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Gigatoneladas de diferença

9 de dezembro de 2010

Mesmo que países cumpram o prometido no Acordo de Copenhague, quantidade mundial de emissões irá superar nível que cientistas consideram ideal para manter aquecimento global abaixo dos 2ºC.

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Seca afetou o sudeste da China em 2009, secando reservatórios de águaFoto: picture-alliance/ dpa

De todas as discussões em Cancún sobre financiamento, florestas, transferência de tecnologia e prestação de contas, muito pouco tem sido falado sobre as metas climáticas.

As promessas de combater as mudanças do clima, todas citadas no Acordo de Copenhague do ano passado, listam reduções voluntárias e o objetivo de limitar o aquecimento global abaixo dos 2ºC. Mais ainda há uma diferença – conhecida como a diferença da gigatonelada – entre o que os governos prometem e o que os pesquisadores no assunto dizem ser necessário.

"Se os compromissos voluntários assumidos em Copenhague forem implementados, e eu uso o condicional porque ninguém no momento tem a garantia de que eles sejam implementados, nós teremos atingido 60% do caminho que precisamos percorrer até 2020 no que diz respeito ao programa de ações de mudanças climáticas e que permitirá ao mundo a chance de ficar na faixa dos 2ºC", diz Achim Steiner, diretor do Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente, Pnuma.

Limite: dois graus centígrados

Limitar o aquecimento global a 2ºC é crucial para que se consiga evitar seus piores efeitos. "Em torno de dois graus, dois graus e meio, seria aproximadamente o nível em que haveria um aumento da frequência dos eventos climáticos extremos, onde haveria um risco muito maior de atingir pontos de desequilíbrio no sistema climático", afirma Joseph Alcamo, cientista-chefe do Pnuma.

Para que haja boas chances de limitar o aquecimento nesta faixa, os cientistas que trabalharam no relatório de emissões das Nações Unidas apresentado no México dizem que as emissões globais teriam que atingir no máximo aproximadamente 44 gigatoneladas, ou 44 bilhões de toneladas, até o fim de 2020.

Se nada for feito, haverá uma diferença de 12 gigatoneladas entre as emissões de fato e o que seria necessário para limitar a elevação da temperatura em 2ºC até 2020, o que equivale a cerca de 25% das emissões atuais. Mas se os países cumprirem suas promessas, essa diferença será de sete gigatoneladas, diz Alcamo.

"Podemos percorrer 60% do caminho se as ambições expressas em Copenhague simplesmente forem cumpridas", diz Alcamo, ressaltando que num cenário mais otimista da implementação do Acordo, o mundo ficaria a cinco gigatoneladas do que os cientistas dizem que é necessário.

Negociações em andamento

Mesmo esse melhor cenário é marcado por ressalvas que ainda estão em processo de negociação. Assuntos que incluem o acordo em florestas, financiamento para os países em desenvolvimento, assim como as regras complicadas de prestação de contas que diferenciam aumento de emissões de redução ainda devem ser decididas.

Os legisladores precisam se apressar, já que todos os modelos climáticos que calculam como manter o aquecimento em 2ºC indicam a mesma coisa, como esclarece Ramzi Elias, da Fundação Europeia do Clima: "Todos os modelos que indicam uma chance de limitar o aquecimento em 2ºC têm níveis de emissões que atingiram o pico e começaram a cair antes de 2020. Portanto, o que faremos nos próximos dez anos é realmente crucial".

Deixar para depois de 2020 os grandes investimentos necessários para a transição a uma economia de baixo carbono seria tarde, devido à natureza cumulativa dos gases de efeito estufa na atmosfera, lembra Elias.

Custos cada vez mais altos

Michel den Elzen, da Agência de Avaliação Ambiental da Holanda, adverte que os custos podem parecer altos agora, mas que eles serão duas vezes mais altos se as diferenças forem eliminadas completamente. Ele estima que o cumprimento das promessas contidas no Acordo de Copenhague custe entre 60 e 100 bilhões de dólares.

"Para fechar esse abismo, acho que será preciso 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial", disse Den Elzen à Deutsche Welle, esclarecendo que a percentagem seria equivalente a 200 bilhões de dólares.

O secretário britânico do Clima, Chris Huhne, disse, no entanto, que a falta de ação pode custar ainda mais, destacando que os eventos climáticos extremos de 2010 deram indicações do que ainda está por vir. "Alguém que tenha qualquer dúvida sobre isso, por favor, tenha uma conversa com as companhias de seguro, porque elas estão pagando bastante por isso."

Chris Huhne acrescenta: "Somente no Reino Unido, na última década, os gastos em consequência de enchentes chegaram a 4,5 bilhões de libras, enquanto nos dez anos anteriores esse número havia sido de 1,5 bilhão de libras. Essas são duras evidências dos custos que estão sendo causados na nossa economia, e temos que combater esse problema".

Autor: Nathan Witkop (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer