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Literatura latino-americana

5 de setembro de 2007

Escritores consagrados e novos autores latino-americanos, como o brasileiro Ferréz, participam do Festival de Literatura de Berlim, que vai até o dia 16 de setembro.

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Isabel Allende com o símbolo do Festival de Berlim: a vírgula.Foto: Lori Barra

A América Latina volta a ocupar este ano um lugar de destaque na agenda cultural de Berlim. O 7º Festival Internacional de Literatura da capital alemã, que se iniciou nesta terça-feira (04/09), terá o continente como tema central, com mais de 20 autores convidados e um grande número de atividades.

Estarão presentes nomes destacados da literatura latino-americana, como a escritora chilena Isabel Allende e o novelista peruano Mario Vargas Llosa, que vão ler passagens de suas mais recentes obras: Inés del alma mía e Las travesuras de la niña mala, respectivamente.

Além do realismo mágico

A escolha da América Latina não é por acaso, assegurou à DW-WORLD o diretor do Festival Internacional de Berlim, Ulrich Schreiber. "Vinte e cinco anos depois do grande festival cultural Horizonte 82, dedicado à América Latina, já é hora de observar como o continente mudou", disse Schreiber, destacando que muita coisa aconteceu neste tempo, como o retorno das democracias e o surgimento do Mercosul.

Os temas que serão abordados no festival certamente excedem as margens fomais da literatura. Grandes cidades, o status social das mulheres e outros aspectos da realidade latino-americana estarão presentes nas discussões. Mas também na área estritamente literária há assuntos que serão colocados em dia. Entre eles está o desenvolvimento da literatura latino-americana depois do realismo mágico.

A responsável por literatura latino-americana da editora Suhrkamp, Michi Strausfeld, lembra que quando se fala de América Latina e sua literatura, muita gente pensa imediatamente em realismo mágico. "Mas há bastante tempo que isso ficou para trás e os autores mais jovens escrevem de maneira diferente. Cresceram de outra forma, em cidades com milhões de habitantes, onde a violência está presente todos os dias."

América Latina: quase esquecida

Mario Vargas Llosa
Mario Vargas Llosa é um dos convidados do festivalFoto: AP

"Na Alemanha, a América Latina tem sido o continente esquecido nos últimos tempos", lembra Schreiber. Ele atribui isso, entre outras coisas, ao atraso provocado pelas longas ditaduras e também aos problemas econômicos da região. E explica que os organizadores do festival querem fazer algo para reverter a tendência dos anos passados. "Nós somos anticíclicos", aponta, explicando que o evento pode ser entendido como uma contra-corrente.

A intenção é despertar um maior interesse pela América Latina e sua literatura. A partir de 5 de setembro, o festival de Berlim dará aos visitantes a oportunidade de se aproximar de um continente em pleno desenvolvimento, que pouco a pouco volta a chamar a atenção. Assim esperam os organizadores, que calculam atrair um público de 30 mil pessoas.

Escritor da nova geração representa o Brasil

O brasileiro que participará do festival no dia 8 de setembro é o escritor Reginaldo Ferreira da Silva, de 32 anos, conhecido como Ferréz, que começou a escrever raps e poemas aos 7 anos de idade. Compositor de hip hop envolvido em trabalhos sociais em Capão Redondo, bairro da periferia de São Paulo onde mora, ele é um dos nomes mais importantes da chamada literatura marginal do Brasil.

O paulistano afirma que não consegue desvincular realidade de literatura e acha que o escritor deve estar presente na comunidade. Ele conta que nunca se separou dos livros, mesmo que tivesse que pegar duas conduções até a biblioteca mais próxima para tomar emprestadas as obras de seus autores preferidos: Dostoievski, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.

Entre as obras de Ferréz estão Capão Pecado (2000), Manual Prático do Ódio (2003), Amanhecer Esmeralda (2005) e Ninguém é Inocente em São Paulo (2006).

"As pessoas se esquecem que existe gente de periferia em todos os lugares. O cara faz o almoço dele, varre a porta dele, abre o condomínio dele. As pessoas da elite têm muita sorte que a gente é honesto", diz Ferréz. (ak)