1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Moçambique: Quem serão os candidatos às presidenciais?

Delfim Anacleto
17 de janeiro de 2024

A menos de dez meses das eleições em Moçambique, nenhum candidato foi oficialmente anunciado. À DW, analista diz que a demora pode pressionar órgãos eleitorais e afetar o escrutínio público dos candidatos.

https://p.dw.com/p/4bN5x
Ossufo Momade lider da Renamo und Filipe Jacinto Nyusi
Foto: Roberto Paquete/DW

Os eleitores moçambicanos irão às urnas em outubro para eleger o Presidente da República, os deputados da Assembleia da República e membros das assembleias provinciais, incluindo os governadores provinciais. A menos de 10 meses do escrutínio, nenhum candidato foi oficialmente anunciado pelos partidos.

O politólogo moçambicano Dércio Alfazema sugere que a demora nas eleições internas dos partidos políticos pode pressionar os órgãos eleitorais e diminuir a possibilidade de escrutínio público dos candidatos.

Dércio Alfazema, Mozambican political analyst and member of civil society
Dércio Alfazema, analista político moçambicanoFoto: Amós Fernando/DW

DW África: Por que ainda não são conhecidos oficialmente os candidatos às eleições gerais, com destaque para as presidenciais?

Dércio Alfazema (DA): Eu acho que nós estamos a enfrentar uma situação de crise interna dos partidos políticos. A questão da democracia interna não acontece de forma aberta. Os partidos políticos reivindicam muito espaço democrático para poderem atuar, implementar as suas agendas para a realização de eleições transparentes, livres e justas, mas os próprios partidos não estão organizados para fazer o mesmo ao nível interno. Isso percebe-se ao nível da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), no Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e na própria Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).

É só notar que até esta altura ainda não foi aberto formalmente o espaço ao nível dos partidos políticos para a discussão sobre os candidatos, os cabeças-de-lista para governador, os candidatos à Presidência da República. Mesmo as listas que vão compor as assembleias provinciais, a Assembleia da República, isto ainda não está a acontecer ao nível dos partidos. E pior ainda é que nem sequer têm datas marcadas.

DW África: E qual seria a consequência disso?

DA: Nós já estamos a cerca de 10 meses da realização das eleições, e isso claramente poderá contribuir para exercer uma maior pressão ao nível dos órgãos de gestão eleitoral. Quer dizer, a crise que os partidos têm e a incapacidade que têm de gerir os seus problemas internos depois poderão ser endossadas para os órgãos de gestão eleitoral, isto é preocupante.

Nós vemos nas outras democracias mais consolidadas que o tempo, a antecedência e abertura que têm para discutir os processos internos são de longe incomparáveis com o que nós temos assistido mesmo com mais de trinta anos de realização de eleições em Moçambique.

FRELIMO nega inteferências na RENAMO

DW África: No caso concreto, na RENAMO, a discussão já está em público sobre quem serão os nomes que poderão encabeçar o partido para as próximas eleições. Curiosamente, não se ouve nada em relação, por exemplo, ao MDM, assim como à FRELIMO.

DA: O que apareceu até agora é um grupo de apoiantes, quer seja de Ossufo Momade e um grupo de apoiantes deVenâncio Mondlane. Mas, em termos formais, ainda não há nada posicionado. Particularmente, Ossufo Momade ainda não disse se está interessado ou se está aberto a aceitar aquilo que os seus apoiantes estão a colocar em cima da mesa.

Ainda não sabemos se existem outras pessoas que têm pretensões e que estão à espera da data do Congresso ou do Conselho Nacional para poderem posicionar-se. Assiste-se ao mesmo no MDM. Sim, temos o presidente do MDM que está ainda no exercício do seu mandato. Mas uma coisa é ser presidente do partido, outra coisa é ser candidato do partido à Presidência da República. Na FRELIMO, idem, também ainda não está aberto o debate interno para aqueles que estejam interessados ou aqueles que estão a apoiar uma outra pessoa que gostariam que fosse o candidato, ainda não está aberto o debate.

Até agora, o único partido que deixou claro o seu posicionamento foi o partido PARENA, que já esclareceu publicamente que não vai concorrer à Presidência da República. Fora isso, os outros partidos estão todos numa incógnita, e esse debate vai decorrer num espaço de tempo muito pequeno, e ele poderá não permitir que os candidatos sejam devidamente escrutinados.

Elísio Macamo: "Nunca tivemos programas tão pobres"