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Mercado livreiro sob pressão das datas redondas

(sm)13 de abril de 2005

2005 é um ano cheio de jubileus – e o mercado livreiro sempre tem uma leitura adequada a oferecer. Será que isso é uma vantagem para as editoras e para nós, leitores? A crítica literária Sigrid Löffler responde.

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Inúmeros livros sobre Schiller, não apenas no arquivo de WeimarFoto: dpa

No dia 08 de maio, comemoram-se os 60 anos do fim da Segunda Guerra e, no dia seguinte, dois séculos da morte de Friedrich Schiller. Estas duas datas poderão ser tomadas como indicadores do estado em que se encontra o mercado livreiro alemão.

Afinal, faz tempo que o mercado alemão de livros está se preparando para estas comemorações. As editoras já começaram os preparativos para o Ano Schiller em meados de 2004, e agora as livrarias estão lotadas com novos lançamentos sobre este clássico alemão.

Schiller-Jahr
Foto: dpa

O marco do fim da Segunda Guerra, por sua vez, desencadeou uma avalanche de livros e filmes com que ninguém contava. Estudos históricos, depoimentos de testemunhas, livros de memórias, documentários, romances, volumes de fotos, ficção baseada em fatos verídicos: são centenas de novos lançamentos que se referem a um único dia.

Em velocidade alucinante

O calendário dos jubileus domina inteiramente a vida literária. Todos os aniversários e jubileus de morte de escritores divisíveis por dez ou por cinco viram assunto na mídia e marcam os programas das editoras. A conseqüência disso é uma uniformização de livros e temas e uma homogeneidade gritante dos produtos culturais.

Em vez de inventar títulos e temas, as editoras se submetem ao domínio dos números redondos e se reduzem a meras fornecedoras de subsídio para determinadas datas. Este ano, quem entrar numa livraria alemã, independentemente de porte e perfil, vai se deparar com biografias de Schiller, Sartre e Einstein ou com contos de fadas de Andersen e livros sobre a Segunda Guerra.

Kanone Zweiter Weltkrieg
Foto: RIA Novosti

Também dá para notar um fenômeno paradoxal. Nunca houve tanta escolha e ao mesmo tempo tanta uniformidade no mercado de livros. Teoricamente, todos os livros do mundo são acessíveis a todos, mas esta diversidade é limitada pelo programa unilateral das editoras.

O público leitor já tem impressão de que se publicam coisas demais. Será que seu interesse pelo fim da Guerra vai além do dia oito de maio e seu interesse por Schiller continuará existindo depois de nove de maio?

Livros com prazo de validade

O fetichismo por jubileus também pode se tornar um problema para as editoras. Afinal, o prazo de validade vence com rapidez, tornando os livros obsoletos. No caso do bicentenário da morte de Schiller, as publicações já vêm sendo comentadas com tanta insistência desde o anúncio ou lançamento a partir de outubro de 2004, que já não representam nada de novo no próprio ano do jubileu.

Faz tempo que o fenômeno da aceleração do mercado já afeta a indústria de livros. O mercado livreiro é movido por modas literárias de curta duração. As editoras estão permanentemente lançando autores de moda, para deixá-los cair no vazio logo em seguida, a fim de criar espaço para novos ídolos, nomes, títulos e heróis de jubileu.

A crescente velocidade dos lançamentos faz com que os títulos envelheçam numa rapidez proporcional. Mas quem sabe as editoras cheguem alguma hora à conclusão de que é necessário redescobrir a lentidão.

Sigrid Löffler (1942), crítica literária de ampla atuação na imprensa alemã e austríaca, participou até 2000 do extinto programa literário de TV Literarisches Quartett e fundou a revista Literaturen em 2001.