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Diplomatas e nazismo

26 de outubro de 2010

Relatório de comissão de historiadores afirma que diplomatas participaram ativamente do extermínio de judeus e mostra como o ministério se empenhou em esconder seu passado e proteger criminosos durante o pós-Guerra.

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Anotações do diplomata Franz Rademacher de 1943 sobre "liquidar os judeus"
Sede do Ministério do Exterior, em Berlim, durante o nazismoFoto: Deutsches Bundesarchiv

O envolvimento do Ministério do Exterior da Alemanha no extermínio de judeus durante o regime nazista é maior do que se supunha, segundo o relatório de uma comissão internacional de historiadores criada pelo ex-ministro Joschka Fischer em 2005.

Conforme o relatório, diplomatas do ministério tiveram participação decisiva na morte de judeus pelos nazistas. O presidente da comissão, o historiador alemão Eckart Conze, qualificou o ministério de "organização criminosa" que contribuiu com a política nazista de extermínio.

Além disso, afirma o documento, após o final da Segunda Guerra Mundial o ministério se empenhou em esconder suas ações durante o período nazista. O relatório será apresentado em forma de livro nesta quinta-feira (28/10) em Berlim, mas o seu conteúdo já foi divulgado pela imprensa alemã.

Conze está certo de que o Ministério do Exterior não foi, como o órgão gosta de se apresentar, um foco de resistência ao nazismo. Pelo contrário. Segundo o historiador, a maioria dos diplomatas já viu a ascensão dos nazistas ao poder, em 1933, como "uma redenção".

Mais tarde, o ministério participou, como instituição, dos crimes nazistas. Os diplomatas, de acordo com ele, foram ao mesmo tempo agentes e cúmplices do regime. Poucos teriam resistido à pressão ou oferecido resistência.

"O Ministério do Exterior participou desde 1933 da política de violência do nazismo. Teve participação ativa na perseguição e também no extermínio dos judeus europeus e foi, não é possível dizer outra coisa, nesse sentido também uma organização criminosa", sintetizou Conze.

Ernst von Weizsäcker

Auswärtiges Amt Drittes Reich Holocaust Historiker Studie
Anotações do diplomata Franz Rademacher de 1943 sobre "liquidar os judeus"Foto: picture alliance/dpa

Um dos envolvidos foi o diplomata Ernst von Weizsäcker, pai do ex-presidente da Alemanha Ocidental Richard von Weizsäcker. Na condição de enviado diplomático à Suíça, ele teve participação decisiva na expatriação e desnaturalização do escritor Thomas Mann em função de críticas veementes ao regime nazista.

Von Weizsäcker foi um dos poucos altos diplomatas alemães a ser condenado, após o fim da Segunda Guerra, devido ao seu envolvimento com o nazismo. Ele recebeu pena de sete anos de prisão.

Falsificação da História

No pós-Guerra, o Ministério do Exterior foi bem-sucedido nos esforços em omitir sua participação nos crimes nazistas. E, apesar do passado nazista, muitos diplomatas permaneceram no ministério. E mais que isso: o órgão ajudou a alertar e a proteger criminosos nazistas procurados no exterior.

"Trata-se de repressão da História e, nesse sentido, também de falsificação da História. Trata-se da omissão de informações e sobretudo do trabalho sistemático no sentido de criar uma lenda histórica", analisa Conze.

Além de Conze, o alemão Norbert Frei, o norte-americano Peter Hayes e o israelense Moshe Zimmermann, todos também historiadores, pesquisaram durante quatro anos o passado do Ministério do Exterior da Alemanha. O resultado foi reunido em um volume de quase 900 páginas.

"A sociedade alemã era criminosa"

Moshe Zimmermann Historiker Jerusalem Israel
O historiador Moshe ZimmermannFoto: AP

Para Zimmermann, professor em Jerusalém, a participação do Ministério do Exterior nos crimes nazistas é sintomática e refletia o comportamento de toda a sociedade alemã.

"A sociedade alemã entre 1933 e 1945 era uma organização ou uma sociedade criminosa, e uma organização entre as organizações criminosas era o Ministério do Exterior. O mesmo vale para a Receita Federal ou para o Ministério da Aeronáutica. O problema é que o fundamento era corrupto, o que fica claro nesta pesquisa. O fundamento era nazista e racista", afirmou.

"Constatações chocantes"

O atual ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, saudou o relatório da comissão de historiadores, definindo-o como um documento importante que deverá passar a integrar a formação dos diplomatas no futuro.

"Ali estão algumas constatações chocantes a respeito de como alguns diplomatas do alto escalão estiveram envolvidos naquele regime injusto, na ditadura, nos crimes do Terceiro Reich. Por outro lado, havia também alguns nomes, até hoje desconhecidos, que se empenharam, com uma coragem incrível, em prol da proteção dos judeus, por exemplo", assinalou Westerwelle.

O ministro receberá o resultado da pesquisa, mas a comissão foi criada pelo ex-ministro Joschka Fischer, do Partido Verde. Fischer encarregou a comissão de historiadores, no ano de 2005, de realizar o trabalho após uma discussão interna no ministério a respeito do registro da memória de diplomatas mortos.

Autora: Bettina Marx (sv)
Revisão: Alexandre Schossler