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Ativista desconfia de oferta de diálogo sobre Cabinda

15 de março de 2011

O governo angolano disse em 9 de Março que quer continuar com os esforços de reconciliação e paz no enclave de Cabinda. Porém, o ativista Raúl Danda diz querer ver para crer nas palavras das autoridades de Luanda.

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Província de Cabinda é rica em petróleo e palco de movimento pela autonomia do territórioFoto: AP

Numa altura de instabilidade política em várias regiões do continente africano, desde o Sudão aos países do Magrebe, o governo angolano emitiu sinais de abertura e disponibilidade na sua linha política para com o enclave de Cabinda. A região é rica em petróleo e palco de atuação das Flec (Forças de Libertação do Enclave de Cabinda), que lutam pela autonomia do território.

Raúl Danda, deputado independente de Cabinda e ativista dos direitos humanos, vê com bons olhos esta vontade de diálogo. Mas quer ver para crer. “Tantas coisas foram ditas, tantas negociações, entre muitas aspas, foram feitas, tantas vontades de diálogo, entre muitas aspas, foram expressas, por parte do governo, que os cabindas hoje são como São Tomé: ver para querer. Enquanto a gente não vir, a gente não vai poder acreditar.”

Cabinda Landkarte Map Afrika
O enclave fica separado de Angola por faixa de terra da República Democrática do CongoFoto: Wikipedia

Raúl Danda considera que a sociedade civil tem uma palavra a dizer nesta matéria, apesar de ser intencionalmente ignorada pelo governo de Angola. O ativista garante que o diferendo só será ultrapassado com um diálogo sincero entre as partes.“Não pode ser, digamos assim, a política que tem vindo a ser usada até agora, de se dar dinheiro a “A”, “B” ou “C”, comprar esta ou aquela consciência”, disse Danda, em entrevista à Deutsche Welle.

“O que tem que acontecer é, de fato, uma negociação clara, uma negociação sincera, uma negociação frontal, deixar que os cabindas digam quem é que do lado deles vai negociar”, afirmou o deputado independente. “Os cabindas estão sempre preparados para poder dialogar com o governo de Angola para que se chegue a uma solução política que dignifique os Cabindas naquilo que diz respeito à sua terra”.

Palavras cordiais contrastam com morte de membro da FLEC

Porém, apesar de palavras de cordialidade, no dia seguinte à emissão do comunicado oficial do governo de José Eduardo dos Santos, o General Nhemba Pirilampo, da FLEC, foi encontrado morto junto à fronteira com o Congo, após vários dias de rapto. “Mas sabemos todos que o Pirilampo não foi morto em combate, ele foi pura e simplesmente assassinado”, acusa Raúl Danda, que diz ainda que o governo tem feito muito para que os confrontos no enclave não sejam divulgados.

“Mas depois, toda a opinião pública, quer interna, quer internacional, fica surpreendida. Porque, se durante muito tempo se vai dizendo que está tudo bem, para de repente se dizer que tem havido confrontos… Isso fala por si”.

A morte do General Pirilampo vem na sequência de confrontos entre as forças angolanas e a Flec-Fac, que culminaram com baixas em ambas as partes. Entretanto, as palavras de diálogo não saíram ainda do papel.

Autora: Glória Sousa

Revisão: Renate Krieger / António Rocha