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Extremismo leva líder da AfD a deixar o partido

28 de janeiro de 2022

Há anos no comando da legenda populista de direita, Jörg Meuthen lamenta não ter conseguido conter as facções radicais. Ele questiona os princípios democráticos da agremiação, dizendo ver “ecos de totalitarismo”.

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Ex-líder da AfD Jörg Meuthen
Jörg Meuthen, de 60 anos, se disse insatisfeito com as alas mais à direita da AfDFoto: Revierfoto/dpa/picture alliance

O copresidente do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) Jörg Meuthen anunciou nesta sexta-feira (28/01) que, além de deixar a liderança, ele também sairá da legenda.

O político de 60 anos se disse insatisfeito com a ala mais à direita da AfD, e questionou a solidez dos princípios democráticos da agremiação. "O coração do partido bate muito mais à direita hoje em dia, permanentemente em nível elevado”, afirmou em entrevista à emissora pública ARD. "Vejo claramente ecos totalitários lá dentro.”

O ex-professor de economia, que já havia dito que deixaria a liderança da AfD, é visto como um moderado, em comparação às demais facções internas. Eleito como um dos líderes do partido em 2015, ele disse que pretende manter sua vaga no Parlamento Europeu, e que já está em conversação com outras legendas, sem, no entanto, revelar quais seriam.

Há tempos Meuthen se via na contramão em relação a grande parte das posições adotadas pela AfD. Nos últimos dois anos,  insistiu diversas vezes que o partido deveria adotar uma postura menos radical. Dessa forma, passou a colecionar inimigos, especialmente no movimento de extrema direita encabeçado pelo líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke.

Jörg Meuthen (esq.) ao lado dos líderes da AfD Tino Chrupalla e Alice Weidel
Jörg Meuthen (esq.) ao lado dos líderes da AfD Tino Chrupalla e Alice WeidelFoto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance

"Seita" contra medidas antipandemia

Seu relacionamento com os líderes da bancada do partido no Bundestag (câmara baixa do parlamento alemão), Alice Weidel e Tino Chrupalla, com quem dividia a liderança da legenda, também era bastante tenso, pois ambos vêm apoiando as facções mais radicais.

Meuthen disse que consegue imaginar um futuro para a AfD somente como uma força política regional em seus redutos no Leste da Alemanha. Para ele, o partido se tornou uma espécie de "seita”, no tocante às políticas relacionadas à pandemia de covid-19.

A Alemanha atravessa uma onda de protestos, às vezes violentos, contra as políticas do governo de combater o coronavírus nos últimos 18 meses. Os manifestantes se caracterizam pela oposição à vacinação e pelo negacionismo da pandemia. Segundo as agências de inteligência do país, a extrema direita estaria por trás desse movimento.

A direção do partido reagiu com frieza à decisão de seu colíder. Em nota, o partido se limitou a agradecer Meuthen pelo "desenvolvimento da AfD como o único partido de oposição na Alemanha".

Polícia reprime manifestantes com jato de água em Berlim. Extrema direita estaria por trás dos protestos contra políticas do governo de combate à pandemia
Extrema direita estaria por trás dos protestos contra políticas do governo de combate à pandemiaFoto: Abdulhamid Hosbas/AA/picture alliance

Alice Weidel, porém, adotou um tom mais crítico. Em entrevista aos jornais Stuttgarter Nachrichten e Stuttgarter Zeitung, ela acusou Meuthen de "jogar lama no partido que presidiu durante tanto tempo”. Isso, segundo a deputada, "não condiz com a qualidade de seu caráter”.

Para Weidel, a renúncia de Meuthen poderia estar ligada aos planos de remover sua imunidade como membro do Parlamento Europeu, em razão de um escândalo envolvendo doações ilegais para o partido.

Nesta quinta-feira, o Comitê de Assuntos Jurídicos do Europarlamento votou pela remoção da imunidade, o que reforça a possibilidade de promotores públicos de Berlim abrirem uma investigação sobre o caso.

Em 2021, a AfD teve de pagar 500 mil euros (em torno de 3 milhões de reais) em multas por ter aceitado doações de um bilionário suíço, três anos antes.

rc/av (AFP, DPA, Reuters)