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Adorno em imagens

Soraia Vilela17 de novembro de 2003

"A Possibilidade do Impossível" reúne em Frankfurt obras consideradas pontes entre as artes plásticas e a obra do filósofo Theodor W. Adorno.

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"Capital Melancolia", de Henrik Plenge JakobsenFoto: AP

No ímpeto de celebrar de todas as formas possíveis o centenário do autor de Teoria Estética, a Alemanha oferece a leigos e especialistas não apenas uma avalanche de biografias e discussões acadêmicas sobre Adorno, mas vai ainda além. Procura-se no país documentar a relação do ilustre filho de Frankfurt com a cidade e, last but not least, ilustrar sua teoria através de exemplos colhidos na história da arte.

Os curadores da exposição Adorno. A Possibilidade do Impossível, que acontece no Kunstverein, em Frankfurt, não admitem este propósito (o de querer "ilustrar" a obra do filósofo), alegando que esta postura iria abolir o caráter de "complexidade e radicalismo" da obra de arte - vista por Adorno como um dos últimos espaços "utópicos", uma espécie de antítese à sociedade de consumo e à reprodutibilidade do real.

Imagens a serviço da teoria

Adorno Ausstellung im Frankfurter Kunstverein, Monk
High School Boogie-Woogie, de Jonathan MonkFoto: Frankfurter Kunstverein

Apesar de poder ser associado ao pensamento do filósofo, o conjunto de obras reunidas - algumas criadas excepcionalmente para a exposição e outras recolhidas do universo da arte das últimas décadas - acaba por fazer jus ao título da mostra: está ali para desempenhar uma tarefa de antemão impossível - a de colocar imagens a serviço da teoria de Adorno. E isso a qualquer preço.

Se em alguns casos o "parentesco" com o filósofo é óbvio, em outros é necessário muito esforço e reflexão para acompanhar o que terá passado pelas cabeças dos curadores. Talvez exatamente por isso a mostra seja ilustrada - em um processo inverso - por frases de Adorno estampadas nas paredes.

Uma espécie de "manual de instruções" coloca as obras expostas ao lado de frases do filósofo, prevenindo assim qualquer espécie de crítica que venha a apontar os artifícios por que tenham apelado os curadores. Afinal, questionar o que terá esta ou aquela instalação a ver com a obra de Adorno opõe-se de antemão ao que defende o filósofo, que via na autonomia da arte, em seu espaço livre para utopias, seu sentido.

Exaustão e negação

Adorno Ausstellung im Frankfurter Kunstverein
Quad I e II, de Samuel BeckettFoto: Adorno Ausstellung

Já na entrada do espaço, a agonia da peça para televisão de Samuel Beckett Quad I & II (1982) tira o fôlego e alerta para a densidade do universo de Adorno. Quatro figuras anônimas e sem rosto correm com extrema precisão de um lado para outro dentro de um quadrado. Coreografias repetidas com mínimas variações, combinadas ad infinitum.

Serve aqui a ode beckettiana à exaustão - que o francês Gilles Deleuze via como o cerne da obra de Beckett - como uma homenagem à amizade entre o escritor irlandês e o filósofo alemão? Entre a busca infindável do nada (Beckett) e a negação inerente a Adorno?

Atualidade do pensamento

Se a proximidade entre a peça de Beckett e o espírito adorniano é compreensível, algumas obras mais parecem preencher um vácuo de associações necessárias para compor a exposição. É o caso, por exemplo, das 6 Garrafas de Água Mineral/ 7 Copos (1995), de Maria Eichhorn, colocada ao lado da citação de Teoria Estética: "Verdadeiro é apenas aquilo que não combina com este mundo".

Se a intenção dos curadores não foi a de ilustrar, mas a de provar "a atualidade do pensamento de Adorno", esta já havia ficado nítida nas inúmeras comemorações por ocasião de seu centenário. E se o Kunstverein de Frankfurt surge como a única instituição que celebrou os cem anos do filósofo sob a perspectiva das artes plásticas, talvez seja porque as teorias de Adorno mereçam uma reflexão mais profunda do que aquela que propõem as paredes de um museu.