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Beatificação polêmica

28 de outubro de 2007

Vaticano causa indignação ao beatificar "mártires" da guerra civil espanhola. Parlamento em Madrid deve aprovar lei de reabilitação das vítimas da ditadura de Franco.

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Maior beatificação da história da Igreja indigna vítimas da ditadura de FrancoFoto: AP

Numa cerimônia polêmica e sem precedentes na história da Igreja, o Vaticano beatificou neste domingo (28/10) 498 católicos mortos pelas milícias de esquerda durante a guerra civil espanhola (1936-1939), entre eles dois bispos, 24 padres e um grande número de monges e freias.

A beatificação dos chamados "mártires" da guerra civil foi duramente criticada na Espanha, principalmente pelo governo socialista do primeiro-ministro José Luiz Rodriguez Zapatero, que pretende reabilitar as vítimas de perseguição da ditadura de Franco.

O Parlamento espanhol deverá aprovar um projeto de lei nesse sentido na próxima quarta-feira, contra os votos da oposição conservadora. O avô de Zapatero, que lutou ao lado dos republicanos na guerra civil, foi executado por seguidores de Franco.

Esteio da ditadura

A Igreja Católica espanhola apoiou, em 1936, o levante do futuro ditador Francisco Franco contra o governo republicano. Em consequência, ela virou alvo de atos de violência anticlerical. Mais tarde, Franco mandou executar milhares de republicanos, com a conivência da Igreja – ainda hoje estão sendo resgatados restos mortais das vítimas das valas comuns.

Parentes das vítimas do regime de Franco também criticaram a beatificação. Eles lembraram o apoio dado pela Igreja ao ditador espanhol, que chegou ao poder com a ajuda da Alemanha nazista e a da Itália fascista. Estima-se que mais de meio milhão de pessoas morreram na guerra civil espanhola.

O cardeal português José Saraiva Martins, prefeito da Congregação para Beatificação e Canonização, que presidiu a cerimônia diante de 40 mil pessoas na Praça de São Pedro, tentou acalmar os críticos, afirmando que nas beatificações não trata de valores universais "e, sim, de um apoio pessoal a Cristo, salvador do cosmo e da História".

O papa Bento 16 disse que os beatificados "nos ensinam a atuar incansavelmente pela caridade, a reconciliação e a convivência pacífica". A Igreja Católica até hoje não pediu perdão por seu apoio à ditadura de Franco.

O secretário-geral da Conferência dos Bispos Espanhóis, Juan António Martínez, desmentiu qualquer relação entre a beatificação em massa e o projeto de lei a ser votado pelo Parlamento espanhol. Durante o pontificado do papa João Paulo 2º, o Vaticano já havia beatificado 471 católicos espanhóis. (gh)