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ReligiãoAlemanha

Alemanha não aceitará mais imãs enviados da Turquia

15 de dezembro de 2023

Para estimular integração e diminuir influência estrangeira, Alemanha quer treinar localmente líderes religiosos. Questão dos imãs conservadores vindos da Turquia vinha gerando tensão entre Berlim e o governo Erdogan.

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Dentro de uma mesquita na Alemanha, um imã lidera o culto
Islamismo na Alemanha: o país tem cerca de 2500 mesquitasFoto: Christoph Reichwein/dpa/picture alliance

A Alemanha pretende finalizar o programa que envia imãs turcos para mesquitas alemãs. O país europeu pretende treinar mais líderes religiosos islâmicos localmente para dar fim ao intercâmbio gradativamente e assim incentivar a integração, anunciou o Ministério do Interior alemão, nesta quinta-feira. 

De acordo com o novo acordo entre o ministério, a autoridade religiosa turca Diyanet e a DITIB, união turco-islâmica controlada pelo governo da Turquia e de caráter conservador, cerca de 100 imãs serão treinados a cada ano na cidade de Dahlem, no oeste do país.

A iniciativa tenta reduzir a influência de governos estrangeiros, devido ao grande número de líderes religiosos islâmicos que vêm do exterior. A ideia é substituir pouco a pouco os cerca de mil imãs treinados e empregados pela autoridade religiosa turca Diyanet.

"Precisamos de líderes religiosos que falem nosso idioma, conheçam nosso país e defendam nossos valores", disse a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, em comunicado.

"Queremos que os imãs se envolvam no diálogo entre as religiões e discutam questões de fé em nossa sociedade", disse Faeser.

Colégio Islâmico da Alemanha

A Alemanha criou sua própria escola de treinamento para imãs há quatro anos. Em setembro, vinte e quatro muçulmanos de todo o país se formaram imãs – líder que coordena as orações coletivas do islamismo, além de ser liderança religiosa e secular entre os xiitas – no Colégio Islâmico da Alemanha, em Osnabrück.

Segundo dados da Conferência Islâmica Alemã, há cerca de 5,5 milhões de muçulmanos vivendo na Alemanha, ou seja, aproximadamente 6,6% da população. "Esse é um marco importante para a integração e participação das comunidades muçulmanas", disse Faeser.

A Alemanha tem cerca de 2.500 mesquitas, 900 das quais são gerenciadas pela DITIB. Uma "filial" da presidência para  assuntos religiosos em Ancara, a DITIB é a maior associação islâmica da Alemanha e tem sido acusada de agir como uma braço do governo autocrático da Turquia.

Talibã discursou em mesquita de Colônia

A última controvérsia da DITIB ocorreu quando um líder do Talibã afegão discursou em uma das mesquitas da organização na cidade de Colônia, mês passado. 

Mesquita na cidade de Colônia, na Alemanha. Muita gente reunida para comemorar a Festa do açúcar: o "Natal dos turcos"
A mesquita central de Colônia na Festa do açúcar: o "Natal dos turcos"Foto: Mesut Zeyrek/AA/picture alliance

Em 2017, as autoridades alemãs pediram que a DITIB realizasse reformas fundamentais após alegações de que imãs enviados pela Diyanet haviam espionado em nome de Ancara, aproveitando o golpe fracassado contra o governo do presidente turco Recep Tayyip Erdogan. A Diyanet negou qualquer envolvimento e a investigação foi encerrada sem nenhuma acusação.

Envio de imãs era para ser provisório

O fato de a autoridade religiosa em Ancara enviar líderes religiosos da Turquia para a Alemanha por décadas e também pagá-los se deve à história dos chamados "trabalhadores convidados". Eles vieram para a Alemanha entre 1961 e 1973 sob um acordo de recrutamento de mão de obra. Como a intenção original era que ficassem em caráter provisório, a prática de enviar imãs da Turquia era vista como normal.

A ex-chanceler federal Angela Merkel falou pela primeira vez a favor do treinamento de imãs  na Alemanha em 2018, argumentando ao parlamento que isso "nos tornará mais independentes e é necessário para o futuro".

(dpa, rtr, afp)

Construção de mesquita reaviva debate sobre islã na Alemanha