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Educação

22 de junho de 2010

Física na Veia é o melhor blog em língua portuguesa do The BOBs, concurso internacional de blogs da Deutsche Welle. Em entrevista, o blogueiro e físico Dulcídio Braz Jr. fala da relação entre mídia social e educação.

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Dulcídio Braz Jr. em Bonn: mídia social e educaçãoFoto: Carlos Albuquerque

Com seu blog Física na Veia, o blogueiro brasileiro Dulcídio Braz Júnior recebeu o prêmio de melhor blog em língua portuguesa do The BOBs, concurso internacional de blogs da Deutsche Welle, considerado o maior concurso de weblogs, podcasts e videoblogs do mundo.

A cerimônia de premiação aconteceu nesta terça-feira (22/06), no contexto do Global Media Forum, em Bonn. Braz Júnior estudou física e trabalhou com pesquisa na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Hoje, ele se dedica à educação e mora em São João da Boa Vista, no estado de São Paulo.

Em entrevista, Braz Jr. afirma que, desde que viu o homem ir à Lua, sempre gostou de ciências e que, através de seu blog, pode ajudar os alunos a serem mais felizes e a terem contato com a física de um jeito divertido.

Deutsche Welle: De onde surgiu a ideia do blog?

Dulcídio Braz Jr.: A ideia do blog, na verdade, veio para divulgar um trabalho que tenho no Brasil, pioneiro de ensino da física moderna. Física moderna é a física do século 20: a relatividade, a quântica e a cosmologia.

Eu digo que esse trabalho é pioneiro porque é o primeiro livro no Brasil sobre o tema voltado a jovens. O blog surgiu para divulgar o livro. Isso aconteceu no final de 2004. O livro é de 2002, mas o blog é de outubro de 2004.

Como é possível tornar a física "pop"?

Na verdade, eu trabalho com jovens. Embora o blog tenha sido criado para eles, hoje, tenho uma audiência de pessoas de todas as idades. A linguagem do blog e descontraída e pouco formal. Mas quando esbarro em conceitos de física, é claro, procuro ser bastante coerente e nunca perder a qualidade da informação, mas sempre de uma maneira leve, bem-humorada e contextualizada. Acho que isso é que chama a atenção das pessoas de todas as idades.

Com "contextualizada" você quer dizer que utiliza coisas do cotidiano para explicar a física?

Exatamente. Para mim, qualquer coisa tem física. Por exemplo, chegando aqui na Alemanha, pensei em fazer a seguinte postagem: estamos, aqui, em uma latitude por volta de 50° N, então estamos mais próximos do eixo da Terra. Apesar de a Terra girar como um corpo rígido com uma velocidade constante, por estarmos mais perto do eixo, a velocidade tangencial é menor.

A gente vai dar uma volta ao redor do eixo, como qualquer pessoa ou objeto que estiver sobre a Terra, em 24 horas – exceto nos polos. Então eu vou fazer essa conta: no Equador, a velocidade é de aproximadamente 1.600km/h. Quanto dá isso aqui na Alemanha, mais exatamente em Bonn, onde estamos agora? É uma velocidade um pouco menor.

O júri do The BOBs falou que é uma pena que seu blog não exista em outras línguas...

Isso foi uma das coisas que mais me deixou emocionado, porque isso é um reconhecimento de uma qualidade internacional. Até me despertou para a possibilidade de o blog ser traduzido para o inglês, que é uma língua bastante universal.

Eu estou agora procurando parceiros, pessoas que queiram investir no blog, não que eu queira tornar o blog algo comercial, mas eu gostaria de ampliá-lo, eu gostaria que ele estivesse em outras línguas, a partir desse mote do júri da Deutsche Welle.

BOBs Preis 2010 Blogger Flash-Galerie
Screenshot do blog Física na VeiaFoto: http://fisicamoderna.blog.uol.com.br/

Você é professor de física também fora do blog?

Sim, eu trabalhava até o ano passado com o ensino fundamental, ensinando astronomia. Eu dava aula no ensino médio, preparando os alunos para o vestibular e dava aula também em um curso universitário de física. Neste ano, estou só com o ensino médio e pré-vestibular.

Como você vê o futuro da mídia social na educação?

Acho que o professor que ficar de fora vai perder o bonde, porque é uma ferramenta maravilhosa. Para mim, o blog é a sala de aula ideal. Não tem parede nem sinal para entrar. Não tem hora para começar nem para terminar. Não tem programa a cumprir. Aprende-se olhando coisas que estão acontecendo.

A gente está voltando um pouco na história da educação, quando um filósofo saía andando e as pessoas iam atrás, sem compromisso. Então, eu vou passeando pelos acontecimentos e vou dialogando com as pessoas sobre a física que está ligada àquilo. E não há a maldita prova, você clica ali porque quer, não porque seu pai ou sua mãe mandou.

É assim que se alcança um público jovem?

Sim, tenho muitos alunos que estão se preparando para o vestibular. Aliás, coincidência ou não, apareceram várias questões de vestibulares muito semelhantes aos temas que havia abordado em posts que escrevi. Como eu procuro trabalhar com a física contextualizada, e os vestibulares também, há então essa coincidência e eu acabo antecipando algumas questões. Eu falei, por exemplo, do salto olímpico da Mauren Maggi. E caiu no vestibular da Fuvest, um dos mais importantes do Brasil.

Uma vez também descobriram um planeta extrassolar. Fizeram o cálculo do período, ou seja, o tempo que o planeta demora para dar uma volta em torno da sua estrela, do seu sol. A partir desse dado, você pode calcular a massa do sol, vulgarmente falando, você pode pesar esse sol. Eu fiz esse cálculo e essa questão caiu na prova do ITA, Instituto Tecnológico da Aeronáutica, um dos mais importantes vestibulares do país.

A mídia social é pouco explorada no ensino científico, principalmente no ensino superior?

Sim, é verdade, inclusive eu vou participar, daqui a um mês, de uma mesa-redonda no Rio de Janeiro, no CBPF, Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Nós vamos justamente debater isso: a importância da mídia social para a ciência. Física não é só fazer cálculo. Contá-la de uma maneira simples e divertida é motivo de muito prazer. E os cientistas ainda têm uma resistência muito grande a fazer o seu próprio marketing pessoal, a vender seu peixe, no melhor sentido da palavra.

Entrevista: Carlos Albuquerque

Revisão: Roselaine Wandscheer