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G8: elite desatualizada

Richard A. Fuchs (as)10 de maio de 2007

A sigla G8 deveria reunir as oito nações mais industrializadas do planeta, mas especialistas afirmam que a composição do grupo não reflete a economia mundial e defendem a inclusão de países como a China e o Brasil.

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Hu Jintao (e), presidente da China, está na foto oficial, mas não integra o G8Foto: AP

O economista-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs, Jim O'Neill, é um dos principais críticos da atual composição do G8, o auto-intitulado grupo das sete nações mais industrializadas do mundo mais a Rússia. "Eu não entendo por que um país como a Itália ainda deva participar deste grupo", avalia.

O'Neill é o autor de um dos mais respeitados estudos sobre potências econômicas do ano 2050. Nele são citados o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, mas não a Itália. "Há tempos que a Itália é uma diminuta parte da economia mundial, mas ainda assim participa, nos encontros de cúpula do G8, de todos os grandes comunicados sobre como o mundo deve funcionar."

Muita conversa, poucas decisões

O'Neill não é o único a contestar a importância do G8, tido como um clube no qual muito se fala e pouco se decide. Alguns cientistas defendem mesmo a abolição dos encontros, marcados pela informalidade e pela falta de comprometimento – não há um orçamento nem um documento de fundação.

Deutschland Klima G8 Umweltministertreffen in Potsdam
Emergentes participam do encontro de ministros do meio ambiente em PotsdamFoto: AP

O motivo para o fim: discute-se muito sobre o perdão da dívida dos países pobres, o terrorismo internacional e a proliferação das armas de destruição em massa. Mas as inúmeras declarações emitidas não mudaram nada na situação do planeta. A principal explicação para isso é que o G8 não possui regras que obriguem os participantes a implementar as promessas feitas durante os encontros.

Debates sem Brasil, China ou Índia?

"Mas o pior é que os participantes errados sentam à mesa", afirma O'Neill. Para ele, o atual G8 espelha o mundo como ele era há 62 anos. "Querer governar o mundo de acordo com o esquema do pós-guerra é uma idéia muito ingênua." O'Neill não esconde o entusiasmo quando é perguntado sobre quais países deveriam, então, compor o grupo.

Ele os batizou de BRIC, e com essa sigla se refere aos mercados emergentes do futuro: Brasil, Rússia, Índia e China. Até 2050, esses países podem se tornar as quatro potências econômicas dominantes no planeta, responsáveis por uma grande parte da produção industrial mundial. A China, então uma força econômica 20 vezes maior do que hoje, terá ultrapassado os EUA. Em 2050, os países BRIC podem ter até mesmo um peso econômico maior do que os membros do atual G7.

Primeira Divisão com rebaixamento

Durante muito tempo, os países do G8 ignoraram essa dramática mudança na economia mundial. Somente no encontro de 2005, em Gleneagles, China, Índia, Brasil, África do Sul e México foram oficialmente convidados, sob o slogan "G8 plus 5". Uma reação positiva, na opinião do cientista Peter Hajnal, integrante do grupo de pesquisa sobre o G8 da Universidade de Toronto.

Uma alternativa seria criar um grupo que reunisse os governantes das 20 nações líderes no planeta. Mas essa opção poderia tornar ainda mais difícil a obtenção de resultados concretos e não é levada a sério por ninguém, afirma Hajnal.

Umsatz im Hafen von Schanghai steigt
Porto de Xangai, símbolo do crescimento econômico chinêsFoto: dpa

O'Neill também é contra a expansão do G8. Ele defende a adoção de regras para que os mercados emergentes de hoje não se sentem mais à mesa do lado. "Deveríamos aprender com o futebol e criar uma liga da qual apenas as atuais potências mundiais poderiam participar. Nessa liga também haveria rebaixamento e ascensão." O'Neill pensou até num juiz: o FMI poderia definir, de acordo com os indicadores econômicos de cada país, quem está na Primeira ou na Segunda Divisão.

Fazer a bola rolar

Para Hajnal, uma liga das potências mundiais não é uma opção viável. O canadense, que já participou de dez encontros na condição de observador, duvida que alguns países BRIC queiram fazer parte do grupo. "A China reiterou várias vezes que não gostaria de subir para o grupo das oito nações mais industrializadas", lembrou.

"Do ponto de vista econômico, os chineses lucram com o fato de serem considerados um país emergente." E, caso o país queira participar, a tão criticada informalidade do G8 poderá ser útil. "Há muita flexibilidade para que novos integrantes sejam incluídos." Mas, no que se refere às lições que possam ser aprendidas com o futebol, Hajnal concorda com o O'Neill. "O G8 existe para fazer a bola rolar."