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Migrantes

Steffen Leidel (sv)13 de abril de 2007

Muitos imigrantes ilegais colocam a vida em risco para chegar à Europa. Quando conseguem aportar no Velho Mundo, encontram, com freqüência, um cenário distante do paraíso imaginado.

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Embarcações com imigrantes chegam às Ilhas CanáriasFoto: AP

El Ejido é uma cidade espanhola com 75 mil habitantes sem qualquer atração turística, localizada no centro da maior região produtora de legumes do mundo. Está situada a 30 quilômetros de Almeria, em meio a uma imensidão de estufas, onde são cultivados tomates, pimentões e alfaces sob tetos de plástico.

A mão-de-obra utilizada na produção de 1,5 milhão de toneladas de verduras, voltada basicamente para a exportação, é formada por muitos imigrantes "sem papéis". Segundo o senegalês Mustafá, de 27 anos, os imigrantes esperam "até cinco horas" para conseguir um lugar no trabalho diário da colheita.

Os "ilegais de plantão" à espera do próximo agricultor disposto a oferecer trabalho não vêem com bons olhos a presença de jornalistas. Afinal, quem é que vai querer parar para dar trabalho a um ilegal, na presença de uma câmera ou de um microfone? Mesmo saindo muitas vezes de mãos vazias, imigrantes como Mustafá retornam todos os dias às estradas da região, na esperança de serem "recolhidos" para o trabalho na lavoura.

Rumo ao norte

Mustafá, como muitos outros que se encontram na mesma situação, chegou ao continente europeu de barco, via Ilhas Canárias. "Todo mundo na África quer vir para a Europa", diz o imigrante, mesmo que todos saibam dos riscos que envolvem a travessia para o continente.

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Fronteiras cerradas da UE: vigilância no enclave espanhol CeutaFoto: AP

A vida como ilegal no sul da Espanha, no entanto, não costuma ser fácil. Por isso, vários dos imigrantes sonham em continuar viagem em direção ao norte, seja rumo a Valência, Barcelona, França ou Alemanha. "Aqui não tenho casa, durmo na garagem de uma obra em construção e até na rua", conta o senegalês.

O sonho de "ter papéis"

Conseguir alugar uma casa, estando ilegal no país, é tarefa quase impossível para os milhares de imigrantes que vivem nos arredores das estufas produtoras de verduras no sul espanhol. Na árida Nijar, que se destaca pela produção de alfaces, vivem principalmente marroquinos.

Em uma das estradas que circundam a cidade, um casarão abandonado em ruínas, conhecido como Casa Velha, chega a abrigar 50 jovens imigrantes vindos do Marrocos. "Vim há dois anos de caminhão via Tânger [cidade situada no norte do Marrocos, junto ao Estreito de Gibraltar] e estou há oito meses aqui", conta Halib, de 22 anos.

Más condições de trabalho e baixos salários

"Não são poucos os donos de produções agrícolas que se aproveitam da situação dos migrantes para explorá-los", critica Abdelkader Cacha, do sindicato dos agricultores SOC. O sindicalista, ele próprio marroquino, procura defender os direitos dos estrangeiros.

"Outro dia, um trabalhador veio até nós denunciar as más condições de trabalho, depois de ter recebido doses de agrotóxicos nos olhos", relata Abdelkader. O dono da estufa, porém, continuou negando que se tratava de um acidente de trabalho. O caso não é único. Vários imigrantes ilegais acabam adquirindo enfermidades diversas durante a colheita. "Eles não têm máscaras, nem roupas adequadas. Quem reivindica, é mandado embora", diz Abdelkader.

Riqueza às custas dos imigrantes

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Pimentões: colheita feita por imigrantes ilegaisFoto: dpa

A ironia é que as exportações de produtos agrícolas são o principal fator responsável por ter transformado a então pobre Almeria em uma das regiões mais ricas da Espanha. Em meio aos muitos ilegais, há também alguns imigrantes que conseguiram regularizar a situação, como é o caso do senegalês Abdul.

Morando na Espanha há nada menos que 18 anos, ele se estabeleceu em Roquetas del Mar, num bairro conhecido como a região "das duzentas casas", habitada basicamente por estrangeiros. "Antes ainda havia espanhóis aqui, mas eles acabaram vendendo tudo e foram embora", conta Abdul.

O senegalês, depois de quase duas décadas no país, conseguiu abrir um posto telefônico, uma mercearia e recentemente um bar, criando, com isso, empregos na cidade. "As pessoas costumam freqüentar meu bar para assistir a jogos de futebol, enquanto sirvo comidas típicas do meu país", diz ele.

Saudades de casa permanecem

Até conseguir uma situação estável na Espanha, o senegalês passou por maus pedaços, tendo trabalhado durante muitos anos nas estufas da região. A legalização dos papéis, ele conseguiu através do auxílio de seu antigo chefe. A relação com os imigrantes que chegam hoje também não é das mais fáceis. "É difícil dizer a eles: aqui não há trabalho para vocês."

Apesar de ter se adaptado à nova vida, o senegalês está longe de ser um exemplo bem-sucedido de migração. Há 12 anos sem ver seus próprios pais, ele diz que, às vezes, tamanha é a saudade de seu país que ele chega a sonhar nunca ter, um dia, chegado à Espanha.