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Espanha usa paz para afastar a sombra do terrorismo

Fernando Scheller11 de março de 2005

Um ano depois, país ainda investiga e tenta punir os culpados pelo ato terrorista no metrô de Madri. Ao mesmo tempo, governo promove projetos de integração com imigrantes muçulmanos e garante clima de tranqüilidade.

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Madri relembra as vítimas do atentadoFoto: dw-tv

Com cinco minutos silêncio, a Espanha lembrou hoje o primeiro ano do atentado do grupo terrorista Al Qaeda, que deixou 191 mortos e quase 2000 feridos em Madri, em 11 de março de 2004. Às 7h37, justamente quando a maioria dos madrilenhos se dirigia ao trabalho, uma bomba explodiu em dez vagões do metrô da capital espanhola. Os ecos dos estampidos, porém, podem ser ouvidos até hoje.

Eles estão presentes na peregrinação diária dos feridos que ainda são tratados nos hospitais da cidade e também nas decisões políticas dos altos escalões do governo. Quem olha para trás e analisa as atitudes do gabinete da Espanha nos últimos 12 meses consegue tirar pelo menos uma conclusão: o país mudou sua maneira de ver o mundo.

O caminho liberal

O primeiro recado, porém, veio diretamente da população. Os espanhóis foram às urnas e escolheram modificar a política externa de seu país elegendo o socialista José Luís Zapatero como primeiro-ministro na eleição ocorrida dias após a tragédia. A vitória do liberal Zapatero sobre José Maria Aznar mostrou, logo de início, que a Espanha queria paz.

Anschläge in Madrid Opfer
Dia de terror, um ano atrás: polícia ajuda homem feridoFoto: AP

Embora tenha, em seu discurso de posse, afirmado que o combate ao terrorismo seria uma das prioridades de seu governo – como, naturalmente, teria de ocorrer em um país abatido por um atentado de grande proporção –, o primeiro-ministro resolveu unir o combate aos grupos de guerrilha internacional com uma campanha de integração entre espanhóis e imigrantes, especialmente os provenientes de países islâmicos.

Os sinais dessa política mais liberal podem ser percebidos nas atitudes espanholas dos últimos 12 meses. Poucas semanas após assumir o cargo, Zapatero anunciou a retirada dos cerca de 1300 soldados que o país havia enviado para o Iraque no ano anterior, em demonstração de apoio à invasão norte-americana ao país. A decisão do governo espanhol representou a retirada de um importante apoio internacional para a invasão do Iraque – o ato de Zapatero foi lamentado publicamente pelo presidente dos EUA, George W. Bush.

Ao mesmo tempo em que se alinhou com governos de países mais liberais na Europa – como Alemanha e França –, buscando respeitar os direitos civis e de organização religiosa, a Espanha também tentou encontrar os culpados do ato terrorista que causou a morte de quase 200 madrilenhos. O governo passou a acompanhar mais de perto as atividades de grupos islâmicos, mas também desenvolveu projetos para que os imigrantes que praticam a religião e vivem na Espanha não sejam vistos como criminosos em potencial.

As mudanças nas entrelinhas

Mesmo assim, é difícil usar uma venda e dizer que nada mudou no relacionamento entre espanhóis e, por exemplo, marroquinos, presentes em grande quantidade no país. No bairro madrilenho de Lavapiés, em que a concentração de imigrantes do Marrocos é alta, a vida continua fluindo normalmente, os comerciantes marroquinos continuam a atender clientes espanhóis e a serem vistos como "gente comum". Essa, porém, é uma "quase-verdade".

Jamal Zougam Handyverkäufer und Terrorist
Jamal Zougam, principal suspeito do atentado a bomba em MadriFoto: AP

Isso porque, enquanto alguns dizem que "está tudo normal" e que "as coisas estão exatamente como antes", outros afirmam que houve transformações, embora definitivamente os espanhóis não tenham desenvolvido um ódio generalizado pelos muçulmanos. "Não podemos negar que um cidadão marroquino está envolvido [no ataque ao metrô de Madri]. Isso denigre a nossa reputação", afirma o comerciante Mustafá El Mirabet, referindo-se a Jamal Zougam, principal acusado dos atentados e ex-proprietário de uma loja de telefones celulares em Lavapiés.

Um professor espanhol entrevistado nas ruas de Madri também admite que algo mudou: "Embora eu saiba que é errado olhar para um árabe e associá-lo com terrorismo, é algo que eu não consigo evitar". "Antes, gostávamos de pensar que éramos multiculturais. Agora, de certa forma, voltamos a ser racistas."

Para evitar que esse tipo de impressão de imigrantes árabes seja perpetrada, a Espanha desenvolve um projeto para que a religião islâmica seja ensinada na escola. Assim, todos os estudantes – espanhóis e estrangeiros, católicos ou muçulmanos – aprenderão os ensinamentos do Islã. A comunidade islâmica apóia o projeto e acredita que esse será o primeiro passo para (re)construir a confiança entre pessoas de diferentes culturas que moram na Espanha.

O perigo dentro dos presídios

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Polícia antiterror em ação nas ruas de MadriFoto: AP

Embora dezenas de pessoas já tenham sido presas por suspeita de envolvimento no ataque a bomba no metrô madrilenho, as investigações sobre o atentado ainda não foram concluídas. Um dos setores em que a força-tarefa antiterrorismo criada pelo gabinete espanhol se concentra no momento são as células terroristas criadas dentro dos presídios.

Há indícios de que ataques terroristas possam ser comandados de dentro das prisões. Por isso, a polícia resolveu separar todos os presidiários que tenham algum tipo de envolvimento com grupos guerrilheiros radicais em diferentes instituições, para impossibilitar a organização de novos crimes. Da mesma forma, foi definido que terroristas podem ser colocados em celas isoladas, caso a autoridade dos presídios no país considere isso necessário.