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Kassel e a "documenta": um histórico

Simone de Mello7 de junho de 2002

Em meio à cidade destruída pela guerra, era grande a fome de arte, quando o artista Arnold Bode fundou a "documenta", em 1955.

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Fridericianum, "documenta" 11, 2002, curador: Okwui EnwezorFoto: Documenta

A maior exposição de arte contemporânea do mundo surgiu nas ruínas do Museu Fridericianum, em Kassel, o primeiro projeto arquitetônico de um museu público construído na Europa, em 1779, e parcialmente destruído nos bombardeios de novembro de 1944. Dentro das ruínas caiadas, os 130 mil visitantes puderam apreciar 670 obras de 148 artistas das vanguardas modernas, entre os quais Pablo Picasso, Paul Klee e Marc Chagall.

Resgate da "arte degenerada"

- A motivação do artista Alfred Bode e do historiador da arte Werner Haftmann era reabilitar as vanguardas modernas, cujas obras haviam sido excluídas dos museus e em parte destruídas pelos nazistas como "arte degenerada". O nítido propósito político da mostra de 1955 viria a se tornar a marca registrada da documenta.

1968: por uma arte social

- A perspectiva de Bode e Haftmann, que também assumiram a curadoria da documenta 3, voltava-se, no entanto, para o passado, priorizando artistas de renome, já institucionalizados. Os movimentos estudantis de 1968 começaram a questionar esta concepção de cultura, protestando contra uma documenta comercial e exigindo uma arte de maior relevância social.

O que caracteriza a arte contemporânea e quais critérios a norteiam? Esta foi a questão central da documenta 5, realizada em 1972, sob curadoria do suíço Harald Szeemann. Com o lema "Questionamento da realidade – Os mundos da imagem hoje", Szeemann foi o primeiro a enfocar um tema específico na exposição.

100 dias com Beuys

- A quinta mostra de Kassel confrontou os visitantes com kitsch, propaganda, science fiction, incluindo a performance como parte significativa do programa. O artista Joseph Beuys discutiu durante 100 dias sobre democracia direta com os visitantes da documenta durante 100 dias. A arte como evento, situando-se conscientemente fora dos limites institucionais do museu, se tornou uma constante em todas as mostras posteriores.

População reclama

- Com o crescente número de visitantes, as críticas populares contra a documenta também aumentaram. Na documenta 6, em 1977, a população de Kassel reagiu com fúria ao "Quilômetro Vertical" do artista norte-americano Walter de Maria, uma peça metálica de 12 toneladas, enterrada verticalmente numa extensão de 1000 metros abaixo da superfície, para "levar as pessoas a refletir sobre a Terra e o lugar que ocupam no universo". O barulho dos trabalhos de perfuração levaram a população a protestar contra a documenta e ameaçar o prefeito Hans Eichel (atual ministro das Finanças) de não reelegê-lo.

Arnold Bode
Fundador da documenta, Arnold Bode na 4ª mostra, de 1968, em KasselFoto: AP

O mundo em Kassel – A curadora da documenta X (1997), Catherine David, acusada pelo "elitismo" de sua concepção, baseada sobretudo na tradição filosófica francesa, não poupou Kassel de críticas de provincianismo: "Já estou cansada de repetir que Kassel é horrível, um exemplo notável do grotesco moderno", declarou David, reclamando da falta de uma tradição intelectual local e de "uma turma de idiotas dos tempos de Arnold Bode".

Kassel no mundo - Já o americano de origem nigeriana Okwui Enwezor, curador da atual mostra, descentralizou a documenta, realizando há mais de um ano plataformas de discussão em diversas cidades do mundo. Kassel e a mostra em si são apenas a estação final de um longo processo de reflexão sobre as condições de produção e apreciação de arte no mundo pós-colonial e globalizado. Para um curador que procura relativizar as noções de centro e periferia e afirma que a arte está em casa em todo lugar, Kassel não deixa de ser um bom endereço.