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Ministério alemão do Exterior construiu imagem para esconder passado nazista, diz historiador

29 de outubro de 2010

Historiador Peter Hayes, coautor do relatório sobre a participação do Ministério alemão do Exterior em crimes do nazismo, diz que diplomatas se engajaram para construir imagem positiva no pós-Guerra.

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Relatório de gastos onde diplomata justifica viagem para 'liquidação de judeus'Foto: picture alliance/dpa

Alguém poderia pensar que, 65 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, tudo já fora dito sobre o envolvimento do Ministério alemão do Exterior na era nazista. Mas o fato de, em 2005, o então ministro alemão do Exterior, Joschka Fischer, ter encarregado quatro historiadores da elaboração de um relatório esclarecedor sobre o tema mostra que nem tudo se sabia sobre o envolvimento de diplomatas alemães com o regime de Hitler.

O historiador Peter Hayes, da Universidade Northwestern, dos Estados Unidos, é um dos autores do relatório Das Amt und die Vergangenheit (O Ministério e o Passado), divulgado em forma de livro nesta semana em Berlim. Em entrevista à Deutsche Welle, Hayes comenta a participação do ministério alemão no extermínio de judeus pelos nazistas.

Deutsche Welle: Por que somente agora é lançada uma visão detalhada sobre esse envolvimento?

Peter Hayes: O motivo imediato foi a constatação, por parte de Joschka Fischer, de que o Ministério alemão do Exterior continuava a publicar internamente obituários laudatórios de pessoas com passado duvidoso. Ele queria pôr um fim nisso.

Em resposta ao barulho contra a sua decisão, ele apontou uma comissão para estudar o passado do ministério e elaborar um relatório sobre o que realmente acontecera e não acontecera, como também por que o exame sobre o que tinha acontecido não foi minucioso no pós-Guerra. Foi quando nós entramos em ação.

Studie zur NS Vergangenheit des Auswärtigen Amtes Flash-Galerie
Peter Hayes (e), ministro Guido Westerwelle (c) e membros da comissão em BerlimFoto: AP

Agora que sua pesquisa está encerrada, que revelações o senhor apontaria como sendo completamente novas?

Há uma série de coisas que foram novas para mim. Eu não estava ciente de quão conscientemente algumas pessoas se engajaram em construir uma imagem que servisse de álibi para o Ministério do Exterior no final dos anos 1940.

A noção generalizada dos acontecimentos da era nazista, que chamou particularmente a atenção da mídia, já era todavia conhecida pelos especialistas, sobretudo o envolvimento do ministério no Holocausto e, especialmente, suas transações com países parceiros, com os quais a Alemanha nazista tinha que negociar para obter judeus para deportação. O envolvimento de diplomatas alemães nesse processo não era tão bem conhecido, principalmente para o público em geral.

O chefe da comissão que elaborou o estudo, o historiador alemão Eckart Conze, disse à mídia que considera o Ministério alemão do Exterior daquela época como uma organização criminosa. Outros acadêmicos acham que isso é um exagero. Qual sua opinião?

Eu não teria feito a colocação da mesma forma que o professor Conze. Em vez de chamá-lo de organização criminosa, eu teria preferido dizer que o Ministério do Exterior fazia parte de um regime criminoso. Mas se você avaliar isso cuidadosamente parece uma distinção sem diferença. Se a organização em questão faz parte de uma operação criminosa, se participa ativamente na promoção da agenda dessa operação, então, acaba sendo uma organização criminosa.

No passado, dizia-se que pesquisadores tinham enorme dificuldade ao tentar obter documentos que esclarecessem as atividades de diplomatas alemães sob o regime nazista. Quão difícil – ou quão fácil – foi para o senhor obter o material necessário para o livro?

Um dos aspectos mais curiosos no caso do Ministério alemão do Exterior é que ele possuiu arquivos próprios, que são mantidos separados dos arquivos federais. Como resultado, as pessoas que tomam contam dos arquivos estão em conflito de interesses, por assim dizer. Elas têm obrigações duplas. Por um lado, são funcionários do serviço diplomático e, por outro, são arquivistas.

Isso leva a tensões muito complicadas. Nós tivemos uma série de dificuldades para obter certos registros. Não fomos informados da existência de alguns arquivos. Tínhamos que descobrir por nós mesmos e então perguntar diretamente por eles.

Houve momentos de discussões bastante acirradas com o pessoal do arquivo. Mas acho que, apesar de não podermos ter certeza absoluta de ter visto tudo, estamos razoavelmente confiáveis de que obtemos uma visão ampla dos acontecimentos.

Autor: Hardy Graupner (ca)
Revisão: Alexandre Schossler