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Exposição

Kerstin Schweighöfer (ca)16 de novembro de 2008

O amor não se deixa regular nem se deixa proibir, mesmo no caso de paixões indesejadas entre perseguidos e perseguidores, como durante a Segunda Guerra Mundial. Exposição na Holanda mostra o amor em tempos de guerra.

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Aliados deixaram oito mil bebês na HolandaFoto: Nationaal Bevrijdingsmuseum (NL)

Uma exposição no Museu Holandês da Libertação, em Groesbeek, mostra que o amor sempre venceu obstáculos. Através de documentos, a mostra aborda o tema das relações amorosas entre prisioneiros em campos de concentração ou entre ocupadores e ocupados, como no caso entre alemães e holandeses durante a Segunda Guerra Mundial. A Holanda foi ocupada até 1945 pelos nazistas.

Vestido de noiva feito de tecido de pára-quedas

Exponat der Ausstellung - Liebe in Kriegszeiten -
Exposição aborda diferentes tipos de relacionamentoFoto: Nationaal Bevrijdingsmuseum (NL)

Orgulhosa e com certa nostalgia, Lilly van Angeren observa uma foto sua, já amarelada, de quando jovem. A fotografia está exposta numa vitrine do Museu da Libertação de Groesbeek, como parte da exposição Amor em tempos de guerra. Na época, Lilly van Angeren tinha entre 16 e 17 anos, era uma jovem linda com olhos escuros cintilantes e longos cabelos escuros cacheados.

"Na verdade, ainda sou bonita" comenta hoje em tom de piada a senhora de 84 anos. "Quanto mais velho o vinho, melhor ele é", acrescenta. Através de fotos, documentos, cartas e filmes, a exposição mostra como a Segunda Guerra Mundial influenciou a vida amorosa de toda uma geração.

Fazem parte da mostra um vestido de noiva feito de tecido de pára-quedas e bilhetinhos com juras secretas de amor. A música também combina. A exposição tem como fundo musical a canção We Will Meet Again [Nós nos reencontraremos novamente] da cantora britânica Vera Lynn.

"Anjo" num lugar pavoroso

Lilly van Angeren nasceu na Alemanha, mas esqueceu o idioma do país. Como membro da etnia sinto, ela foi deportada em 1943 para o campo de concentração Ausschwitz-Birkenau, onde se apaixonou por um companheiro de prisão – um jovem estudante de Medicina de Varsóvia, louro, de olhos azuis.

Ele se chamava Zbyszek e falava alemão. Lilly o chamava de "anjo" e ele a apelidou de "Lillyzinha". Van Angeren comenta que "frio na barriga" acontece até num dos lugares mais terríveis do mundo.Sempre que possível, os amantes se encontravam num lugar secreto, um banco atrás das barracas.

"De lá, podia-se ver o crematório, mas nós fechávamos os olhos ou só os tínhamos para nós, então não víamos aquilo. Enquanto nos beijávamos apaixonadamente, as chamas subiam metros de altura em direção ao céu.

Van Angeren está convencida de que só sobreviveu graças ao "anjo", pois o amor a fortaleceu. "Cabeça para cima", seu namorado costumava lhe dizer. Por um ano, eles se consolaram e se apoiaram mutuamente, até serem, um dia, separados.

"Colaboração horizontal"

Exponat der Ausstellung - Liebe in Kriegszeiten -
Paixão indesejada: alemães e holandesasFoto: Nationaal Bevrijdingsmuseum (NL)

A história de Lilly van Angeren é uma entre as muitas contadas na mostra. O amor entre holandesas e soldados aliados também faz parte da exposição. Segundo estimativas, cerca de oito mil bebês nasceram de tais relações. Já os soldados alemães são responsáveis pelo triplo deste número de nascimentos durante os cinco anos em que ocuparam a Holanda.

Marleen van Dam, curadora da exposição, afirmou que "30 mil bebês resultaram dos relacionamentos entre alemães e mulheres holandesas". Mulheres que se relacionavam com os ocupadores eram xingadas de "prostitutas de alemães" ou "colchão germânico". Falava-se de "uma colaboração horizontal".

Após o fim da guerra, tais mulheres sofriam humilhação pública e suas cabeças eram raspadas. Mas nesses casos, diz Van Dam, ninguém conseguia se proteger do amor, que não se deixa proibir.

Reencontro após 60 anos

Exponat der Ausstellung - Liebe in Kriegszeiten -
Cartaz de 'Amor em tempos de guerra'Foto: Nationaal Bevrijdingsmuseum (NL)

Lilly van Angeren não conseguiu casar-se com seu "anjo". Depois da guerra, ela o procurou em vão por dois anos. Foi quando decidiu levar sua vida para frente, casou-se com um holandês e teve quatro filhos. Foram seus netos que, 60 anos mais tarde, conseguiram reencontrar Zbyszek. Um programa de televisão o localizou na Austrália, onde ele também havia criado uma família. Assim como Van Angeren, ele também desistiu, após longa busca, de procurar a ex-namorada.

"Ele estava tão próximo, como se nunca tivéssemos nos distanciado", explicou Van Angeren. Ao se reencontrarem, quase não se reconheceram. "Anjo, como você envelheceu", afirmou a antiga namorada por ocasião do reencontro.

Hoje, os dois trocam cartas e fotos de filhos e netos. Algumas vezes, Van Angeren lamenta o fato de terem se reencontrado somente após terem construído uma nova vida. Mas, explica ela, isto é o destino – e o destino não tem resposta para tudo. "O destino é mudo", conclui.

A Exposição Amor em tempos de guerra pode ser vista até setembro de 2009 no Museu Holandês da Libertação em Groesbeek.