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Alemanha ajuda a promover cultura de corrupção em Angola, diz estudo

29 de junho de 2011

Associação Alemã de Informação sobre África Austral, ISSA, divulga em Berlim o dossiê 'Interesses econômicos alemães em Angola', com análise dos investimentos das empresas alemãs no país africano

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O jornalista angolano Emanuel Matondo é co-autor do estudo da ISSA
O jornalista angolano Emanuel Matondo é co-autor do estudo da ISSAFoto: DW

Antes mesmo de ser lançado em Berlim pela ISSA, a Associação Alemã de Informação sobre a África Austral, o dossiê Interesses Econômicos Alemães em Angola já havia gerado polêmicas. É o que explica Rainer Tump, sociólogo e colaborador da Angola-Runde, uma coligação de ONGs alemãs que trabalham com foco em África e que encomendou o estudo: “Tinha uma parte sobre um banco angolano. Houve pessoas que pediram que nós não repetíssemos algumas constatações, como se se tratasse de um perigo para a ISSA, se continuassem essas afirmações”, relata Tump, que falou em censura: “Então decidimos tirar essa parte do estudo. Foi censurado”.

Em seus dez capítulos, o dossiê traz denúncias como violações dos direitos humanos e críticas à ética das relações econômicas entre Alemanha e Angola, questionando o efeito social que elas causam no país africano, como revela o sociólogo Rainer Tump: “Um exemplo é a questão da terra. Pudemos observar que todo investimento estrangeiro tem a ver com a deslocação, [a partir] de aldeias, de milhares de pessoas, sem levar em consideração os direitos deles”.

Por isso, Tump criticou o apoio da Alemanha a Angola: “Nós achamos que não é possível um país como a Alemanha ainda apoiar esse tipo de investimento”.

Alemanha também promove cultura de corrupção, diz co-autor do estudo

Os autores do documento estudaram a presença de cerca de 35 empresas alemãs em Angola, com investimentos que variam entre 100 mil e 5 milhões de dólares. O jornalista angolano e co-autor da publicação, Emanuel Matondo, considera o montate alto e diz que assim se exclui os pequenos investidores: “Quando as empresas não conseguem apresentar este valor, estão fora. São as pequenas e médias empresas que criam mais empregos. Se tivermos uma política por parte da Alemanha que promova as empresas pequenas e médias, poderemos criar emprego lá [em Angola] e dar um passo social para combater a pobreza”, avalia.


Emanuel Matondo alerta ainda que as empresas que decidirem investir em Angola devem estar atentas para não se envolver em negociações suspeitas de corrupção: “Se a corrupção é um crime, a Alemanha também [comete] crimes em Angola”, afirma Matondo. “Se ele [empresário alemão] vai a Angola fazer negócio e acerta uma parceria com um indivíduo que apresenta um conflito de interesses por causa de sua carga política, ou do governo, significa que essa empresa alemã aceita promover essa cultura”, explica.

Bancos alemães desempenham papel chave no “roubo petrolífero”

Para autores do estudo, bancos alemães são "chaves" para o "jogo do roubo petrolífero em Angola". Commerzbank disse não comentar relações comerciais
Para autores do estudo, bancos alemães são "chaves" para o "jogo do roubo petrolífero em Angola". Commerzbank disse não comentar relações comerciaisFoto: AP

O dossiê traz também críticas à atuação de onze bancos alemães em Angola. O co-autor da publicação diz que falta transparência na relação deles com o governo angolano: “Os bancos alemães são considerados peças chaves no jogo do roubo petrolífero em Angola”, afirma Matondo. “Estão, em primeiro lugar, a dar crédito mais caro para Angola. O país tem outras possibilidades de conseguir créditos, mas não faz isso porque não quer abrir as contas. Os bancos alemães dão crédito sem nenhuma condição bancária – que exige que o cliente apresente a situação econômica dele”, critica o jornalista.

Também as exportações para Angola ganharam destaque no dossiê publicado pela ISSA. Segundo o documento, o país africano não estaria apto a importar produtos ou serviços militares da Alemanha. Mas de acordo com Matondo, foi constatada a atuação de empresas neste setor. “Uma empresa de segurança privada que está mencionada no estudo do IBCOL [empresa alemã que presta serviços de segurança]. Como aceitar essa empresa ir a Angola para o treinamento das forças policiais angolanas – que, segundo nossas fontes confidenciais em Angola, estiveram envolvidas em [conflito separatista do enclave de Cabinda]?”, indaga o jornalista angolano.

Contradição da atuação alemã fica evidente no setor militar, diz estudo

Emanuel Matondo afirma que as exportações no setor militar seriam mais um exemplo da contradição entre os princípios defendidos pela Alemanha e a atuação de empresas e organizações alemãs em Angola: “Angola é um país onde o regime atual desrespeita as regras de humanidade”, constata. “E Angola se encontra em conflito interno [Cabinda]. Significa que a Alemanha está colocando os negócios deles em primeiro lugar, deixando abandonado o princípio da humanidade”, ataca.

A reportagem da Deutsche Welle contatou a empresa alemã IBCOL Technical Services em Munique, mas não obteve uma resposta às declarações apresentadas nesta matéria até o fechamento. Um porta-voz do banco Commerzbank, que tem negócios em Angola, declarou por telefone que o banco tem por princípio não comentar as relações comerciais. O banco BHF também tem negócios em Angola e preferiu não comentar as declarações feitas por Emanuel Matondo.

Autora: Cris Vieira (Berlim)
Edição: Renate Krieger / António Rocha

Unidade de petróleo e gás em Angola; segundo maior produtor africano de "ouro negro" "não quer abrir as contas, por isso aceita créditos mais caros de bancos alemães"
Unidade de petróleo e gás em Angola; segundo maior produtor africano de "ouro negro" "não quer abrir as contas, por isso aceita créditos mais caros de bancos alemães"Foto: picture-alliance / Alan Gignoux / Impact Photos