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A crueldade dos games e a ambigüidade da mídia

(pc)6 de agosto de 2004

O crescente interesse pelo game Manhunt, após uma reportagem de tevê, reacendeu o debate sobre o papel ambíguo da mídia em relação à violência e terror.

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Foto: AP

O game Manhunt, produzido pela empresa americana Take 2, é um dos mais cruéis e macabros já lançados no mercado. Seu herói é um criminoso perverso, que se dedica a filmar assassinatos e execuções. Quando mais horripilantes e atrozes forem as cenas de morte, mais o cruel herói será recompensando.

A matança é consumada das formas mais bárbaras: armas de fogo, armas brancas, estiletes, facões, sacos plásticos, cacos de vidro, martelos, alicates, etc. Vale tudo. As execuções são filmadas de todos os ângulos, com câmeras de mão e closes arrepiantes. Jorra sangue por todos os lados. O espectador é literalmente imerso na barbárie das imagens.

Proibição

A atrocidade do game Manhunt virou um caso de Justiça em vários países. Foi o primeiro game a ser completamente proibido na Nova Zelândia, no final de 2003. Na Alemanha foi inicialmente probido para menores, em março de 2004 e, no mês de julho, um tribunal de Munique ordenou a sua proibição absoluta. Todas as versões do game foram banidas e confiscadas das lojas.

Segundo a sentença do tribunal, o Manhunt exalta e banaliza, de forma bárbara e desumana, os atos de violência contra seres humanos. O game glorifica a morte e o assassinato como objeto de diversão, e a violência destina-se a aumentar o grau de entretenimento. Além disso, o Manhunt incentiva fazer justiça com as próprias mãos e abolir completamente as regras básicas de convivência humana, segundo o tribunal.

Críticas da mídia aumentam o interesse pelo game

Na Alemanha, o Manhunt era apenas mais um game no mercado, até que, no início de junho, um programa de tevê apresentou uma reportagem, mostrando muitas cenas detalhadas de mortes e execuções. O programa, que pretendia ser uma advertência contra o game, acabou virando uma propaganda a seu favor.

A procura pelo Manhunt cresceu assustadoramente nas lojas de vídeo, após o programa de tevê. Pessoas que nunca tinham ouvido falar do jogo passaram a querer comprá-lo, revela um representante da cadeia de lojas alemã HMV.

O mesmo fenômeno aconteceu também na Grã-Bretanha, onde um jovem de 17 anos matou brutalmente um de 14 anos, num parque, com um martelo. Como esta ferramenta é usada também no game Manhunt, a mídia sensasionalista britânica acusou o assassino de ter se inspirado no game e pediu sua proibição. Foi o suficiente para que as vendas do Manhunt crescessem na Grã-Bretanha.

A ambigüidade da mídia

O caso do Manhunt é emblemático do papel ambíguo da mídia em relação à violência. Esta mesma ambigüidade também pode ser observada na abordagem do terrorismo pela mídia. Por mais negativa e crítica que seja a reportagem contra a violência e o terror, ela acaba se tornando uma propaganda e um incentivo ao que está sendo denunciado.

Violência, terrorismo, crueldade são temas fundamentais das tevês e dos jornais, na medida em que fornecem imagens de impacto e despertam o interesse. Basta lembrar, por exemplo, das imagens dos soldados americanos nas prisões do Iraque, envolvidos em casos de maus-tratos e torturas mostrados nos telejornais e primeiras páginas no mundo inteiro.

Por mais que a mídia adote uma postura crítica contra a violência, ela mesma se torna cúmplice do que está sendo mostrado ou criticado com imagens e palavras. Esta é a grande ironia do nosso tempo.