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PolíticaFrança

Luta pela presidência da França segue acirrada na reta final

Barbara Wesel
21 de abril de 2022

No duelo televisivo, Macron mostrou-se seguro como sempre, contra uma Le Pen mais bem preparada do que em 2017. Pesquisas dão vitória ao presidente, mas última palavra nas eleições presidenciais está longe de ser dada.

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Cartazes eleitorais de Emmanuel Macron e Marine Le Pen
Cartazes eleitorais de Emmanuel Macron e Marine Le Pen Foto: Pascal Duyot/AFP

Às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais da França, Emmanuel Macron apresenta uma dianteira bastante robusta: pesquisas de intenção de voto o mostram dez pontos percentuais à frente da adversária Marine Le Pen.

No entanto nem o chefe de Estado nem seus assessores têm motivo para se sentir seguros. A luta pelo Palácio do Eliseu segue sendo travada até o último momento, já que cerca de um terço dos eleitores franceses ainda não decidiu em quem votará.

Em relação ao debate televisivo desta quarta-feira (20/04), uma pergunta que pairava no ar era se a participação da candidata populista de direita seria tão terrivelmente constrangedora como em 2017. Contudo, do mesmo modo como, nos últimos anos, ela tem polido sua imagem pública e abrandado suas formulações, desta vez se apresentou para o duelo bem mais preparada.

Le Pen mais preparada do que em 2017

Ao longo de quase três horas, abordou-se praticamente de tudo: da política social e a reforma da aposentadoria à proibição do véu islâmico, passando pela Rússia, a guerra na Ucrânia e o meio ambiente.

Como era de se esperar, Macron mostrou-se sempre informado até os mínimos detalhes, e por várias vezes conseguiu desferir golpes fortes contra Le Pen. Por exemplo, ao afirmar que ela é dependente da Rússia, devido ao envolvimento de seu partido, o Reagrupamento Nacional (RN), com credores russos.

Também na política ambiental, ele desmascarou as ideias inconsistentes da candidata. Ela pretende, por exemplo, desmontar as turbinas eólicas, que estragariam a paisagem. Mas, se ela é contra as energias renováveis, de onde virá a eletricidade?, perguntou Macron, visivelmente irritado.

O presidente igualmente denunciou como injustas e inviáveis as propostas dela para limitar os preços da energia. Um dos golpes mais fortes foi em relação ao plano de banir o véu islâmico: desse modo, a França se tornaria o único país do mundo que quer proibir o porte de símbolos religiosos. Isso causaria uma guerra civil, afirmou Macron.

Por sua vez, Le Pen concentrou-se em suas propostas sociais, apontando um aumento da pobreza no país durante o mandato do centrista. Acima de tudo, fez promessas a todos: aposentados, assalariados que ganham pouco, estudantes, famílias, que por meio de subsídios ou redução de impostos passariam a ter mais dinheiro no bolso.

Tal discurso cai bem para muitos franceses, que durante toda a campanha eleitoral têm citado a queda do poder aquisitivo como sua maior preocupação. Qual eleitor se dispõe a considerar se tais benesses são sequer financiáveis?

O arrogante e a assustadora

No fim, Macron saiu como vencedor do duelo na TV – como confirmaram 59% dos espectadores consultados. Entretanto, a opinião unânime dos observadores é que tais debates não são decisivos para as urnas. "É uma espécie de mito", explica a politóloga Ariane Bogain, da Universidade de Northumberland, "mas é apenas um entre muitos fatores."

Em 2017, Le Pen não perdeu por causa de seu desempenho desastroso no debate, mas por confirmar a impressão de ser incompetente. Bernard Sanaes, do instituto de pesquisa de opinião Elabe, acrescenta que cada candidato revelou um sério ponto fraco: "Metade dos espectadores achou Emmanuel Macron arrogante. Para a outra metade, Marine Le Pen continua sendo amedrontadora."

O maior problema do atual mandatário é o seu sucesso em aniquilar os partidos tradicionais franceses. Mesmo cinco anos após o pleito que o colocou no Palácio do Eliseu, nem os conservadores nem os antigos socialistas se recuperaram do golpe fatal.

Todos eles ficaram abaixo de 10% no primeiro turno, não representando uma reserva de votos séria para o segundo. Apesar de artistas, sindicalistas e os ex-presidentes François Hollande e Nicolas Sarkozy terem conclamado a que se vote em Macron, nenhum tem o respaldo de legiões políticas.

Eleitorado de esquerda não é garantia para Macron

A única reserva considerável coube ao ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon, o qual, com 22% dos votos, quase conseguiu tomar de Le Pen o segundo lugar. No entanto, não é fácil para os simpatizantes de um socialismo linha dura decidir agora entre o centrista e a candidata de extrema direita. "Nem um, nem a outra", lia-se num cartaz na Universidade Sorbonne de Paris.

Embora após o fechamento das urnas Mélenchon tenha até instado o eleitorado a "não dar nenhum voto para a direita", ele não deu nenhuma sugestão direta de voto. Seus adeptos se mostram divididos: segundo as enquetes mais recentes, apenas 33% pretendem votar em Macron, enquanto uma maioria se abstém. Christophe Castaner, o chefe da bancada parlamentar do A República Em Marcha!, de Macron, advertiu os indecisos: "Não fazer uma escolha é como jogar roleta russa."

Tanto o centrista quanto a ultradireitista lutam pelo mesmo grupo eleitoral, afirma a cientista política Bogain: "Macron deu uma guinada decidida para a esquerda, e está certo, porque os conservadores tiveram um resultado tão ruim." Reconhece-se isso nitidamente na reforma da aposentadoria ou na política ambiental: "O fator decisivo serão os que não irão às urnas ou votarão em branco. E não só sua quantidade, mas também sua qualidade."

Macron será mais uma vez capaz de se conectar com eles por meio da velha ideia do "cordão sanitário", que até agora tem mantido os extremistas de direita de fora do governo francês? Será que haverá suficientes eleitores de esquerda dispostos a bater com o punho na mesa e – mais uma vez – marcar sua cruz ao lado do nome de Macron? Essas são perguntas que só o resultado das urnas neste domingo responderá.

Golpe de misericórdia para a União Europeia

Só quem olha por trás da parte sociopolítica das propostas de Marine Le Pen e analisa o cerne do programa partidário do RN, constata que, atrás da fachada moderada, o que continua havendo são planos ultradireitistas ou, no mínimo, populistas de direita.

Para a União Europeia, uma vitória de Le Pen poderá representar o golpe de misericórdia: da política econômica até a aceitação das leis europeias, passando pela migração, a posição dela é diametralmente oposta à do bloco, em sua forma atual. Seus planos estão tão distantes do consenso vigente que a França, segundo maior Estado-membro da UE, provavelmente implodiria a UE.

Também a política conjunta para a Rússia e a Ucrânia estaria em breve extinta, com consequências militares dramáticas para o futuro da Otan, já que a França é a única potência militar significativa da Europa. Quando, no debate da noite de quarta-feira, a candidata disse não ser contra a UE, mas querer uma diferente, Macron rebateu: "A Europa é como uma casa de propriedade conjunta", não se pode simplesmente reformá-la por conta própria.

Neste domingo, o eleitorado francês tem a escolha entre um político reformista moderado que, apesar das condições difíceis, é capaz de apresentar um balanço decente de seu primeiro mandato. Seu ponto fraco é o cheiro de arrogância e distância em relação aos cidadãos que ele traz impregnado.

Do outro lado, está uma política sem experiência de governo, que promete arrastar a França numa cavalgada selvagem em direção ao isolacionismo nacionalista, com consequências imprevisíveis. Como diz, a essa altura no cassino, o crupiê ao lado da roleta: "Faites vos jeux" – "Façam os seus jogos".