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Jornais alemães destacam investimento angolano em Portugal

30 de setembro de 2011

Os jornais alemães da semana renderam uma homenagem especial à queniana Wangari Maathai. Outro dedicou espaço a um artigo sobre os investimentos angolanos em Portugal. Crânios de vítimas do genocídio também são tema.

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O pai da maior investidora angolana em Portugal é o Presidente da Angola José Eduardo dos Santos (foto)Foto: picture alliance/dpa

A crescente participação angolana em empresas portuguesas começou a chamar a atenção dos jornais alemães.

O jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung dedica um artigo às atividades de Isabel dos Santos, filha do presidente angolano José Eduardo dos Santos, em Portugal.

O jornal descreve em pormenor como a ex-colónia acorre aos "saldos" de Lisboa, onde o governo, empenhado em solucionar a crise de dívidas, anunciou um vasto programa de privatização. Recorde-se que Isabel dos Santos já está na lista dos maiores acionistas da bolsa de valores de Lisboa.

O periódico enumera a participação da filha do presidente de Angola em empresas de energia, bancos e telecomunicação portuguesa bem como ressalta que ela já é a maior investidora angolana em Portugal, ao lado da empresa estatal angolana Sonangol. Ambos têm em Portugal investimentos de muitos mil milhões de euros.

Antigamente, os angolanos trabalhavam para os portugueses já que durante a guerra civil muitos fugiram para Portugal. Mas o Frankfurter Allgemeine escreve que o quadro mudou: "segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, já vivem em Angola cerca de 100 mil portugueses".

Ao lado de Angola, também o Brasil acabou por se transformar em destino predileto para muitos ibéricos, depois de Portugal ter sido destino para muitos brasileiros, durante muitos anos.

O ex-presidente Lula da Silva foi quem lembrou os investimentos portugueses no Brasil - no valor de 20 mil milhões de euros - e apelou aos empresários brasileiros para investirem em Portugal argumentando que este país poderia ser a porta de entrada para a África e à Europa. Agora, argumentos parecidos estão a ser utilizados por Angola.

O artigo do Frankfurter Allgemeine conclui que as posições se inverteram entre Portugal e Angola e cita João Freitas e Costa, famoso advogado com escritórios tanto em Luanda como em Portugal, que diz: "Gostemos ou não, precisamos aceitar que Angola é uma potência e Portugal apenas um país pequeno".

Frankfurter Allgemeine Zeitung: Wangari Maathai

Die Friedensnobelpreisträgerin Wangari Maathai aus Kenia
Wangari Maathai, prémio Nobel da Paz em 2004Foto: AP

Wangari Maathai foi a primeira, e até hoje única mulher africana, a receber o prémio Nobel da paz. Ela faleceu no domingo (28/09) com 71 anos de idade.

O Frankfurter Allgemeine Zeitung recorda que ela foi sempre a primeira: "a primeira leste-africana a obter o seu doutoramento, a primeira a ensinar na universidade de seu país e depois a dirigir um departamento universitário".

O combate desta mulher contra a destruição das florestas no Quénia valeu-lhe o prémio Nobel da paz em 2004. Graças ao "Movimento da Cintura Verde", criado por ela, o jornal nota que "foram plantadas nesses últimos 35 anos, 45 milhões de árvores em vários países africanos".

Tageszeitung

Para o Tageszeitung, "o parque Uhru de Nairobi, verdadeiro pulmão verde da metrópole queniana, permanecerá um monumento à glória de Wangari Maathai".

Em 1989, lembra o quotidiano, "o presidente Arap Moi queria destruir o parque para ali construir imóveis. Wangari Maathai, levou a cabo uma ação de protesto, mas sem muito sucesso".

Tagesspiegel

Hererofrauen
Mulheres Hereros, NamíbiaFoto: AP

"Mas foi a primeira manifestação da cidadania conseguida contra a ditadura de Moi e não foi a última vez", lê-se por outro lado no Tagesspiegel.

Segundo o jornal, Wangari Maathai sempre se envolveu em polémica com o governo no poder porque ela queria salvar as árvores e os dirigentes não se preocupavam com o meio ambiente.

Se a floresta de Karura, nos arredores de Nairobi ,existe até hoje; se a venda deste espaço público pelos políticos corruptos pôde ser interrompida; foi graças à ação de Wangari Maathai - sublinha o quotidiano.

"Para aquela que foi uma das primeiras ecologistas africanas, a miséria social e a destruição do meio ambiente estavam intimamente ligadas", conclui o jornal.

Outro tema abordado pelo Tagesspiegel foram crânios de vítimas do genocídio: "A Alemanha acaba de dar um primeiro passo em direção à justiça ao repatriar para a Namíbia, crânios de vítimas do genocídio dos Hereros e dos Namas".

O Tagesspiegel escreveu que "são crânios de seres humanos, sem nome, expostos em vitrinas... testemunhos de um passado alemão duvidoso e de uma pesquisa científica que permaneceram desconhecidos durante muito tempo. São os restos humanos de vítimas da guerra colonial alemã, levada a cabo de 1904 a 1908, na Namíbia".

"Há anos que descendentes dos Hereros e dos Namas mortos pelos alemães exigem a restituição desses crânios", acrescenta o jornal. Uma delegação de 60 namibianos esteve em Berlim para receber 23 mil crânios que estariam na Alemanha.

O jornal recorda que uma "verdadeira campanha de extermínio foi levada a cabo contra os Hereros e os Namas, na que foi na altura a colónia alemã do Sudoeste africano".

Oitenta por cento dos 80 mil Hereros e 10% dos 20 mil Namas que se juntaram à insurreição contra a presença alemã morreram.

O quotidiano destaca: "a cobiça dos alemães não se limitava à terra e às suas riquezas. A colónia alemã interessava-se também pela pesquisa científica. A Alemanha queria criar na altura um 'arquivo de raças', ou seja, ao medir os crânios queria provar a superioridade da raça branca".

Para o presidente do comité dos Hereros, o repatriamento dos crânios é um primeiro passo para o restabelecimento da dignidade dos seus antepassados. "O que falta ainda, conclui o Tagesspiegel, é o pedido oficial de desculpas por parte da Alemanha".

Autor: António Rocha

Edição: Bettina Riffel