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Somália: População solidária com quem passa fome

25 de julho de 2011

A fome no Corno de África assume proporções cada vez mais graves. Na Somália, a população mostra-se solidária com aqueles que não tem o que comer, mesmo que tenha de fazer grandes sacrifícios para ajudar quem sofre.

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São longas as filas de quem espera por alimentos na SomáliaFoto: dapd

Por toda a Somália, a população tem doado dinheiro, comida e roupas para ajudar os mais afetados pela fome. Em todas as mesquitas estão a ser recolhidos bens para aqueles que fugiram para Mogadíscio, a capital da Somália, antes da fome. E até aqueles que vivem na pobreza partilham o pouco que têm.

Há até quem doa metade do seu salário, como fez o pessoal da organização somali DBG, que em português significa “Ajuda para todos”. Os trabalhadores da organização já conseguiram juntar cerca de onze mil euros, o suficiente para alimentar cerca de 1.200 famílias durante cinco dias.

Num pequeno espaço entre edifícios bombardeados de Mogadíscio, em fogueiras a céu aberto, os voluntários cozinham arroz e carne de cabra perante centenas de pessoas. “Sinto pena das pessoas. Quando vejo algumas das crianças, penso sempre nos meus próprios filhos”, conta Abdi Hassan Hamud, que ajuda na distribuição de alimentos.

Os próprios voluntários decidiram que agora só vão comer uma vez por dia. “Há tantas pessoas que estão pior do que nós, que não têm sequer uma refeição por dia”, explica Sharifa Abukar Omar, responsável pela gestão e comunicação da DBG. “Já não se pode comer como antes e encher o estômago, enquanto ao nosso lado há pessoas a morrer de fome”, sublinha a jovem de 26 anos.

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A população tem doado comida, dinheiro e roupas para ajudar os mais afetados pela fomeFoto: dapd

“Presentes” para os refugiados

Uma refeição que inclua carne é um grande “presente” para Sheikh Sharifo, recém-chegada à capital da Somália com as suas duas filhas. O seu filho Ibrahim, de 12 anos de idade, morreu de fome em casa, na região de Bakool. Desde então tem andado a pedir pelas ruas. “A maioria daqueles a quem pedimos também não têm muito”, diz Sheikh Sharifo, que nos últimos dias tem vivido sobretudo de chá.

Além de arroz e de cabras, os trabalhadores da organização somali DBG compraram 1.200 lonas para o alojamento temporário de refugiados. Outro grande “presente”, uma vez que a chuva, que esteve ausente por muitos meses, tem agora caído em Mogadíscio, piorando a situação das pessoas enfraquecidas pela fome.

A DBG espera agora que os grandes doadores enviem mais dinheiro para o combate à fome na Somália, afirma Abdi Hassan Hamud. Enquanto isso, decidiram começar já a ajudar a população e fazer algo pelo seu próprio povo.


Até os mais pobres ajudam

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Há cada vez mais refugiados com fome a chegar a MogadíscioFoto: AP


A ajuda à população somali que passa fome chega de vários quadrantes da sociedade. Até aqueles que vivem na pobreza estão dispostos a compartilhar o pouco que há. É o caso de Ali Musa Elmi, que se refugiou em Mogadíscio há vinte anos atrás. Desde então, tem vivido numa tenda improvisada como as que estão agora a ser construídas para os recém-chegados.

Quando Ali Musa Elmi viu os milhares de pessoas que começaram a chegar a Mogadíscio, a pé e em camiões, decidiu mostrar a algumas famílias onde ficam as barracas de comida. Ele próprio e a sua família dependem da ajuda que é fornecida aí, uma vez que perdeu o seu emprego como carregador no maior mercado da cidade.


“É claro que há agora mais concorrência para o pouco que há, mas é claro que vamos ajudar os recém-chegados. Agora que as pessoas mais precisam de ajuda, devemos compartilhar”, confessa.


Autoras: Bettina Rühl/Madalena Sampaio

Edição: António Rocha