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O primeiro grupo pop da história da música

(ns)28 de setembro de 2003

Quase tão conhecidos como os Beatles, a seu tempo, foram os Comedian Harmonists. O grupo fundado há 75 anos tinha um público de milhões pouco antes da Segunda Guerra Mundial.

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Comedian Harmonists em 1930

Foi em 28 de setembro de 1928 que os Comedian Harmonists fizeram sua estréia. no grande Teatro Municipal de Berlim. Seu cachê: 120 marcos. Com vozes afinadíssimas e cantando num estilo completamente novo na Europa de então, o sexteto fez um sucesso quase instantâneo. Nesses anos que antecederam a catástrofe da Segunda Guerra Mundial, eles conquistaram um enorme público na Alemanha e na Europa.

As canções Veronika, der Lenz ist da (Verônica, a primavera chegou), Ein Lied geht um die Welt (Uma canção dá a volta ao mundo) e Mein kleiner grüner Kaktus (Meu pequeno cacto verde), transformaram-se em grandes sucessos. Com sua atuação nos concertos, discos e em filmes, os rapazes impecáveis em seus smokings conquistaram os corações.

Tudo começou com um anúncio

O filme Comedian Harmonists conta a estória do grupo que começou assim: no início de 1928, Harry Frommermann, um aluno de teatro que acabava de completar 18 anos, colocou um anúncio num jornal de Berlim, procurando cantores para formar um grupo vocal no estilo do Revellers americano, que acabava de surgir nos EUA. Uns cem candidatos responderam ao anúncio, mas somente Robert Biberti, com uma extraordinária voz de baixo, convenceu Frommermann.

Dias depois, Biberti trouxe dois colegas do coro do Teatro Municipal, o búlgaro Ari Leschnikoff (tenor) e o polonês Roman Cykowski (barítono). Em março de 1929 Erich Collin aderiu ao grupo e pouco depois o pianista Erwin Bootz, com o que o Comedian Harmonists estava completo. Os ensaios duraram meses em que eles afinaram as vozes e aperfeiçoaram o estilo, também da apresentação, que acabou ganhando um toque cômico mas elegante, como combinava com os dourados anos 20. Como costuma acontecer com qualquer grupo, mesmo talentoso, tiveram que lugar para abrir caminho e assim cantavam onde dava, por pequenos cachês.

O caminho do sucesso

Uma pequena amostra, na tentativa de cantar no renomado "Scala" acabou num fiasco. O local é de diversão e não uma agência funerária - tiveram que ouvir como veredito fulminante. A sorte só mudou quando foram ouvidos por Eric Charell, que era uma espécie de rei dos espetáculos de variedades. Após uma atuação em Hamburgo, veio o sucesso. A partir dai, onde cantassem a casa estava lotada. Os Comedians foram a Colônia e Leipzig, o rádio passou a transmitir seus concertos, seguiu-se um contrato com uma gravadora.

Plakat der Comedian Harmonists
Cartaz do sexteto nos anos 30Foto: Dirk Praetorius

"Os gritos, o entusiasmo do público - eu fiquei admirado" - iria lembrar-se, depois, Leschnikoff. Não só a forma de cantar era diferente, a reação do público também: os Comedian Harmonists foram os primeiros cantores a causar gritinhos, reações histéricas e o grande auê que o público costuma fazer quando cantam os "seus" ídolos. Em suma: o primeiro grupo da história da música pop.

Em 1930, foram cantar em Amsterdã. No filme "Os três do posto de gasolina" - de alta bilheteria - eles entoaram Ein Freund, ein guter Freund (Um amigo, um bom amigo), melodia que logo era assobiada pelas ruas. Com um concerto em 1932 na Filarmonia de Berlim, o grupo acabou conquistando também o público de música clássica.

Nacional-socialismo acaba com o sexteto

O sexteto, inicialmente, não encarou os nacional-socialistas como uma ameaça, protegido que estava por sua popularidade. No entanto, logo após Hitler assumir o poder, em 1933, tudo complicou-se, pois três dos seis rapazes eram judeus.

Alguns concertos foram cancelados, a companhia cinematográfica UFA já não convidava os Comedian Harmonists para filmagens. Depois que o ministro da propaganda, Joseph Goebbels proibiu apresentações públicas de judeus, em março de 1934, não restou nada a fazer senão despedir-se do público com um concerto em Munique.

Metade ficou, os três judeus partiram

A seguir, houve desentendimentos entre os judeus e os não-judeus do grupo. Apresentações no exterior pareceu ser a saída ideal, quando havia convites dos Estados Unidos e da Noruega. Através de um show no porta-aviões "Saratoga", os Comedian Harmonists tornaram-se conhecidos também nos EUA.

Apesar do êxito no exterior, o sexteto regressou à Alemanha. Biberti, Bootz e Leschnikoff tornaram-se membros da Cârmara da Cultura do Reich em 1935, uma instituição a que havia que filiar-se para conseguir sobreviver como artista. Com isso, estava selada a divisão e o destino dos músicos. Frommermann, Cycowski e Collin - os judeus - tiveram que abandonar a Alemanha com suas famílias. Esse foi o fim do Comedian Harmonists, cuja estória Joseph Vilsmaier levou às telas.