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17 de julho de 1998

Nicole Engelbrecht (gh)

Na noite de 17 de julho de 1998, Papua Nova Guiné viveu a maior catástrofe natural de sua história. Uma onda gigantesca destruiu a costa noroeste do país. Mais de 2 mil pessoas morreram.

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Foto: AP

Em poucos minutos, as praias paradisíacas de Papua Nova Guiné transformaram-se em valas comuns. "O estrondo das ondas gigantes foi semelhante ao barulho de aviões de guerra se aproximando", contou um sobrevivente. O que aconteceu na costa noroeste, na noite de 17 para 18 de julho de 1998, foi a pior catástrofe da história deste país da Oceania, colonizado por holandeses, ingleses e alemães, e independente desde 1975.

Arop, uma aldeia de pescadores, foi completamente arrasada e de outras seis localidades quase não sobrou nada. Ondas de sete metros de altura arrastaram mais de 2 mil pessoas – muitas delas crianças em férias escolares – para a morte. Milhares de pessoas ficaram desabrigadas.

"Nós ouvimos um estalo e depois vimos o mar subir e começar a se mover em direção à aldeia. Nossa única opção foi correr para tentar nos salvar", disse Paul Saroya, um sobrevivente da aldeia Nimas.

Difícil operação de ajuda

Segundo Austen Crapp, um missionário australiano em Aitape, "a onda chegou de repente. Estava tudo escuro. Os moradores foram arrastados, junto com madeiras e outras coisas. Foi uma confusão terrível. Eles foram levados para um lado, depois a água mudou de direção e foi para o interior, arrastando todos", disse.

A operação de ajuda aos atingidos de Papua Nova Guiné foi extremamente difícil, porque as estradas e pontes haviam sido destruídas. Os únicos meios de transporte que chegavam à região devastada (faixa costeira de 25 km de comprimento) eram helicópteros e barcos.

Muitos dos sobreviventes haviam sido prensados contra pedras e edificações e estavam gravemente feridos. As clínicas dos arredores não tinham vagas, nem antibióticos e médicos suficientes. A Austrália foi o país que mais ajudou com recursos financeiros e humanos.

Tsunamis ocorrem principalmente no Pacífico

Os maremotos são grandes ondas provocadas por abalos sísmicos no fundo do mar. Segundo o professor Ludwig Ellenberg, da Universidade Humboldt de Berlim, um terremoto ou deslizamento de terra no fundo do mar gera ondas na superfície.

No início, essas ondas têm altura de poucos centímetros, mas possuem até 300 km de comprimento (distância entre duas cristas) e se deslocam a velocidades de até 700 km/h. À medida que se aproximam de regiões mais rasas, a velocidade cai para talvez 20 km/h e as ondas ficam mais curtas, mas sua altura aumenta até 30 metros.

Segundo dados do Instituto de Geofísica de Papua Nova Guiné, o maremoto de julho de 1998 foi desencadeado por dois abalos sísmicos que atingiram sete graus na escala Richter. No Oceano Pacífico, onde ocorre a maioria dos tsunamis (maremoto em japonês), há décadas operam serviços de observação desse fenômeno.

Eles são capazes de calcular, com precisão, a data e o horário em que as ondas gigantes atingem determinada região costeira. Cada segundo é decisivo para dar um aviso de retirada. Nesse campo, os japoneses são campeões mundiais na luta contra o relógio.

O terremoto que provocou as ondas devastadoras em Papua Nova Guiné foi detectado por sismógrafos australianos, mas a população não teve chance de escapar. O epicentro dos abalos estava a apenas 25 km da costa e não houve tempo para qualquer aviso de retirada.

"No Japão, o sistema de alerta funciona via alto-falantes, rádio, TV e internet, o que não é o caso em regiões tropicais subdesenvolvidas, desprovidas de toda e qualquer infra-estrutura de comunicação", diz Ellenberg.

Crença nó espírito maligno

A população de Papua Nova Guiné ainda não esqueceu a catástrofe de julho de 1998. Para o resto do mundo, as enormes ondas foram um fenômeno natural fora do controle dos seres humanos. Mas os sobreviventes da área mais atingida, nas margens do rio Sepik, acreditam que foram castigados por Masalai, o espírito da água.

Masalai é visto como maligno. Centenas de sobreviventes apavorados passaram semanas refugiados na selva, depois da catástrofe, temendo um novo ataque do espírito da água.