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Tolstói e a Alemanha

15 de novembro de 2010

Mostra, que acontece na Literaturhaus, em Munique, até 31 de janeiro de 2011, traz à luz laços entre o filósofo e o país que tanto o inspirou.

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Sepultura de Tolstói na RússiaFoto: unodue\{

"Ein Licht ist mir aufgegangen" (uma luz se acendeu em mim, em tradução livre) escreveu Leo Tolstói em alemão no ano 1861, depois de um encontro em Berlim com o escritor Berthold Auerbach. Para ele, escrever em um idioma estrangeiro era algo excepcional: há muitos manuscritos em alemão do famoso escritor russo. Uma prova disso é o diário de Tolstói à mostra numa exposição na Literaturhaus, em Munique.

Lev Tolstoj 1908 in Jasnaja Poljana
Leo Tolstói em 1908Foto: Staatliches L.N. Tolstoj Museum, Moskau

Também estão sendo expostas cópias dos cadernos de viagem dos anos 1857-1861, extrações das correspondências trocadas com seus 2 mil leitores alemães e outros documentos valiosos. O material mostra como o autor russo conhecia bem a Alemanha.

Svetlana Novikova, especialista em manuscritos do autor e perita do Museu Tolstói, de Moscou, fala de sua paixão pela Alemanha: "Ele amava a música alemã, Beethoven, Bach e os filósofos e escritores que ele podia ler em alemão".

Influência dos professores

O bom conhecimento da língua alemã do escritor nascido em 1828 e batizado Lev Nikolajewitsch Tolstói deve-se ao seu professor, Friedrich Rössl. Segundo a curadora da mostra, Johanna Döِring-Smirnov, a família Tolstói o chamava de Fjodor Iwanowitsch.

"Ele era um soldado que desertou e sapateiro. Uma pessoa relativamente simples, mas com virtudes como compaixão e simpatia, que foram ensinadas a Tolstói", afirma.

Tagebuch von Lev Tolstoj
Diário do escritor pode ser visto na exposiçãoFoto: Staatliches L.N. Tolstoj Museum, Moskau

Outro papel importante para o desenvolvimento do seu senso de justiça foi desempenhado pelo professor Dimitri Meier, da Universidade de Kazan. Aos 17 anos, Tolstói recebeu do professor a tarefa de comparar a czarina Catarina, a Grande, nascida alemã, com o filósofo e iluminista francês Montesquieu.

"Isso o impressionou tanto, que ele se tornou um dos primeiros críticos do czar. Mas, acima de tudo, com Meier ele aprendeu a responsabilidade social para com seus agricultores, e que não é tão importante filosofar, mas implementar a filosofia na prática", diz Döِring-Smirnov.

Depois de abandonar os estudos em Kazan, o jovem conde Tolstói retornou para Iasnaia Poliana, e tentou implementar suas ideias iluministas na propriedade de sua família na Rússia central.

Sua prioridade era a educação da população rural. Na Alemanha, porém, ele procurou em vão por exemplos neste sentido. Nos seus diários de viagem, ele expressou sua indignação sobre o castigo físico e a obrigatoriedade de decorar.

Anos conturbados

Sofja Andrejewna als Braut
Sofia, em foto de 1862Foto: Staatliches L.N. Tolstoj Museum, Moskau

A ligação de Tolstói com a Alemanha se solidificou em 1862 através do seu casamento com a teuto-russa Sofia Andreievna, nascida Behrs, com quem teve 13 filhos. A esposa, 16 anos mais jovem, foi de grande ajuda para o trabalho de Tolstói, até que, em 1881, aos 63 anos, ele abdicasse de privilégios e direitos autorais para viver apenas como camponês.

"Esta já é, por um lado, a história de Konstantin Levin em Ana Karenina, que virou agricultor. Mas em contrapartida foi uma tragédia para Sofia", afirma a curadora.

A ruptura definitiva entre os cônjuges aconteceu pouco antes da morte do escritor. Depois de uma briga com sua esposa, Tolstói saiu de casa aos 82 anos de idade. Ele morreu poucos dias depois, em 20 de novembro de 1910, em uma estação de trem. Ele foi enterrado em Iasnaia Poliana, onde havia nascido, sem uma identificação em seu túmulo, como desejara.

"O que podemos aprender com ele é que a liberdade não é determinada por circunstâncias externas, mas por um desenvolvimento interior", afirma Vitali Remizov, diretor do Museu Tolstói, de Moscou.

A exposição Ein Licht ist mir aufgegangen sobre Lev Tolstói e sua relação com a Alemanha pode ser vista na Literaturhaus, em Munique, até 31 de janeiro de 2011.

Autora: Anila Shuka (mda)
Revisão: Roselaine Wandscheer