Agora o presidente Viktor Lukachenko está dizendo que aqui não tem nenhuma radioatividade."

Contaminação e fronteiras

Com um sorriso sarcástico, os moradores apontam em direção à zona interditada. Ela é nitidamente delimitada: até aqui, "limpo", para lá, contaminado. "Lá" é a margem oposta do Rio Soch, na periferia de Tcherikov. Em seus 25 quilômetros de extensão vigoram normas especialmente rígidas, e é proibida a entrada de pessoas não-autorizadas.

Das Zeichen der Stadt Tscherikov
Placa em Tcherikov, próximo ao Rio SochFoto: DW

Logo antes da zona proibida encontra-se Gronov, último local onde a ocupação é oficialmente permitida. A cinco quilômetros dali encontrava-se o povoado de que foi evacuado, coberto com terra e aplainado.

De Veprin só restaram uma pedra memorial, um cemitério e placas advertindo contra a radioatividade. Mas os moradores de Gronov admitem que entram no território durante a primavera, para colher maçãs.

Na cidade, o clima reinante não é depressivo: duas grandes serrarias geram empregos, há uma loja e está prometida a instalação de tubulações de gás. Apenas Valentina Kurilina, que mora há tempos em Gronov, conta com tristeza sobre os últimos 25 anos:

Bewohnerin des Dorfes Gronov Walentina Kurilina
Valentina Kurilina: moradora de GronovFoto: DW

"Meu avô morreu, meu irmão morreu novo. E agora vivo sozinha aqui." Ninguém vai pagar uma compensação pelos efeitos da radiação, embora todos tenham sido atingidos por ela, e muitos tenham ficado doentes. "Mas ninguém nos paga, ninguém, nada", lamenta Valentina.

Antes havia um ponto de controle na entrada da área interditada, mas que foi desativado dez anos atrás, depois de a última aldeia ser aterrada. Agora, carros de patrulha fazem a vigilância. E sobre os antigos povoados cresce uma nova floresta.

Autor: Alexander Burakow / Birgit Görtz (np)
Revisão: Augusto Valente