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Embargos: quanto mais efetivos, mais nocivos

Martin Schrader (rr)2 de novembro de 2006

Sanções econômicas podem ter conseqüências catastróficas para um país. Mesmo assim, são vistas como efetivo instrumento de controle da política internacional. Especialistas de outras áreas criticam severamente a prática.

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Contêineres no porto de Hamburgo
Contêineres no porto de HamburgoFoto: dpa - Bildfunk

Embargos econômicos são um dos meios preferidos da política internacional para repreender os chamados "países vilões", como a Coréia do Norte, por exemplo. No entanto, sua eficácia vem sendo questionada tanto por economistas quanto por pacifistas.

Segundo o pesquisador Peter Strutynski, as sanções impostas pelo Conselho de Segurança da ONU à Coréia do Norte não terão o efeito esperado, ou seja, não levarão o regime a interromper seu programa nuclear. "Em vez disso, vão apenas aumentar o sofrimento da população", alerta Strutynski, que coordena uma equipe de pesquisa sobre a paz na Universidade de Kassel.

Landwirtschaft in Nordkorea
Plantações de arroz serão afetadas pelo embargoFoto: dpa - Report

Em 15 de outubro último, após os testes feitos pela Coréia do Norte com bombas nucleares, a ONU anunciou uma série de sanções, que aos poucos vêm sendo implementadas por países como Coréia do Sul, China, Austrália e Estados Unidos.

Elas prevêem a interrupção do comércio de produtos bélicos e restrições a viagens de membros do governo coreano. No entanto, Strutynski critica, entre outras coisas, o fato de inseticidas serem classificados como produto militar, prejudicando a agricultura e a população.

"Arma de destruição em massa"

Um bom exemplo de como tais embargos podem ter consequências devastadoras para a população de um país sem afetar seu governo é o Iraque. A ONU impôs um amplo embargo econômico contra o país durante 13 anos, até a ocupação pelos Estados Unidos e seus aliados em 2003.

Hans von Sponeck, ex-coordenador do programa Petróleo por Alimentos, conheceu de perto os efeitos do embargo. Em um livro publicado em 2005, o diplomata aposentado caracteriza as sanções da ONU como "arma de destruição em massa". Em entrevista à DW-WORLD, ele acrescenta que "elas tomaram dimensões semelhantes a um genocídio", referindo-se ao 1,5 milhão de pessoas que morreram vítimas das sanções.

Hans von Sponeck
Hans von SponeckFoto: AP

Van Sponeck alerta para os efeitos contraproducentes de tais medidas econômicas e conta que, no Iraque, conheceu médicos, padres, ministros, professores, funcionários públicos aposentados, estudantes universitários e donas de casa – "uma ampla amostra da sociedade, unida pela resistência a algo que consideram uma política internacional absolutamente inadequada".

Economistas avaliam

À mesma conclusão chegou um estudo do departamento de Ciências Financeiras da Universidade Friburgo, na Suíça. Com os embargos, os "países emissores" querem prejudicar os "países vilões" para forçar seus governos a mudanças de comportamento, explica o diretor Reiner Eichenberger.

"Essa idéia parece tentadoramente fácil, mas é infelizmente errada", explica. Pois, embora embargos multilaterais possam levar à ruína econômica, análises mostram que eles, em geral, fortalecem o governo. Saddam Hussein e Fidel Castro são provas de como ditadores podem permanecer no poder apesar de embargos econômicos.

Da mesma forma, Iassir Arafat tirou proveito do bloqueio de Israel, aproveitando para distribuir os bens racionados à população carente e garantindo assim seu apoio político. A própria Coréia do Norte já está acostumada desde os anos 50 a sanções econômicas, sem que o embargo imposto pelos EUA tenha conseguido destituir o regime comunista.

Coragem política pode valer a pena

Nordkoreanische Arbeiter
Trabalhadores norte-coreanosFoto: AP

Mas que meios restam à política internacional, se embargos provocam efeitos contrários ao desejado e prolongam a duração de um regime ao invés de encurtá-la? O pesquisador Strutynski, o diplomata Von Sponeck e os cientistas financeiros da Universidade Friburgo estão de acordo: só resta o diálogo político.

"Quando se quer segurança, é preciso antes de mais nada levar em conta os interesses dos outros quanto à esta segurança", argumenta Strutynski. Ele sugere uma garantia de não invasão à Coréia do Norte, para eliminar de cara certos receios que o governo possa ter. Von Sponeck vai ainda mais longe e sugere que os Estados Unidos negociem diretamente com milícias armadas como Fatah ou Hisbolá para garantir uma maior segurança internacional.

Tais medidas exigem enorme coragem política, que talvez poucos possuam, mas que podem trazer grande reconhecimento. Como mostra o gesto do ex-presidente sul-coreano Kim Dae, cuja viagem para a Coréia do Norte no ano 2000 permanece até hoje o único encontro de cúpula entre os dois países desde a divisão em 1953. Ainda no mesmo ano, Kim Dae foi agraciado com o Nobel da Paz por seus esforços.