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Corrupção na Volks respinga em ministro brasileiro

Geraldo Hoffmann20 de outubro de 2005

Ex-líderes sindicais Mário Barbosa e Luiz Marinho (hoje Ministro do Trabalho e Emprego) teriam se "divertido" na Alemanha às custas da Volkswagen. Barbosa diz que "notícia é mentira e calúnia".

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'Nuvens escuras' sobre a VolksFoto: picture-alliance/ dpa

Os privilégios que a Volkswagen concedia a executivos e representantes de seus empregados valiam também para a subsidiária da montadora no Brasil e beneficiaram, entre outros, os ex-líderes sindicais do ABC Mário Barbosa e Luiz Marinho (atual ministro do Trabalho e Emprego).

É o que garante o ex-gerente de Recursos Humanos, Klaus Joachim Gebauer, principal acusado no escândalo da Volkswagen, em entrevista publicada nesta quinta-feira (20/10) pelo jornal alemão Die Welt. Em declaração juramentada, ele afirma que na Volkswagen do Brasil havia um sistema de corrupção paralelo ao que está sendo dissecado pela Justiça na matriz da montadora alemã em Wolfsburg.

Segundo Gebauer, também os sindicalistas integrantes do Conselho de Empresa e executivos brasileiros foram beneficiados por "viagens de lazer". "Para as lideranças, tudo era perfeitamente organizado. Com hotéis de luxo e tudo o mais – portanto, também mulheres", disse.

Ele citou como exemplo uma visita do ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), Luiz Marinho (atual ministro do Trabalho e Emprego), e do ex-diretor do conselho de fábrica Mário Barbosa a uma boate em Wolfsburg, às custas da Volkswagen. "Cinco garotas dançavam sobre as mesas e flertavam com os visitantes, assim como os homens gostam", relatou.

Novos envolvidos no Brasil?

Klaus-Joachim Gebauer
Gebauer: 'Tudo era perfeitamente organizado'Foto: dpa

Até agora, o único nome brasileiro que fora vinculado ao escândalo da Volks era o da apresentadora de TV Adriana Barros. Os dois novos citados por Gebauer têm longa ligação com a montadora.

Marinho trabalhou na seção de pintura da Volkswagen, foi membro da Cipa da montadora durante duas gestões, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do SMAB (1996 a 2003) e da CUT Nacional, quinta maior central sindical do mundo. Foi candidato a vice-governador do Estado de São Paulo em 2002 e passou a integrar o gabinete do governo Lula em julho deste ano.

O engenheiro Mário Barbosa foi membro da comissão da fábrica da Volks (1982), vice-presidente do SMABC (1984-1990) e membro do Comitê Mundial dos Trabalhadores da Volkswagen.

A Assessoria de Comunicação de Marinho informou à DW-WORLD que "o ministro não responde às denúncias e vai processar as pessoas que o estão acusando". Barbosa informou em nota divulgada à imprensa que as denúncias de Gebauer são mentirosas e caluniosas e destinam-se a desviar a atenção da mídia (leia a íntegra da nota no link abaixo).

Diretoria estava informada

De acordo com as informações de Gebauer, o presidente da Volkswagen do Brasil, Hans-Christian Maergner, e o responsável em Wolfsburg pelos executivos na América do Sul, Lauro Alcântara, tinham conhecimento do esquema de corrupção.

Procurada pela DW-WORLD, a direção da Volkswagen do Brasil não quis comentar as denúncias e informou, através da assessoria de comunicação, que somente a matriz está autorizada a prestar informações sobre o caso.

O porta-voz da empresa em Wolfsburg, Thomas Mickeleit, disse à DW-WORLD que a Volkswagen do Brasil, desde o início, foi objeto da auditoria interna que está sendo feita pela KPMG, cujo relatório final será apresentado em 11 de novembro próximo. Mais de 80% dos documentos envolvendo o caso já foram analisados, acrescentou. Ele ressaltou que a Promotoria Pública de Braunschweig foi acionada pela Volks e que a empresa apóia as autoridades nas investigações.

A Promotoria Pública de Braunschweig apura irregularidades supostamente cometidas por Gebauer e outros oito executivos do grupo Volkswagen, além de representantes dos trabalhadores nos Conselhos de Empresa do grupo e dois deputados estaduais do Partido Social Democrata da Baixa Saxônia.

Desvio de sete milhões de euros

Der ehemalige VW-Personalvorstand Peter Hartz, Porträt
Peter Hartz, ex-diretor de RH da Volks renunciou sob acusaçõesFoto: dpa

Segundo o porta-voz da Promotoria, Klaus Ziehe, até agora a Volkswagen do Brasil não é objeto de investigação pela Justiça alemã. "Vamos interrogar Gebauer sobre as novas denúncias e depois avaliar o que pode ser feito e a quem cabe a apuração no caso brasileiro", disse à DW-WORLD.

Gebauer era o "homem de contato" entre o ex-diretor de Recursos Humanos, Peter Hartz, e o Conselho de Empresa. Ele organizava às custas da empresa assim chamadas "viagens de lazer" com "programas paralelos" e pagava as diárias.

O volume desses "gastos especiais" – segundo o acusado – foi de cerca de sete milhões de euros. Até agora, a mídia alemã veiculara informações de que a Justiça tinha provas do desvio de 940 mil euros da Volkswagen. Só para comparar: segundo o site do SMABC, os operários da Volkswagen do Brasil estão em greve por causa de uma diferença de cerca de um milhão de euros entre o que reivindicam e o que a empresa oferece.