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Como enfrentar a onda de imigração nas Ilhas Canárias?

Mirra Banchón (em)6 de setembro de 2006

O fluxo de imigrantes nas costas espanholas aumenta. Enquanto a Espanha se desespera, a Europa acusa. A DW-WORLD conversou sobre esse tema com Axel Kreienbrink, especialista no assunto.

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As mãos machucadas de um imigrante africano sobre cerca de um centro para refugiados na EspanhaFoto: picture-alliance/ dpa/dpaweb

"A Espanha assiste impotente à chegada maciça de imigrantes", estampam os jornais. A DW-WORLD conversou a respeito com o especialista em imigração Axel Kreienbrink, autor do livro: Espanha país de imigração – Política de imigração entre a europeização e os interesses nacionais.

DW-WORLD: É verdadeira a afirmação de que a Espanha está impotente diante da chegada dos imigrantes africanos?

Axel Kreienbrink: Como Estado individual, sim, bastante, porque possui fronteiras muito extensas, não sendo possível vigiá-las completamente. E porque, como acontece agora nas Canárias, quando uma medida de política de imigração funciona melhor, como é o caso do Marrocos, os imigrantes partem de outras localidades. Como da Mauritânia, Senegal e Cabo Verde.

O senhor acha que existe uma medida capaz de frear esta onda imigratória?

A curto prazo pode-se aumentar a segurança, como exigem os políticos, isso significa mais controle, mais Marinha, mais barcos que interceptem os navios frente às costas do Senegal e Mauritânia. Entretanto essa é uma medida que depende de um acordo com esses países. Como aconteceu com o Marrocos, onde tudo funciona muito melhor se compararmos com os anos anteriores. Entretanto, através dessa rota ainda chegaram mais de 6 mil pessoas na Península Ibérica desde o começo do ano. Assim, é difícil impedir o fenômeno a curto prazo.

E uma medida a longo prazo?

Depende da duração do prazo. A resposta clássica a longo prazo é a de que se solucionassem as razões da emigração da África, as pessoas teriam menos motivos para ir embora. O problema é que, ao iniciar uma boa ajuda ao desenvolvimento – e é questionável a atual política de desenvolvimento e cooperação –, a curto prazo dá-se o fenômeno de crescimento da emigração, pois no momento em que se aumentam os meios econômicos de uma região, as pessoas têm imediatamente os recursos para abandoná-la. E assim o fazem. Isto só pode ser visto como uma estratégia a muito longo prazo.

Elendsflüchtlinge aus Afrika
Barco com imigrantes africanos em direção à costa espanholaFoto: picture-alliance/ dpa/dpaweb

Então existe alguma possibilidade para solucionar o problema?

Perguntar se é possível solucionar esse problema totalmente sugere que se pode suprimir a imigração per se. Contudo, os estudos demonstram que a imigração é um fenômeno que faz parte da condição humana. O problema surge quando existe um fluxo incontrolado em uma região específica, como é o caso da Espanha neste momento. Todavia, se comparado com os verdadeiros fluxos migratórios mundiais, ele é relativamente pequeno. As verdadeiras correntes migratórias se dão agora na África. E a pergunta é se realmente a melhor estratégia é fechar fronteiras. A única estratégia é fazer algo contra a pobreza, a destruição do meio ambiente e a guerra.

A Europa abandonou a Espanha em relação a este problema?

Não, existe um pacote de medidas para a Europa que são válidas para todos os membros da União Européia. Os Estados europeus entraram em comum acordo em relação às medidas, e é preciso levar em conta que em muitas esferas desse tema os próprios membros da UE disseram: "Não queremos que isso seja decidido por Bruxelas". Todos os Estados nacionais têm competências próprias no âmbito da imigração. Sobretudo em relação à imigração de força de trabalho. Nesse sentido não se pode dizer que a Europa deixou a Espanha sozinha. Afinal os Estados nacionais não deram à UE o poder de atuação nesse assunto.

A alternativa seria uma força em nível europeu que possa impedir a imigração. Algo assim está apenas começando, com o Frontex [programa da Agência Européia de Fronteiras]. Basicamente essa operação está ainda em fase de teste, é preciso ver se funcionará.

Mas além das questões políticas e as possibilidades de médio e longo prazo, os imigrantes são reais e estão nas Ilhas Canárias...

A ordem no momento é levá-los à Península, aos centros para refugiados e, após 40 dias, libertá-los, de acordo com a lei em vigor desde 1985. É quase impossível descobrir a proveniência dos imigrantes, pois eles destroem seus passaportes a fim de impossibilitar a sua expulsão do país. Este é um problema central. Ao mandá-los às ruas, acabam permanecendo na Espanha.

A situação nas costas espanholas afeta de alguma maneira a Alemanha?

A médio prazo. Considerando que as pessoas que entram pelo sul da Europa, como pela Espanha e Itália, distribuem-se pela Europa e aí permanecem ilegais.