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França e aliados anunciam retirada de tropas do Mali

17 de fevereiro de 2022

Comunicado aponta "obstruções" por parte da junta militar maliana. Soldados franceses e aliados foram enviados ao Mali a partir de 2013 para combater terrorismo. Líderes africanos temem vácuo de poder após retirada.

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Soldados franceses no Mali
Cerca de 2.400 soldados franceses no Mali estão no MaliFoto: AP Photo/picture alliance

Após quase dez anos de luta contra militantes islamistas, França e aliados vão dar início à retirada imediata de suas tropas do Mali e prosseguir com o combate ao terrorismo em países vizinhos, segundo comunicado conjunto emitido nesta quinta-feira (17/02).

As relações entre os governos da França e do Mali se deterioraram desde que a junta militar à frente do país voltou atrás quanto a um acordo para organizar eleições em fevereiro, de modo a restabelecer um governo civil, e propôs se manter no poder até 2025.

O Ocidente também acusa o Mali de usar os serviços do controverso grupo mercenário russo Wagner para se fortalecer, aumentando a influência de Moscou na região. O presidente francês, Emmanuel Macron, acusou o Wagner de enviar mais de 800 combatentes ao país da África Ocidental em nome de seus próprios "interesses comerciais" e para apoiar a junta militar.

"Devido a múltiplas obstruções das autoridades de transição malinesas, o Canadá e os Estados europeus que atuam juntos na operação Barkhane e na força-tarefa Takuba consideram que não estão dadas as condições políticas, operacionais e legais para continuar efetivamente com seu atual engajamento militar na luta contra o terrorismo no Mali", diz o comunicado.

A declaração foi emitida por países que operam com a força antiterrorista Barkhane da França e a missão Takuba, que inclui cerca de 14 nações europeias. Os países "decidiram dar início à retirada coordenada do território malinês de seus respectivos recursos militares dedicados a essas operações".

A decisão se aplica tanto aos cerca de 2.400 franceses no Mali, onde Paris possui uma de suas maiores operações militares desde 2013, quanto a uma força europeia de algumas centenas de soldados, criada em 2020 com o objetivo de auxiliar as forças da França.

"Não podemos permanecer engajados militarmente ao lado de autoridades de fato de cuja estratégia e objetivos secretos não compartilhamos", afirmou Macron.

Insurgência jihadista

Os islamistas nunca foram de fato aplacados e, nos últimos anos, se reagruparam e vêm empreendendo uma insurgência cada vez mais sangrenta na região.

Sucessivos golpes no Mali, Chade e Burkina Faso – todas ex-colônias francesas – enfraqueceram as alianças da França na África Ocidental, fortaleceram jihadistas, que controlam vastas áreas, e abriram caminho para que a Rússia preenchesse o vácuo de poder.

Diplomatas advertem que a violência pode dar novo ímpeto à migração da África Ocidental para a Europa. Também ameaça as operações internacionais de mineração e a estabilidade em países que são parceiros estratégicos da França, como a Costa do Marfim e o Senegal. Há temores de uma nova investida jihadista no Golfo da Guiné.

Intervenção não foi em vão, diz Macron

O anúncio da saída das tropas do Mali foi feito num momento crítico para Macron, dias antes da anunciada candidatura do presidente à reeleição, no pleito de abril. A prioridade de Macron agora será assegurar que a retirada não renda comparações com a caótica saída dos EUA do Afeganistão, em 2021.

Macron negou que a intervenção tenha sido em vão: "O que teria acontecido em 2013, se a França tivesse escolhido não intervir? De certo teria ocorrido o colapso do Estado maliano", afirmou, elogiando a decisão de seu antecessor François Hollande de enviar tropas.

Mesmo após a retirada do Mali, os aliados prometeram continuar engajados na luta contra o terrorismo na região do Sahel, inclusive no Níger, que, segundo Macron, concordou em abrigar forças europeias, e também no Golfo da Guiné.

Macron alertou que, para a Al Qaeda e o grupo autodenominado "Estado Islâmico" (EI), a porção do Sahel localizada na África Ocidental e os países do Golfo da Guiné são uma prioridade em sua estratégia de expansão.

Temores de vácuo

Ao lado de Macron, o presidente senegalês, Macky Sall, afirmou que lutar contra o terrorismo no Sahel não pode ser uma tarefa apenas de países africanos. O chefe de Estado da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, afirmou na quarta-feira que a retirada francesa criaria um vácuo.

No total, cerca de 25 mil militares estrangeiros estão atualmente na porção do Sahel localizada na África Ocidental, entre eles 4.300 soldados franceses.

No Mali, há ainda a missão de paz da ONU chamada Minusma, estabelecida em 2013, e a EUTM Mali, uma missão de treinamento da União Europeia com o objetivo de aumentar a capacidade militar malinesa de combater terroristas.

Sem dar detalhes, Macron disse que a França seguirá dando apoio à Minusma após a retirada das tropas francesas do Mali. Mas o recuo de Paris poderá abrir caminho para outras potências europeias, como Alemanha ou Reino Unido, abandonarem seus papéis em missões multinacionais.

lf/av (AFP, Reuters, Lusa)