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Jürgen Habermas completa 75 anos

(rr)18 de junho de 2004

Um dos filósofos mais famosos e influentes do pós-guerra, o alemão Habermas continua a todo vapor, apesar da idade avançada. Sua mais recente publicação, "O Ocidente dividido", acaba de ser lançada na Alemanha.

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A esquerda alemã continua fiel a HabermasFoto: AP

A obra de Jürgen Habermas marcou como a de nenhum outro pensador a sociedade alemã dos anos 60 e 70 e sua influência ecoa até os dias de hoje. A Alemanha reconhece sua importância não apenas através dos diversos prêmios que lhe foram concedidos, mas através da aplicação real de seus conceitos e teorias: Habermas é o que o ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, chamou de "filósofo do Estado".

Nascido na cidade de Düsseldorf, Habermas estudou filosofia, psicologia, literatura alemã e economia nas universidades de Göttingen, Zurique e Bonn. No começo de sua carreira, trabalhou como jornalista até que o filósofo Theodor Adorno, recém-retornado à Alemanha após o exílio nos Estados Unidos, o convidou para trabalhar como assistente no Instituto de Pesquisa Social, em Frankfurt, no qual permaneceu de 1956 a 1959.

Seria o primeiro contato do jovem Habermas com a teoria crítica da chamada Escola de Frankfurt. Os cinco próximos anos, Habermas dedicou à divulgação da teoria crítica na Universidade de Heidelberg, até que retornou a Frankfurt em 1964 para assumir a vaga de Max Horkheimer no Instituto de Pesquisa Social.

Habermas e a teoria crítica

O Instituto de Pesquisa Social, que na próxima terça-feira completa 80 anos, foi criado nos anos 20 com a intenção de aplicar teorias marxistas à análise de fenômenos sociais, com ênfase na interdisciplinaridade, reunindo assim intelectuais de diversas disciplinas como o crítico literário Walter Benjamin, o psicanalista Erich Fromm e o economista Friedrich Pollock.

À frente do instituto durante os anos 40 e 50, Theodor Adorno e Max Horkheimer formularam duras críticas ao capitalismo e à sociedade ocidental moderna. Diante das atrocidades do nazismo, as duas figuras centrais da chamada "escola de Frankfurt" declararam o projeto do Iluminismo, base da sociedade ocidental moderna, como fracassado. Como sintomas de tal fracasso, eles viam a burocratização da vida, o consumo compulsivo e a manipulação das massas pela mídia.

Mas foi durante a década de 60, em meio às turbulências do movimento estudantil que havia tomado conta da vida acadêmica européia, que as obras de Adorno, Horkheimer e Habermas encontraram acesso ao grande público. Habermas caiu nas graças dos mesmos estudantes, cuja causa ele acabou rejeitando, e foram eles que levaram sua filosofia às ruas.

A relação de amor dos estudantes com a teoria crítica, entretanto, logo se transformou em decepção. Os filósofos sociais do instituto de Frankfurt dispensavam utopias políticas e agitações sociais e por isso foram logo tachados de conformados pelos estudantes, que em 1969 invadiram o prédio do instituto e não saíram até que Adorno chamou a polícia.

A filosofia de Habermas

Em 1981, Habermas publicou a que é considerada sua obra principal, a Teoria da Ação Comunicativa. Trata-se de uma tentativa de restabelecer a relação entre democracia e socialismo, abalada pela ditadura stalinista soviética. Para Habermas, a sociedade é que deve criar suas próprias regras por meio de um discurso não-autoritário, através do qual os próprios cidadãos entram em acordo sobre o que é ou não permitido.

Uma sociedade pode orgulhar-se de sua Constituição, mas não da Nação em si. Tal pensamento é claramente amparado em uma imagem positiva do sujeito atuante e na crença na razão. Para ele, a educação é a arma principal contra os perigos da globalização.

A todo vapor

Habermas, que atua ativamente em jornais e publicações diversas, nunca deixou de expressar sua opinião sobre fatos e acontecimentos da atualidade, sejam eles polêmicos ou não. Nos anos 80, iniciou um debate, no qual acusou o historiador Ernst Nolte de diminuir as conseqüências do holocausto ao questionar sua natureza única na História da humanidade.

E se por um lado considerou aceitável a intervenção militar européia no Kosovo, Habermas classificou a guerra no Iraque como uma afronta aos direitos humanos e sugeriu uma Europa unida e fortificada como contrapeso à influência dos EUA, tema analisado em sua recém-lançada publicação "Der gespaltene Westen" (O Ocidente dividido). Habermas salienta também a importância de não deixar que as negociações da Constituição européia sejam dificultadas por vaidades nacionais.

A esquerda alemã permanece fiel a Habermas, mesmo que o pós-modernismo tenha criticado duramente a consistência de suas teses como ainda presas ao espírito iluminista e ao sujeito como protagonista. Suas alternativas ao nacionalismo, historicamente ultrapassado, marcou de tal forma o discurso político alemão dos anos 70, que o filósofo da comunicação Norbert Bolz chegou a dizer que "a coalizão entre os social-democratas e o partido verde é a aplicação prática da teoria de Habermas". Segundo ele, "o caminho de Adorno a Habermas é o caminho dos protestos estudantis às bancadas do governo".