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Apoio a ciganos

10 de outubro de 2010

Assistentes sociais em Berlim estão envolvidas em um projeto que visa dar apoio a famílias de ciganos roma na cidade. A ideia é ajudar essas pessoas a encontrar emprego e apoiá-las na busca de escolas para seus filhos.

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Mulheres da etnia rom em BerlimFoto: Svenja Pelzel

Cristina Nastase chega às oito da manhã em um pátio muito sujo de um prédio cinza e decadente, localizado no bairro berlinense de Tiergarten. Baixinho, ela chama por dois nomes através de uma janela aberta no primeiro andar. As roupas coloridas no varal dão sinais de que muita gente mora ali. Muitos dos inquilinos são ciganos da etnia rom provenientes da Romênia, que chegaram à Alemanha com um visto de turista, e querem ficar.

Cristina Nastase também vem da Romênia. Com seus cabelos escuros e cacheados, o corpo franzino e um rosto marcante, a assistente social e pedagoga de 32 anos trabalha há pouco tempo como streetworkerin para a Associação Cultural do Sudeste da Europa. Sua área de atuação como "trabalhadora de rua" é entrar em contato com os ciganos roma e com trabalhadores itinerantes.

Cristina espera um pouco até David, de dois anos, e sua mãe Angela saírem do prédio. Ela cumprimenta os dois carinhosamente e os acompanha até o jardim-de-infância, onde o pequeno David recebeu, há poucos dias, uma vaga.

Tanto para a criança quanto para sua mãe, essa é uma experiência muito inusitada, pois, até há pouco tempo, os dois passavam o dia pedindo esmolas pela cidade. "A vaga no jardim-de-infância é absolutamente importante. Só assim David terá chance de ter uma infância tranquila e poderá aprender alemão", observa Cristina.

Escolinha no lugar da rua

Cristina und Roma Frauen
Cristina Nastase e mulheres roma nas ruas de BerlimFoto: Svenja Pelzel

Durante a caminhada de 20 minutos até a escolinha, Cristina consola várias vezes o inquieto David e ouve as preocupações financeiras da mãe, conversando com ela sobre seu futuro trabalho – um emprego de diarista e auxiliar no jardim-de-infância para onde vai seu filho. Para a mãe solteira, essa é uma oportunidade de sobreviver sem ter que mendigar. Além de ser uma chance de aprender a falar alemão.

Ao chegar na escolinha, David corre imediatamente para a companhia de outras crianças. Para Cristina, esse é um momento especial: ver como o pequeno David se alegra em estar com outras crianças. "Encontro muitas famílias na rua com crianças. Se pelo menos uma delas tem a chance de desfrutar da infância com serenidade, isso já me toca muito", diz Cristina.

Aprender um novo dia-a-dia

Normalmente, as famílias dos roma acabam não conseguindo se integrar na sociedade alemã em função dos trâmites burocráticos a serem enfrentados. Muitos deles são analfabetos e mal falam o idioma do país. Eles não conseguem, por exemplo, preencher um formulário de matrícula de seus filhos na escola, nem assinar um contrato de aluguel ou providenciar um plano de saúde. E, sem isso, nenhum cidadão europeu pode permanecer na Alemanha. Ou seja, é o início de um círculo vicioso.

Muitos ciganos roma, acompanhados de seus filhos, acabam mendigando pelas ruas ou se oferecendo para limpar janelas de carros nos sinais de trânsito. E vivem, como Angela e David, em apartamentos decadentes, que habitam às vezes ilegalmente.

A educadora Barbara Thorm ofereceu a David uma vaga, sob a condição de que a assistente social Cristina acompanhasse Angela e seu filho durante a primeira semana, na função de intérprete. E também esclarecesse à mãe o quanto a pontualidade, pela manhã, é importante na escolinha. "Muitas vezes as coisas não dão certo não por causa do contexto em si, mas sim pela inabilidade do contato entre as pessoas", avalia Thorm.

"As pessoas vão se abrindo com facilidade"

Enquanto David e sua mãe passam o resto do dia na escolinha, Cristina volta para as imediações da Catedral de Berlim. Ela sabe que ali, na praça que circunda a igreja e onde há um enorme fluxo de turistas, circulam muitas pedintes romenas. Cristina pergunta a uma delas, que carrega um filho no colo, se ela precisa de ajuda.

Enquanto as duas conversam, vão chegando cada vez mais mulheres e crianças, que se apresentam, pedem conselhos e apoio à assistente social. "As pessoas vão se abrindo rapidamente. Não é preciso muito esforço, além de demonstrar humanidade e interesse por elas", diz Cristina. As mulheres pedem para que ela faça uma foto, para ser enviada à Romênia. Fotografar também é parte regular do trabalho da assistente social nas ruas.

É raro Cristina conseguir satisfazer as vontades das pessoas que aborda nas ruas, pois elas demonstram necessidades de dinheiro, emprego e casa. Para isso, faltam à assistente social os recursos financeiros e, acima de tudo, tempo. No fim deste ano, o projeto que coloca Cristina e mais outra "trabalhadora de rua" em ação em Berlim chega ao fim. Não se sabe ainda se vai haver continuidade. Cristina, por sua vez, espera que o trabalho seja prorrogado.

Autora: Svenja Pelzel (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque