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Os caminhos do Leste alemão

Miodrag Soric (lk)20 de dezembro de 2007

O Leste alemão segue seu próprio caminho de desenvolvimento, sem querer copiar os padrões do Oeste, disse o ministro Wolfgang Tiefensee em visita à Deutsche Welle.

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Ministro dos Transportes coordena também o desenvolvimento do Leste da AlemanhaFoto: AP

Deutsche Welle: Ministro Tiefensee, o senhor não é apenas responsável pela pasta dos Transportes, mas também encarregado de coordenar o desenvolvimento dos estados do Leste alemão. Quais são as tarefas que lhe cabem nessa posição?

Wolfgang Tiefensee: Os chamados novos estados federados da Alemanha continuam sendo uma parte de nosso país que requer especial atenção. É por isso que existe dentro do governo um cargo para a coordenação dessas tarefas.

O encarregado trabalha em cooperação com os demais ministérios – política para o mercado de trabalho, política econômica, educação, pesquisa e muitas outras áreas são de relevância para o Leste da Alemanha. O encarregado coordena, dá idéias, enfim, advoga os interesses dos novos estados.

A Alemanha se reunificou em 1990. Por quanto tempo ainda será necessário que haja um encarregado com essa função?

Acho que faz sentido que essas tarefas sejam coordenadas, e acho que esse cargo ainda vai existir por um bom tempo. O pacote de ajudas financeiras para o Leste alemão continua até 2019 – talvez esse seja o ponto em que as coisas poderiam se normalizar.

Os padrões de vida no Leste e no Oeste estarão então equiparados?

Na verdade, nós nos novos estados não queremos imitar os estados antigos ou nos tornar iguais a uma outra cidade do Oeste do país. Trata-se antes de se posicionar em igualdade de condições perante os desafios enfrentados pela Alemanha e pela Europa. E as precondições são diferentes.

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O Leste está assumindo a liderança em energias renováveis, diz TiefenseeFoto: AP

Na minha opinião, os novos estados têm uma vantagem natural – especialmente nos novos ramos industriais, como o das energias renováveis, da tecnologia da informação e biotecnologia, por exemplo. Quem investe mais tarde nos novos setores investe em recursos mais modernos, e isso já pode ser constatado agora. No que diz respeito às energias renováveis, a metade dos postos de trabalho existentes na Alemanha se encontra no Leste do país.

No entanto, a taxa de desemprego nos novos estados ainda continua sendo o dobro da dos estados antigos. Quando o senhor acha que haverá uma equiparação?

Essa é a questão mais difícil de todas. Nos estados do Leste, o índice de desemprego ainda está bem acima de 13%, enquanto ele é de 6% nos outros estados. Além disso, quem não tem trabalho no Leste fica desempregado por mais tempo – 12 ou mesmo 24 meses – e acaba ficando cronicamente desempregado, sem a chance de obter uma colocação no mercado de trabalho.

Quanto tempo isso vai durar? Neste ponto também temos de pensar em longo prazo, porque o desemprego crônico só pode ser superado aos poucos. Os estados do Leste do país estão passando por um aquecimento da economia, mas ele ainda não está se refletindo no mercado de trabalho. Acho que ainda vai demorar uns dez anos para se reduzir o desemprego.

Pessoas que pertencem a minorias ou aos círculos de migrantes têm um certo receio em relação aos estados do Leste. Alguns decidem não ir para lá para trabalhar ou estudar, outros têm medo de ser atacados por neonazistas. O senhor entende esse tipo de preocupação?

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Extremismo de direita é mais freqüente no LesteFoto: picture-alliance/ ZB

É, infelizmente o número de crimes de motivação xenófoba é mais alto no Leste do que no Oeste. Mas, por outro lado, nas cidades grandes ou mesmo de médio porte é perfeitamente possível estudar sem problemas ou trabalhar, sendo, por exemplo, um engenheiro ou trabalhador especializado estrangeiro.

Muitas pessoas até preferem os novos estados por causa de sua hospitalidade específica. Ela ainda é remanescente dos tempos da Alemanha Oriental comunista, quando as pessoas tinham um outro jeito de se relacionar umas com as outras.

Há uma série de iniciativas que se dedicam com empenho para acabar com a xenofobia. Às vezes, a questão é que vivem tão poucos estrangeiros lá que as pessoas nem sabem do que estão falando e acabam tendo uma opinião negativa. Se o número de estrangeiros vivendo na região aumentar gradualmente, tenho certeza de que as ressalvas em relação a eles também diminuirão gradualmente.

O senhor mencionou a tradicional hospitalidade do Leste da Alemanha. Eles têm um sistema de valores diferente do nosso aqui no Oeste?

Acho que não, mas evidentemente 40 anos de República Democrática Alemã não podem ter passado sem deixar vestígios na população e nos indivíduos. Durante 40 anos, não podíamos viajar para onde queríamos. Estudar no exterior estava fora de qualquer cogitação. Não era possível organizar-se em clubes ou partidos como as pessoas faziam no Oeste do país ou na Europa Ocidental. Tudo isso deixou vestígios.

Por outro lado, não podemos nos esquecer de que as pessoas – assim como na Polônia e na República Tcheca – prepararam uma revolução pacífica e as mudanças globais dela resultantes. As forças se desenvolveram na ditadura, e o desejo de criar algo está em evidência até hoje. As pessoas sentem alegria em poder finalmente assumir responsabilidade.

Não acredito que haja um sistema de valores diferente, particularmente porque tudo vai se igualando agora, com a geração mais jovem.