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Chefe do FMI diz que países pobres correm risco em momento crítico da economia mundial

20 de dezembro de 2011

Durante primeira turnê africana, Christine Lagarde previu crescimento econômico mais baixo e disse que crise européia é risco para todas as economias do mundo. Ela alertou países pobres sobre efeitos negativos.

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Christine Lagarde, diretora geral do FMI, alertou para impacto negativo do "momento crítico" da economia mundial em países pobres
Christine Lagarde, diretora geral do FMI, alertou para impacto negativo do "momento crítico" da economia mundial em países pobresFoto: dapd

Na primeira visita à África desde que assumiu a diretoria geral do Fundo Monetário Internacional, em julho deste ano, a chefe do FMI, Christine Lagarde, alertou para o potencial impacto negativo da atual situação econômica mundial em países mais pobres. Nesta terça-feira (20.12), Lagarde afirmou numa mesa redonda sobre o futuro econômico do continente africano em Lagos, na Nigéria, que a economia mundial está num "momento crítico".

Christine Lagarde disse que, atualmente, a economia mundial passa por uma crise de confiança, com efeitos como altas taxas de desemprego e um crescimento global mais lento. A diretora geral do FMI destacou ainda que as perspectivas revistas de crescimento global, esperadas para janeiro de 2012, deverão ser mais baixas que as previsões divulgadas em setembro deste ano, de 4% para o ano de 2011. Este número já tinha baixado 0,3 ponto percentual em relação às cifras de junho de 2011.

"Além disso, existem riscos negativos no horizonte que estão realmente ameaçando o processo de recuperação" da economia mundial que começou após a crise financeira de 2008-2009, afirmou Lagarde.

Crescimento econômico mais baixo em 2012

De acordo com o FMI, a difícil situação econômica na Europa e a instabilidade nos mercados financeiros levaram o órgão a rever em baixa as previsões para o crescimento econômico global, publicadas há três meses.

Também a Organização das Nações Unidas reviu em baixa a previsão de crescimento para 2012, quando espera que a economia mundial registre aumento de 2,6%. Em 2010, a previsão de crescimento era de 4% para a ONU, que agora diz que a economia global está "à beira de uma grande desaceleração".

Durante encontros com oficiais nigerianos na segunda-feira (19.12), Christine Lagarde alertou que a atual crise de endividamento de países europeus representa um "risco para todas as economias do mundo". A diretora geral do FMI previu uma "estagnação do crescimento" em países desenvolvidos.

Na terça-feira, Lagarde participou num encontro na Nigéria enquanto a União Européia não conseguiu atingir o montante almejado de empréstimos ao FMI, destinados a resgates na união monetária européia, a zona do euro.

Líderes da UE queriam reunir 200 mil milhões de euros, mas os 17 países que usam o euro conseguiram 150 mil milhões de euros em empréstimos bilaterais ao FMI na noite de segunda-feira (19.12), depois que a Grã-Bretanha se recusou a aumentar a própria contribuição, de 30 mil milhões de euros. Com o dinheiro, a UE espera estabilizar as dívidas da zona do euro.

Autoridades internacionais reunidas em Washington durante encontro anual do FMI e do Banco Mundial, previram crescimento global de 4% para 2012 em setembro; expectativa foi revisada para baixo
Autoridades internacionais reunidas em Washington durante encontro anual do FMI e do Banco Mundial, previram crescimento global de 4% em 2011 em setembro; expectativa para janeiro foi revisada para baixoFoto: AP

Imposição ao primeiro produtor africano de petróleo?

Na Nigéria, a visita da diretora geral do FMI aconteceu num momento em que o país mais populoso do continente africano planeja uma série de reformas para alavancar a economia. Muitas das infraestruturas da Nigéria ainda não funcionam com eficácia, enquanto a corrupção, segundo observadores, continua a ser um obstáculo para o desenvolvimento.

Um dos exemplos das medidas que a Nigéria quer tomar para estimular a economia é a eliminação de um subsídio para combustíveis – neste país que é o primeiro produtor de petróleo do continente africano. Também há quem peça que a moeda nigeriana, o Naira, seja desvalorizada, para que os produtos do país fiquem mais competitivos no mercado internacional. Porém, muitos críticos acreditam que essas medidas estão sendo impostas à população nigeriana pelo FMI.

Christine Lagarde, a diretora geral do Fundo, contestou a crítica durante a visita à Nigéria: "O FMI é um parceiro da Nigéria há já vários anos. Também transformamos as nossas próprias instituições e estamos aqui para ouvir, para entender e para apoiar se for necessário. Fornecemos assistência técnica no âmbito de iniciativas de reestruturação", explicou Lagarde.

Medidas do FMI esquecem dos mais pobres, diz sociedade civil na Nigéria

Já a sociedade civil na Nigéria está dividida no que se refere à eficácia do FMI. Também programas de desenvolvimento do Banco Mundial são alvo de controvérsia no país ocidental africano. De um lado, muitos cidadãos nigerianos acreditam que, se bem implementados, os programas poderiam funcionar e representar uma viragem positiva na economia da Nigéria.

Mas há vozes mais céticas, como a de Raphael Ogar Oko, coordenador internacional da Iniciativa Educadores Globais para Todos (Global Educators for All Initiative, uma rede mundial de educadores). Oko acredita que as soluções econômicas do FMI costumam esquecer os mais pobres: "Vejo essa visita [de Christine Lagarde] com muitas reservas. Temos uma situação no terreno que prevê a remoção de subsídios para o petróleo. Isso não trará as mudanças desejadas", opina o coordenador.

A ministra nigeriana das Finanças, Ngozi Okonjo-Iweala, defende que tanto nigerianos quanto investidores precisam de um ambiente estável de investimentos, o que estimularia o crescimento econômico e o desenvolvimento.

Goodluck Jonathan, presidente da Nigéria, teve encontro com Lagarde; medidas de austeridade do país africano seriam "impostas" pelo FMI, dizem críticos
Goodluck Jonathan, presidente da Nigéria, teve encontro com Lagarde; medidas de austeridade do país africano seriam "impostas" pelo FMI, dizem críticosFoto: AP

"Christine Lagarde foi uma das pessoas que ajudou a Nigéria a aliviar a dívida externa. Ela era ministra das Finanças na França quando a Nigéria estava negociando a dívida. Foi ela, pessoalmente, que pressionou o Clube de Paris [países ricos que ajudam países pobres com dificuldades econômicas] a aliviar a nossa dívida. Por causa dela, eliminamos 30 mil milhões de dólares da nossa dívida", recorda a ministra, para quem a visita de Lagarde à Nigéria é sinal de que "ela vê a Nigéria como um país poderoso para o continente africano".

Autor: Ben Adam Shemang (Abuja) / Renate Krieger (com AFP)
Edição: Madalena Sampaio / António Rocha

Praça comercial em Abuja, na Nigéria; medidas do FMI "esquecem pobres", diz sociedade civil
Praça comercial em Abuja, na Nigéria; medidas do FMI "esquecem pobres", diz sociedade civilFoto: DW