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AfD desliga assessor que foi a reunião sobre "remigração"

15 de janeiro de 2024

Sigla alemã de ultradireita tenta se distanciar de encontro no qual extremista apresentou plano para deportação em massa de imigrantes. Tema provocou indignação no país e protestos em diversas cidades.

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Alice Weidel caminhando ao lado de Roland Hartwig
Alice Weidel (esq.), colíder da AfD, ao lado do seu agora ex-assessor Roland Hartwig, em foto de 2020Foto: Carsten Koall/dpa/picture alliance

O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) anunciou nesta segunda-feira (15/01) que encerrou o contrato de trabalho com um assessor que participou de uma reunião na qual um líder extremista austríaco apresentou um plano para realizar deportações em massa de imigrantes.

A reunião ocorreu em novembro, mas veio a público somente na última semana e provocou indignação na Alemanha. No domingo, dezenas de milhares de pessoas participaram de atos contra a AfD em cidades do país. O protesto em Potsdam contou com a participação do chanceler federal Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), e da ministra do Exterior, Annalena Baerbock, do Partido Verde.

O funcionário desligado é Roland Hartwig, que era assessor da colíder da AfD, Alice Weidel. Um porta-voz da sigla afirmou que ele e o partido decidiram encerrar seu contrato de trabalho "por mútuo acordo" e com efeito imediato, sem informar detalhes. O desfecho foi comunicado após uma reunião da executiva federal do partido em Berlim.

Hartwig era considerado braço direito de Weidel, e exerceu mandato como parlamentar do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) de 2017 a 2021, pela AfD.

"Remigração"

O referido encontro ocorreu em um hotel perto da cidade de Potsdam, no estado de Brandemburgo, reuniu políticos, advogados, empresários, médicos e dentistas, entre outros, e foi revelado na semana passada pelo veículo de jornalismo investigativo Correctiv.

A reportagem informou que Martin Sellner, que lidera o Movimento Identitário Áustria (IBÖ), apresentou aos presentes um plano para levar da Alemanha para o norte de África até dois milhões de requerentes de refúgio e imigrantes, incluindo aqueles com cidadania alemã que não se integraram no país.

Ele também teria sugerido que, quando a AfD chegasse ao poder, o maior "problema" para o partido seria a expulsão de "cidadãos não assimilados". Segundo o Correctiv, um dos participantes da AfD alegou que o partido já não se opõe à dupla cidadania, pois "pode-se então tirar a alemã e eles ainda terão uma".

Sellner confirmou a presença no encontro. "Apresentei ali o meu livro e o conceito identitário de remigração", ressaltou, usando uma expressão que normalmente a extrema direita usa para falar em deportação de imigrantes para seu país de origem. A palavra também já foi usada em algumas ocasiões por membros da própria AfD.

Nesta segunda-feira, "remigração" foi escolhida a pior palavra de 2023 na Alemanha, anunciou o júri da Unwort des Jahres ("despalavra do ano").

AfD se distancia

O líder da bancada da AfD no estado da Saxônia-Anhalt, Ulrich Siegmund, confirmou que esteve presente no evento, mas como pessoa física e não na qualidade de membro do parlamento estadual pelo partido de ultradireita.

A sigla também havia afirmado que Hartwig esteve no encontro para apresentar um projeto de mídia social e que não tinha conhecimento prévio de que o tema de deportação seria tratado. Além de Siegmund e Hartwig, estava no encontro Gerrit Huy, um membro da AfD com assento no Bundestag.

A sigla de ultradireita sublinhou que Hartwig não "trouxe as ideias de Sellner sobre políticas de migração" para o partido e que "não mudaria as suas políticas de imigração com base nas ideias individuais de uma pessoa presente na reunião". A AfD também ressaltou que não era a organizadora do evento, que tinha caráter privado. 

Criada em 2013 como um grupo eurocético antes de se transformar num partido anti-imigração, a AfD entrou no Parlamento alemão pela primeira vez em 2017, na onda do descontentamento de parte da população com um enorme afluxo de migrantes, muitos deles fugindo das guerras na Síria e no Iraque.

O apoio ao partido caiu para cerca de 10% nas eleições de 2021, mas desde então a sigla recuperou terreno enquanto a coalizão liderada por Scholz luta com uma crise energética e uma economia em dificuldades na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia.

A AfD atualmente figura como o segundo partido mais popular nas pesquisas nacionais, com mais de 20% das intenções de votos. Sondagens em três estados que terão eleições em setembro deste ano – Turíngia, Saxônia e Brandemburgo, os três no leste do país – chegam a mostrar a AfD como favorita, apoiada por mais de 30% dos eleitores.

A sigla tem uma parcela de suas estruturas sob observação da inteligência alemã por suspeita fundamentada de afronta à Constituição e à ordem democrática alemã, e o plano sobre deportações reacendeu o debate sobre uma eventual proibição da AfD.

De acordo com o Correctiv, dois membros da União Democrata Cristã (CDU) também estavam no encontro. A legenda disse que investiga o caso e nega que eles tenham ido ao evento em nome do partido.  

bl (ots, DW)