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Diretor brasileiro encena eletro-ópera em Berlim

Carlos Albuquerque16 de agosto de 2006

Por que não ir além das fronteiras do repertório tradicional da ópera? A resposta dos diretores Marcelo Buscaino e Heidi Mottl é a eletro-ópera "48 horas", a estrear em importante endereço da música eletrônica de Berlim.

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Drama: '48 horas' retoma argumento de filme de Martin ScorseseFoto: Afterhours

"Em um café após o expediente, o programador Paul conhece acidentalmente Marcy. Deste encontro nasce uma viagem pelo mundo noturno de bares, clubes e moradias, onde o programador vivencia os rituais mais esdrúxulos entre um grupo de pessoas à procura de um momento de prazer fugidio."

O argumento do filme After hours (48 horas), de 1985, do cineasta norte-americano Martin Scorsese inspirou a montagem da eletro-ópera homônima, com libreto, direção e produção do brasileiro Marcelo Buscaino e da alemã Heidi Mottl e música de Klaus Janek, cuja pré-estréia será realizada no dia 25/08, no Clube Berghain, em Berlim. Segundo os diretores, trata-se de um argumento que não perdeu nada em atualidade como retrato da vida nas grandes cidades.

O clássico encontra o elétrico

Como assistente de direção da Deutsche Oper, o gaúcho Marcelo Buscaino já trabalhou com diretores como Völker Schlöndorff e Sebastian Baumgarten. Encenações não convencionais, como a da ópera Die Flut (A enchente), de Boris Blacher, em uma piscina, já trouxeram reconhecimento internacional ao trabalho da diretora alemã Heidi Mottl.

Afterhours
Marcelo Buscaino e Heidi MottlFoto: Afterhours

Marcelo Buscaino e Heidl Mottl trabalham juntos pela primeira vez neste projeto, onde têm a oportunidade de dividir sua paixão pela ópera e pela música eletrônica.

"Para nós, é absolutamente incompreensível por que em Berlim, onde tão diferentes aspectos do mundo artístico se tangenciam, a coexistência do clássico e do eletrônico não é mais explorada. Queremos preencher esta evidente lacuna e desenvolver uma forma completamente nova do teatro-música", explicam os diretores.

48 horas tem como compositor Klaus Janek, autor de música para teatro e cinema, especializado em composições de vanguarda e pesquisas sonoras em contrabaixo. "Através de características fundamentais da música eletrônica, como o ritmo pulsante, os tons subliminares, a repetição minimalista de motivos e vocalises, queremos desenvolver uma linguagem dramática musical propícia para a transmissão do enredo e da atmosfera da história", acrescentam os diretores.

Com a encenação de 48 horas, os diretores procuram preencher a lacuna da coexistência da música clássica com o mundo do tecno. "No passado, já houve várias tentativas de embutir peças de música tecno em obras de música clássica; ousamos dar um salto mais alto e realizar uma ópera completamente originada da música eletrônica", afirmam Buscaino e Mottl.

O lugar e o desejo

Afterhours
O público poderá conhecer o BerghainFoto: Afterhours

"Na nossa produção, o espectador deve mergulhar como um voyeur em um mundo paralelo", afirmam os produtores. Como cenário, nada melhor do que um local único na capital alemã: o Clube Berghain.

Apesar de estar a apenas dez minutos da estação ferroviária Ostbahnhof, o local é de difícil acesso, já que não é a todos que os porteiros do Berghain permitem a entrada.

Localizado no prédio de uma antiga usina de eletricidade, hoje tombado pelo patrimônio histórico, o Berghain, apesar de pouco divulgado, é um clube badalado da cena eletrônica atual. Com um pé-direito de mais de 20 metros de altura, diversos bares, labirintos, clubes e uma impressionante escadaria solta no meio da pista principal, o clube celebra festas que podem durar até 48 horas nos finais de semana.

É a primeira vez que o Berghain abre as suas portas para uma apresentação teatral. O público terá assim a chance de conhecer a atmosfera do exclusivo clube e acompanhar o passeio noturno do programador Paul pelos bares, labirintos e quartos escuros do Berghain.

Em entrevista à DW-WORLD, o diretor Marcelo Buscaino afirmou que o tema principal e o que impulsiona 48 horas é o "desejo". Nada como um prédio de uma usina de força para encená-lo.