Jovens estariam mobilizados para mais manifestações em Angola

O partido angolano Bloco Democrático calcula que aproximadamente 50 pessoas tenham sido detidas ao longo do fim de semana por envolvimento em manifestação organizada por jovens no sábado (3/9) em Luanda. A informação oficial da polícia é de que 24 pessoas foram presas durante o protesto.

A manifestação de sábado, organizada por estudantes universitários e jovens cidadãos, reivindicou melhores condições sociais para a população e boa governança em Angola. Para o Secretário-Geral do partido, Filomeno Vieira Lopes, novos protestos devem acontecer nos próximos dias.

"Não temos dúvida disso, porque há uma frustração muito grande por parte da juventude. Há juventude de bairros mobilizada", disse Lopes. Nesta segunda-feira (5/9), um advogado que representa os detidos, David Mendes, revelou a suspeita de que a polícia estaria preparando interrogatórios auto-incriminatórios que possam sustentar a acusação contra os manifestantes.

Apoio a manifestantes presos

Mendes diz que um comunicado da própria polícia mostraria que os investigadores "procuram fatos para incriminar os jovens". Ele lamentou que os manifestantes detidos, alguns dos quais se desconhecia o paradeiro até segunda-feira, ainda não tivessem acesso a advogados.

Filomeno Vieira Lopes lembra que um dos organizadores da manifestação, Pandira Neru, preso supostamente por agentes de segurança antes do protesto, ainda não foi localizado. "Nós estreitámos o diálogo com as autoridades para exigir a libertação imediata de todos e temos juristas que estão dando assistência aos presos", esclareceu Lopes.

O dirigente do partido também acrescentou que o Bloco Democrático deve comunicar os excessos da repressão policial a organizações ligadas aos direitos humanos em outros países e também à Organização das Nações Unidas. "Movimentaram-se pessoas da parte do poder político para perturbar a manifestação com uma agressividade nunca antes vista em Angola", justifica Lopes.

Jornalistas espancados

O partido diz estar convencido de que um dos organizadores da manifestação, Pandira Neru, foi raptado por homens fortemente armados que estavam à paisana. "Os outros jovens decidiram marchar até o palácio do Governo para pedir a libertação dele (Neru)", lembra o Secretário-Geral do Bloco Democrático.

Homens também atacaram jornalistas que em alguns casos foram perseguidos até seus hotéis, tendo seus equipamentos apreendidos. O Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) condenou o ato de agressão. A Secretária-Geral do SJA, Luísa Rogério, disse que o sindicato observa com muita preocupação a situação".

Ela conside que "o cenário está cada vez mais perigoso para o exercício da profissão". O julgamento de 21 jovens manifestantes detidos no sábado em Luanda, na sequência de tumultos com a polícia, deve acontecer nesta terça-feira (6/9) na capital angolana, conforme o comandante da Polícia Nacional, Comissário-Chefe Paulo de Almeida.

Autor: Márcio Pessôa / Agências

Edição: Marta Barroso