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A interminável controvérsia do Monumento da Unidade Alemã

Stefan Dege
3 de outubro de 2023

Alvo de intensos debates políticos e criticado por seu design e custos, memorial para celebrar a reunificação da Alemanha no centro de Berlim ainda está longe de sair do papel.

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Modelo do monumento da Reunificação
Modelo do monumento da ReunificaçãoFoto: Milla & Partner

O dia 3 de outubro marca o Dia da Unidade Alemã. A data anual celebra a reunificação pacífica do país, há 33 anos. Mas ainda falta um monumento para marcar este acontecimento histórico. Planos não faltam. O chamado Monumento à Liberdade e à Unidade, deveria ter sido inaugurado em 2019, no 30º aniversário da reunificação da Alemanha. Mas debates políticos, obstáculos burocráticos, preocupações com segurança e falta de financiamento transformaram a obra em uma novela interminável.

Quatro anos depois – embora a construção esteja em andamento desde maio de 2020 – as coisas não parecem muito melhores.

A base histórica em frente ao Fórum Humboldt, onde ficava o Palácio da Cidade de Berlim, está quase concluída, confirmou o escritório de design Milla & Partner, à DW.

Já a obra, uma espécie de "concha transitável", que foi escolhida como projeto vencedor na competição de 2011, também popularmente conhecida como "Einheitswippe" (gangorra da unidade), também registrou alguns avanços tímidos. Segundo o Milla & Partner, os 32 segmentos de aço do monumento estão atualmente estocados em uma área de produção na Renânia do Norte-Vestfália para serem transportados para Berlim.

Mas o progresso acaba por aí. Já são esperados novos atrasos.

"O Monumento à Liberdade e à Unidade não será concluído este ano", confirmou o diretor criativo Sebastian Letz. "Elaboramos um plano para implementação em 2024 e o comunicamos ao Comissário de Cultura e Cultura de Mídia há algum tempo." Agora cabe à chefe da entidade estatal que está desenvolvendo o projeto, a comissária para a Cultura, Claudia Roth, tomar o próximo passo.

"Todos os envolvidos estão tentando garantir que o monumento seja concluído rapidamente", disse um porta-voz da comissária à DW.

No final das contas, somente a agência de consultoria criativa Milla & Partner, de Stuttgart, pode determinar a data de inauguração: "De acordo com o empreiteiro, há atualmente atrasos na construção devido a dificuldades com um subempreiteiro no setor de construção de aço", explicou o porta-voz da comissária da cultura.

Aumento dos custos

Um novo aumento nos custos também é esperado. O monumento foi originalmente planejado para custar 15 milhões de euros (R$ 80 milhões), uma estimativa que posteriormente subiu para 17 milhões de euros. Agora, o projeto pode ficar ainda mais caro, prevê o escritor e ex-ativista dos direitos civis Andreas Apelt, da associação Sociedade Alemã.

O projeto do monumento foi iniciado em 1998 por Günter Nooke, um ativista dos direitos civis da antiga Alemanha Oriental; Florian Mausbach, ex-presidente do Departamento Federal de Construção e Planejamento Regional; o jornalista Jürgen Engert; e Lothar De Maizière, que foi o chefe do primeiro governo democraticamente eleito da Alemanha Oriental.

A ideia deles por trás do monumento era homenagear o "sentimento de libertação, a felicidade histórica e as lágrimas de alegria provocadas pela queda do Muro de Berlim".

Em 2007, o Parlamento alemão (Bundestag) decidiu construir o monumento, que seria financiado por fundos federais. Mas então começaram as brigas políticas - e o comitê de orçamento parlamentar bloqueou temporariamente o financiamento.

Os oponentes do projeto questionaram o simbolismo do monumento.

Finalmente, uma segunda resolução do Bundestag em 2017 selou o projeto. A cerimônia de lançamento da pedra fundamental ocorreu em 2020.

Desde então, a área em frente ao Fórum Humboldt, já concluído e agora inaugurado, no distrito de Mitte, em Berlim, virou um canteiro de obras.

A construção da concha para pedestres do design "Cidadãos em Movimento" deve medir 50 por 18 metros. Se mais pessoas se deslocarem para um lado, de acordo com o plano, a escala será inclinada de acordo. Como em 1989, as pessoas teriam que chegar a um entendimento e decidir agir em conjunto para fazer a diferença.

A curvatura da tigela deve formar algo parecido com um palco, estampado com o slogan dos manifestantes de 1989 em grandes letras douradas: "Wir sind das Volk. Wir sind ein Volk" (Nós somos o povo. Nós somos um só povo).

Os críticos do projeto descreveram o design como "polticamente kitsch" ou uma "metáfora fraca", enquanto outros elogiaram o "forte simbolismo" do monumento.

A combinação dos termos "liberdade e unidade" também atraiu críticas porque os manifestantes na Alemanha Oriental haviam se manifestado pela liberdade, mas não consistentemente pela reunificação da Alemanha.

"Consenso cada vez mais difícil"

"Que tipo de unidade está sendo celebrada?", pergunta Annette Ahme, da associação Historische Mitte. A adesão incondicional da República Democrática Alemã à República Federal da Alemanha, sem um debate constitucional, foi um erro, avalia ela à DW, e o processo de unificação entre o Leste e o Oeste fracassou desde então. "E um monumento deve santificar isso agora?"

Olaf Zimmermann, diretor executivo do Conselho Cultural Alemão, acredita que falta apoio da sociedade para o monumento, cujo simbolismo de gangorra ele considera "não mais condizente com os tempos".

Por que o projeto do monumento foi adiado por tanto tempo? "Isso", diz Zimmermann, "é porque, no fim das contas, ninguém o quer". Ele também está "cada vez mais incerto" sobre se alguém ainda precisa do monumento, dadas as "crescentes tensões" entre o leste e o oeste da Alemanha.

"A unidade foi um golpe de sorte na história"

Hendrik Berth, professor de psicologia e pesquisador da Universidade Técnica de Dresden, aponta para as diferentes maneiras como os alemães orientais e ocidentais veem uma nação unificada. "Talvez um memorial devesse ter sido erguido rapidamente em 1991 ou 1992", ele especula. "Quanto mais tempo leva, mais difícil se torna encontrar algo que possa, mesmo que remotamente, encontrar algum consenso." Ele afirma que é improvável que o monumento à unidade tenha um efeito duradouro.

Aos olhos de Andreas Apelt, ex-ativista dos direitos civis da antiga Alemanha Oriental, a reconciliação do Leste e do Oeste é inevitável. "A reunificação foi um golpe de sorte na história", argumenta ele, acrescentando que, afinal, os manifestantes conseguiram derrubar uma ditadura. "Temos que manter esse ímpeto daquela época, com todo o otimismo."