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Malvinas / Falkland

10 de agosto de 2010

Anúncio de jazidas de petróleo nas cercanias das Malvinas/Falklands precipitou cadeia de acontecimentos políticos, econômicos e diplomáticos. Porém o real alcance das tensões anglo-argentinas ainda está por ser visto.

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Plataforma da firma Diamond Offshore Drilling no mar das FalklandsFoto: AP

A empresa petroleira britânica Rockhopper despertou recentemente a atenção internacional ao comunicar que encontrara uma jazida de petróleo ao norte das Ilhas Malvinas (Falklands), dentro do mar territorial de 200 milhas reclamado pelo Reino Unido. Batizada "Sea Lion", a reserva conteria cerca de 242 milhões de barris, o equivalente a 20 bilhões de dólares, ao atual preço de 80 dólares por barril.

"Ganhamos na loteria", declarou Sam Moody, coproprietário da Rockhopper, ao diário The Times, acrescentando que, pelo menos até o fim do ano, sua empresa seguirá realizando perfurações na área, que definiu como "nova província petroleira".

Fatos e cotações

Fontes da imprensa calculam em até 60 bilhões de barris a quantidade de petróleo contida nas 200 milhas ao redor das Malvinas. Falando à Deutsche Welle, a Energy Watch Group, rede internacional independente de cientistas e políticos com sede em Berlim, relativizou tais cifras:

"Em todo o Mar do Norte [zonas britânica e norueguesa] se encontraram, até agora, uns 60 bilhões de barris. Como se trata da maior área petrolífera descoberta nos últimos 50 anos, é de supor que as estimativas quanto às ilhas sejam exageradas. Seguramente a empresa quer fazer subir a cotação de suas ações, o que a inspira a propagar cifras fantasiosas."

De fato, segundo a revista britânica Money Week, a notícia dos achados fez subir o valor das ações da Rockhopper em 758%, desde maio deste ano. No geral, são grandes as expectativas do mercado de valores em relação ao petróleo das Malvinas.

Doze anos atrás

E a Rockhopper não é a única envolvida no negócio: também as empresas Argos Resources, Flakland Oil & Gas (FOGL), Desire Petroleum e Borders & Southern possuem licenças de exploração. Contudo nem todas as notícias são boas: em julho último, a FOGL publicou em seu website um comunicado anunciando que o poço de exploração Toroa, ao leste das ilhas, não dera resultado. "Perfuramos até uma profundidade de 2.476 metros, mas não achamos hidrocarburetos", declarou lapidarmente a empresa.

O fato não surpreende o Energy Watch Group: "Já no final da década de 1990 procurou-se petróleo e gás ao redor das Falklands, sem que fosse encontrado nada rentável". Em 1998, a Shell anunciou a descoberta de 8 bilhões de metros cúbicos de gás natural.

Na época, o barril de petróleo estava cotado em 12 dólares, e a empresa decidiu que a extração não valia a pena. Neste ínterim, o preço do gás não cresceu na mesma proporção que o do petróleo, e existem no mundo outras reservas de gás mais fáceis de extrair. No entanto, sua existência é forte indício da presença de petróleo na região.

Assim, a razão de as empresas petroleiras só se interessarem agora pelas jazidas é que não época não era necessário explorá-las, explica o Energy Watch. "Os custos de prospecção e extração são desproporcionalmente elevados na região", porém agora a operação compensa, diante do atual preço do barril e da escassez de campos petrolíferos de fácil exploração.

Argentinien Verbrennung der britischen Flagge
Bandeira britânica queimada diante do Ministério do Exterior, em Buenos AiresFoto: AP

Reação sul-americana

A Argentina respondeu às notícias já em fevereiro deste ano, reforçando os controles aos navios britânicos. Desde então, aqueles com destino às Ilhas Falklands, Geórgias do Sul e Sandwich devem solicitar permissão às autoridades argentinas para atravessar as águas do país.

Além disso, há poucos dias, os presidentes dos países do Mercosul reunidos na cúpula de San Juan, Argentina, aprovaram um artigo que prevê que "toda documentação comercial precedente das Ilhas Malvinas, Geórgias do Sul e Sandwich so Sul [...] não emitida pelas autoridades argentinas só será aceita com caráter de prova suplementar [...] sem que isto implique qualquer reconhecimento das autoridades emissoras de tal documentação".

O Energy Watch Group acrescenta que, para além das escaramuças diplomáticas e econômicas entre a Argentina e o Reino Unido, a extração do petróleo também tem aspectos ecológicos que devem ser urgentemente levados em conta.

"Nas ilhas se registram, em princípio, os mesmos riscos que no Golfo do México, já que se trata de perfurações em mar profundo. Além disso, se esquece com frequência que, mesmo em condições normais, a extração petrolífera está ligada a uma contaminação ambiental constante, por exemplo, em consequência de perdas de petróleo, do emprego de produtos químicos e da geração de dejetos radioativos nas perfurações."

O anúncio da existência de jazidas de petróleo supostamente exploráveis nas cercanias da Malvinas/Falklands precipitou toda uma cadeia de acontecimentos políticos, econômicos e diplomáticos. Porém o real alcance da exploração ainda está por ser visto: no momento, há mais nuvens do que tempestade.

Autor: Pablo Kummetz (av)
Revisão: Carlos Albuquerque