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O fim da República Democrática Alemã

Uwe Hessler (av)23 de agosto de 2005

Há 15 anos, o Parlamento da Alemanha Oriental – então comunista – decidiu-se pela fusão com a parte ocidental e, portanto, pela unificação do país. Um momento histórico que pôs fim a 45 anos de Guerra Fria.

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A última parada militar da RDA, em 7 de outubro de 1989Foto: dpa

Foi breve o mandato da democrata-cristã Sabine Bergmann-Pohl como presidente do Parlamento e chefe de Estado da República Democrática Alemã (RDA). Ela o exerceu de 5 de abril a 3 de outubro de 1990. Porém, já em 23 de agosto daquele ano recebeu o encargo de anunciar o que até poucos meses antes seria impensável: a dissolução da RDA, a Alemanha Oriental (comunista).

Das Ergebnis der Abstimmung über den Kompromißantrag, der den Beitritt der DDR zum Geltungsbereich der Bundesrepublik Deutschland am 03.10.1990 Volkskammer
Sabine Bergmann-Pohl, última presidente do Parlamento da República Democrática AlemãFoto: dpa

Seu pronunciamento, às 3h da madrugada, pôs fim a uma tumultuada e histórica sessão. A nação dos trabalhadores e agricultores entrava em colapso, após 40 anos de existência.

O primeiro-ministro da RDA, Lothar de Maizière, declarou tratar-se de um grande dia, que todos deveriam marcar no calendário. As vozes críticas, por sua vez, sublinhavam o fato de que a resolução não fora tomada com a dignidade anunciada.

Independência ou unificação

Antes da votação, duas frentes defendiam posições definidas e inabaláveis: ou os alemães orientais abandonavam seus sonhos de um Estado socialista, reunificando-se com a República Federal da Alemanha (RFA), mais rica, ou a economicamente decrépita RDA tentava preservar algum sentido para seu passado, votando pela independência, pelo menos provisoriamente.

A resposta foi inequívoca: 294 parlamentares manifestaram-se pelo fim da RDA, apenas 62 contra. "O Parlamento aprovou hoje nada menos do que a destruição do Estado da Alemanha Oriental, a ocorrer em 3 de outubro de 1990", declarou na ocasião Gregor Gysi, então líder do Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do antigo partido do governo, o SED (Partido Socialista Unitário da Alemanha).

O Novo Fórum

Berlin Mauer Jahrestag
Alemães do Oeste e do Leste dançam diante do Portão de Brandemburgo, Berlim, em 10 de novembro de 1989Foto: AP

Os incidentes que levaram à votação histórica em 23 de agosto de 1990 constituem uma lição em política de massas. No ano anterior, o movimento cívico Novo Fórum iniciara em Leipzig as decisivas "passeatas de segunda-feira".

Contudo, chegadas as primeiras eleições livres, em março de 1990, o grupo havia sido eliminado do panorama político da RDA. A União Democrata Cristã (CDU), pró-ocidente, passara por cima dele, assumindo o poder e condenando ao esquecimento os que, na realidade, haviam derrubado o comunismo, em protestos pacíficos de rua.

Jens Reich, um dos líderes do Novo Fórum, comenta: "Eu nos vejo como um grupo de pessoas que, por acaso, ocupava a primeira posição diante de uma porta fechada. Começamos a bater na porta e finalmente ela cedeu. Nós caímos e todos os demais correram por cima de nós para o ar livre. Por um momento histórico, estávamos em plena concordância com o espírito das massas. Mas apenas por um segundo".

Concepção simplista falha

No verão de 1990, o Estado alemão oriental estava praticamente falido, só conseguindo sobreviver graças ao apoio do Ocidente. Em junho, a moeda alemã ocidental, o sólido marco, foi introduzida no Leste. O chanceler federal da RFA, Helmut Kohl, acreditava que a economia de mercado repetiria o milagre econômico da Alemanha Ocidental no pós-guerra.

"A concepção era muito simplista, baseada na seguinte idéia: transferimos o sistema monetário da RFA, injetamos verbas no Leste e, após um período inicial caótico, um novo progresso econômico deverá acontecer", analisa o economista berlinense Jochen Blaschke.

Agora, 15 anos mais tarde, grande parte da antiga Alemanha comunista continua sofrendo com altas taxas de desemprego, baixa produtividade e menos perspectivas ainda, a despeito dos 50 bilhões de euros investidos a cada ano na região.

Em lugar do mar de rosas prometido à população do Leste quando da unificação, o que floresce é desilusão e a renovada simpatia pela política de esquerda. Não é de se espantar que Gregor Gysi, o líder esquerdista que uma vez enterrara o partido comunista no Leste, festeje justamente agora seu retorno como um dos presidentes do novo Partido de Esquerda.