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Chineses em Angola : um novo imperialismo?

9 de março de 2011

As parcerias econômicas entre Angola e China representam uma nova forma de colonialismo. Esta é a ideia defendida pelo ativista Rafael Marques, num artigo publicado no jornal "World Affairs".

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Chineses recebem muito petróleo angolano e os angolanos quase nada em trocaFoto: AP

O analista angolano e ativista dos direitos humanos Rafael Marques, classificou as relações entre a China e Angola de "novo imperialismo". Em entrevista à Deutsche Welle, ele disse que não existe uma integração e nem uma cooperação entre Angola e China para benefício mútuo.

Os chineses recebem muito petróleo de Angola e os angolanos quase nada para a economia e o desenvolvimento do país. Trata-se de uma situação desfavorável à maioria dos angolanos.

Bürgerkrieg Angola 1993
Angola viveu 27 anos de guerra civil, que destruiram as infraestruturas básicasFoto: dpa

Onde tudo começou

Segundo o analista, a relação entre a China e Angola sustenta o regime do Presidente José Eduardo dos Santos. Foi por meio das obras chinesas que o presidente, em 2008, nas eleições prometeu a construção de um milhão de casas, estradas, reabilitação das infraestruturas do país, explica Marques.

O ativista complementou dizendo que muitas dessas infraestruturas feitas por chineses já se encontram em estado avançado de degradação, estradas precisam ser refeitas e novos contratos precisam ser atribuídos para reparar as “obras feitas de forma descartável”, como o povo gosta de dizer, relembra Marques.

Hospital às moscas

Entre as obras descartáveis, Marques destacou o Hospital Geral de Angola, em Luanda. Passados apenas quatro anos da inauguração, o centro de saúde teve de ser evacuado por causa das fissuras que se abriram no edifício, ameaçando implodir.

A alternativa encontrada foi um hospital de campanha. O ativista angolano lamenta o fato de o país precisar desta infraestrutura agora, sendo que em 27 anos de guerra civil Angola nunca teve um hospital em tendas.

Estradas levadas pelas chuvas

Com relação às estradas, Marques disse que o asfalto de muitas estradas construídas por empresas chinesas desaparecem com as primeiras chuvas.

Hunger in Angola: Mutter mit Baby und Kind wartet vor einem Hospital in Kuito auf Nahrung
Mãe com crianças em frente a um hospital, no Kuito, à espera de comidaFoto: AP

Segundo o ativista, o governo está a excluir os angolanos: “porque se os angolanos participassem desse processo de reconstrução, certamente veriam como as estradas e os hospitais estão sendo mal feitos, e teriam maior capacidade de intervenção e crítica.” O fato dos angolanos não terem acesso a empregos e condições básicas de vida, só lhes resta reivindicar comida e se darem por contentes, finaliza Marques.

A grande bandeira do governo angolano tem sido a reconstrução de Angola, mesmo que esta tenha sido entregue aos chineses. Estima-se que haja 100 mil chineses trabalhando, em Angola, no ramo da construção, imobiliário e do comércio.

Autora: Glória Sousa

Revisão: Bettina Riffel / António Rocha