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Thilo Sarrazin

30 de agosto de 2010

A expulsão de Thilo Sarrazin do SPD é provável. Banco Central se mostra hesitante quanto a uma punição. Para políticos de todos os partidos, não resta dúvida de que sua argumentação evoca teorias raciais nazistas.

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Controverso autor Thilo Sarrazin no lançamento de seu livro em BerlimFoto: AP

O Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) abriu um processo nesta segunda-feira (30/08) para expulsar Thilo Sarrazin da agremiação, por causa de suas declarações sobre a predisposição genética de determinados grupos da sociedade.

O presidente do SPD, Sigmar Gabriel, justificou a decisão, afirmando que os conceitos utilizados por Sarrazin em seu recém-publicado livro Deutschland schafft sich ab (A Alemanha extingue a si mesma) "beiram a higiene racial". Com isso, Sarrazin se excluiu automaticamente da comunidade de valores social-democratas, argumentou Gabriel.

O diretório nacional do SPD decidiu por unanimidade abrir um processo intrapartidário para expulsar o político, que também integra a direção do Banco Central alemão (Bundesbank).

O Bundesbank, por sua vez, anunciou que ainda não entrará com um processo para destituir Sarrazin do cargo, mas o convocará para conversar sobre suas declarações antimuçulmanas e sua assertiva sobre a constituição genética dos judeus. A diretoria do Banco Central declarou que o posicionamento de Sarrazin, agora registrado em livro e em entrevistas recentes à imprensa alemã, prejudicou a imagem da instituição.

Com suas declarações depreciativas, Sarrazin teria faltado "contínua e crescentemente" com sua responsabilidade perante o banco. Em 2009, reagindo a declarações xenófobas de Sarrazin, o Banco Central reduziu suas atribuições e competências, mas não chegou a demiti-lo.

No fim de semana, um porta-voz do governo em Berlim declarou que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, considera a imagem do Bundesbank prejudicada por Sarrazin. O banco deveria refletir bem sobre o caso, disse. O ex-secretário das Finanças da cidade-Estado de Berlim teria se "exaltado em teorias genéticas totalmente abstrusas", comunicou o porta-voz.

Alarmismo sobre Alemanha dominada por muçulmanos

Já antes do lançamento oficial, nesta segunda-feira, o livro Deutschland schafft sich ab havia gerado uma ampla polêmica no país por causa de teses nele contidas divulgadas de antemão pela imprensa.

Sarrazin / Buch / Bundesbank
Thilo SarrazinFoto: AP

Segundo o autor, a longo prazo, os muçulmanos representarão a maioria da população alemã, em consequência da alta taxa de natalidade entre esse grupo da sociedade. A partir dessa premissa, impossível de ser fundamentada por estatísticas, Sarrazin, de 65 anos, deduz o risco de uma contração biológico-demográfica da população autóctone alemã.

Além de temer uma descaracterização da sociedade autóctone pelo aumento da participação demográfica estrangeira, sobretudo islâmica, Sarrazin acusa os muçulmanos de serem ociosos e desprovidos de iniciativa própria, o que acarretaria enormes custos ao Estado.

"Em todos os países da Europa, os migrantes muçulmanos, com sua baixa participação no mercado de trabalho e sua alta requisição de assistência social, mais custam aos cofres do Estado do que contribuem com mais-valia econômica", afirma Sarrazin.

Além de não se basear em números comprováveis, essa afirmação ignora dados estatísticos atuais, como os da associação turco-alemã de empresários TDU, segundo a qual a Alemanha tem cerca de 100 mil empresários de origem turca, que geram cerca de 300 mil empregos.

Berlin Demonstration Buchvorstellung Thilo Sarrazin NO FLASH
'Cale a boca!', diz cartaz de manifestante em protesto ao livro 'A Alemanha extingue a si mesma'Foto: AP

Para Sarrazin, muçulmanos emburrecem a Alemanha

Além de acusar a população muçulmana de desfalcar a economia alemã, o livro de Sarrazin causou escândalo por suas especulações genéticas, segundo as quais o aumento da participação islâmica na população alemã implicaria uma queda do nível de inteligência. Ao defender em entrevistas essa afirmação contida no livro, Sarrazin acirrou ainda mais a polêmica.

Numa entrevista divulgada neste domingo com o autor do polêmico livro, o jornal Welt am Sonntag perguntou se ele achava que a burrice seria geneticamente condicionada. Sua resposta: "Na comunidade científica existe o consenso de que 50% a 80% da inteligência são hereditários". Ao ouvir do entrevistador que essa opinião transparecia modelos de argumentação próximos do nazismo, Sarrazin negou ser racista.

Na mesma entrevista, publicada no domingo, o autor do polêmico livro disse acreditar na identidade genética: "Todos os judeus têm um gene específico, os bascos têm um gene específico que os diferencia dos outros".

Ataques a pobres e estrangeiros

Thilo Sarrazin, reconhecido na Alemanha como perito em finanças, já provocou vários escândalos com sua constante depreciação de estrangeiros, muçulmanos e beneficiários da ajuda social do Estado.

Em setembro de 2009, Sarrazin declarou que um problema da capital alemã seria o fato de 40% dos nascimentos ocorrerem na classe baixa. Na mesma ocasião, ele afirmou que 70% dos turcos e 90% dos árabes residentes em Berlim rejeitam o Estado alemão e não cuidam direito da educação de seus filhos. Na época, o Bundesbank sugeriu indiretamente que Sarrazin renunciasse ao seu posto no banco.

Em junho deste ano, o social-democrata afirmou temer que o baixo nível educacional de muitos imigrantes vindos da Turquia ou da África viesse a ter um efeito negativo sobre a Alemanha. "Por vias naturais, estamos nos tornando cada vez mais burros". Essa declaração levou a Promotoria Pública de Darmstadt a abrir um inquérito contra Sarrazin por incitamento popular.

Ao lançar seu livro em Berlim nesta segunda-feira, Sarrazin negou todas as acusações de racismo que recebeu nas últimas semanas, sem no entanto relativizar suas virulentas teses. Em seu livro, ele adverte que os alemães podem tornar-se "estranhos em seu próprio país".

Políticos social-democratas e de todos os partidos alemães reconhecem na argumentação de Sarrazin, além de "racismo", "um determinismo biológico irresponsável", "a proximidade das ideologias nazistas" e "um profundo anti-islamismo".

Autora: Simone Lopes (dw, dpa, afp, epd)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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