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HistóriaAlemanha

1954: Alemanha Ocidental conquistava soberania no pós-Guerra

Rachel GessatPublicado 23 de outubro de 2015Última atualização 23 de outubro de 2019

Com a assinatura dos Tratados de Paris, em 23 de outubro de 1954, a então jovem República Federal da Alemanha deixava o status de país ocupado, entrava para a Otan e se filiava à União da Europa Ocidental.

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Assinatura dos Acordos de Paris na capital francesa em 1954
Assinatura dos Acordos de Paris na capital francesa em 1954Foto: picture-alliance/dpa

"Termina hoje para a República Federal da Alemanha o período de ocupação. O governo alemão constata com profunda satisfação que somos um Estado livre e independente." O chanceler federal Konrad Adenauer discursou com grande orgulho diante do Parlamento alemão: com a entrada em vigor dos Tratados de Paris, a jovem república adquiria sua completa soberania. Os acordos celebrados na capital francesa incluíam quatro pontos:

  • A reformulação do tratado sobre a Alemanha, com o cancelamento do status de país ocupado.
  • A filiação da Alemanha à União da Europa Ocidental, a aliança europeia de defesa.
  • A integração da Alemanha Federal na Otan – Organização do Tratado do Atlântico Norte.
  • O chamado Estatuto do Sarre, que previa a autonomia da região do Sarre, sob controle europeu.

Divisão da Alemanha, o pomo da discórdia

Os políticos da oposição não queriam compartilhar o entusiasmo do governo. O presidente do SPD (Partido Social Democrata da Alemanha), Erich Ollenhauer, criticou Adenauer, afirmando que os Tratados de Paris consolidariam a divisão da Alemanha:

"Para o povo alemão, o cancelamento do direito de ocupação existente até agora na região em que vigora a Lei Fundamental não é motivo para comemoração. A Alemanha continua dividida. Só se poderá falar em soberania da Alemanha quando a Alemanha estiver reunificada em liberdade."

Esta polêmica entre a oposição e o governo era mais antiga que a própria República Federal da Alemanha. Pois, desde o fim da guerra, os alemães se viram confrontados com o problema da divisão do seu país, sendo que no decorrer do tempo as duas partes se viram não apenas em blocos diferentes, mas em blocos inimigos.

Dois caminhos eram debatidos na política alemã. Para alguns, a reunificação do país era meta política prioritária. Esta era a posição do SPD, que estava disposto a examinar a proposta da União Soviética de aceitar a reunificação da Alemanha, desde que ela assumisse uma neutralidade completa.

Desejo de inserção nas estruturas ocidentais

Os demais só viam o futuro da Alemanha num estreito relacionamento com o Ocidente e na sua inserção em estruturas europeias ocidentais. Deste grupo fazia parte, decididamente, o então chanceler federal Konrad Adenauer.

No seu primeiro pronunciamento oficial como chefe de governo, ele já fixara tal orientação: "A integração da Europa continua sendo uma das metas principais da política alemã. Somos da opinião de que a criação de um exército europeu significará um progresso muito substancial no caminho do objetivo final de integração da Europa".

Com a integração ao Ocidente, Adenauer esperava também a rápida recuperação da soberania. Mas isto também implicava o rearmamento e a filiação às alianças militares ocidentais, o que era um fato extremamente polêmico entre os alemães. Sindicalistas, pacifistas e organizações eclesiásticas criaram então o primeiro movimento de resistência extraparlamentar na República Federal da Alemanha.

Resistência e protestos 

Gustav Heinemann, posteriormente presidente da Alemanha, deixou a CDU (União Democrata Cristã), em protesto contra a política de remilitarização do país. Ele era um dos adversários mais ferrenhos dos Tratados de Paris. Na histórica Igreja de São Paulo, em Frankfurt, ele conclamou à resistência contra a política de Adenauer:

"Nenhum de nós deixa de levar a sério a crise que será gerada pela rejeição dos Tratados de Paris. Mas esta crise nos parece o mal menor, em comparação à catástrofe que significaria para nós e para a Europa a consolidação da divisão alemã por tempo indeterminado. O rearmamento da Alemanha Ocidental não é nenhum caminho para a reunificação e para a configuração da Europa. Quem busca a integração num bloco militar pode até falar muito de reunificação, mas está ao mesmo tempo impedindo que ela aconteça."

Apesar dos protestos maciços, o Parlamento alemão ratificou os Tratados de Paris no dia 27 de fevereiro de 1955. Com a sua entrada em vigor, no dia 5 de maio do mesmo ano, a República Federal da Alemanha adquiriu a sua completa soberania.