1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

O que leva os angolanos a usar produtos para clarear a pele?

24 de abril de 2021

Jovens angolanos apontam a vaidade e a não-aceitação da sua cor para justificar o uso de produtos para tornar a pele mais clara. Mas os especialistas alertam para os riscos para a saúde e há relatos de mortes.

https://p.dw.com/p/3sWBs
Foto de arquivoFoto: Getty Images/AFP/S. Maina

O que leva muitos angolanos a usar produtos para clarear a pele? A DW procurou respostas no Bengo, onde ouviu diferentes testemunhos, que falam de casos que terão terminado em mortes.

Martinho Bernardo, mototaxista, conta que um amigo seu terá perdido a vida em consequência do uso indevido destes cremes: "Quanto mais usava aquilo mais queimava os pulmões, depois, quando se foi dando conta, acabou por morrer de pneumonia".

O jovem João Vitor usou produtos para clarear a pele durante um ano e foi sentindo alguns sinais negativos no seu corpo. Depois de vários conselhos, decidiu deixar de usar o creme.

"O meu rosto enchia-se de borbulhas, mas como era mesmo por causa da vaidade eu não ligava àquilo", conta.

Normalmente, quem usa estes produtos recebe o nome de "paculador". Marta João, uma vendedora de cremes, diz à DW que estes produtos têm muita procura até por parte de adultos: "Há mais velho que gosta de se pacular".

Os riscos do "paculo"

Angola Verkauf von Hautaufhellungsprodukten in Bengo
Produtos para clarear a pele à venda no Bengo.Foto: António Ambrósio/DW

Quando questionados sobre as razões para o uso destes produtos, os jovens apontam a vaidade, a elevação da autoestima e a auto-discriminação.

"É a própria não-aceitação da cor da sua pele, discriminação racial por parte de outras raças e o maior problema é o de consciência", confirma o sociólogo Yuri Perivaldo. "O problema de consciência tem a ver com não-aceitação de si próprio, da sua condição racial e a cor da sua pele", explica.

O antropólogo Elias Agostinho lembra os tempos do colonialismo para explicar o surgimento destes casos: "Outros olhavam aquelas outras sociedades, outras culturas como estranhas por não partilhar o mesmo tom de pele e daí eles tiveram aquela ideia de que eram superiores em relação aos negros. Até hoje, nós temos indivíduos, fruto deste contato com esta ideia de que o branco continua a ser superior para a gente poder ser olhado na sociedade tinha que ter um tom de pele diferente".

"Nós temos estado também afetados com este fenómeno, daí que lidamos com muita gente que assim procede e muitos acabaram tendo cancro da pele", afirma a assistente social Garcia Matondo, que já se deparou com vários casos do género.

Também o enfermeiro Samuel Laurindo, que trabalha numa unidade sanitária em Caxito, diz que tem recebido muitos casos do género e desaconselha o uso destes cremes: "Os anticorpos já não conseguem receber devidamente o sangue, não conseguem defender o tecido, por que ele [creme] também destrói os anticorpos".

Bonecas ensinam a combater o racismo

Saltar a secção Mais sobre este tema