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Louise Bourgeois

1 de junho de 2010

Uma das artistas contemporâneas mais conceituadas, francesa radicada em Nova York, deixa lacuna no cenário das artes e legado inestimável no debate sobre o papel da mulher na sociedade ao longo do últimos séculos.

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Foto: AP

Louise Bourgeois era considerada uma das "grandes damas" da arte contemporânea, cujas obras fazem parte do acervo dos mais importantes museus do mundo, entre os quais o MoMA de Nova York, o Centro Georges Pompidou de Paris ou a Tate Modern, em Londres.

Nascida em 1911, Bourgeois estudou Artes em Paris, sua cidade-natal, nos anos 1930, tendo sido aluna, entre outros, de Fernand Léger. Em 1938, deixou a França com o seu marido, o historiador da arte norte-americano Robert Goldwater, com quem se mudou para Nova York.

Apesar de insistir sempre que sua arte era fruto "da experiência nova-iorquina", Bourgeois creditava à sua infância na França todo o fundamento de seu trabalho. No país onde nasceu, dizia ela, "aconteceu tudo o que para mim é importante. Toda a minha motivação, meu prazer e meu sofrimento vêm de lá. Sua concretização, porém, é americana", explicou a artista há poucos anos à telemissora de língua alemã 3 Sat.

Repertório recolhido da infância

O fato de que a força-motriz de criação de Bourgeois tenha residido em sua infância pode ser sentido em várias de suas obras, algumas delas diretamente associadas às figuras do pai e da mãe. Celas, uma série de instalações que deu à artista reconhecimento internacional no fim dos anos 1980, é composta por grandes jaulas metálicas, cujo conteúdo remete à infância da artista e a seu papel de esposa.

Louise Bourgeois Flash-Galerie
Retrospectiva da obra da artista no Centro Georges Pompidou, em ParisFoto: AP

Em Cela Nr. 7, por exemplo, o observador se depara com uma réplica da casa dos pais de Bourgeois, com uma aranha de bronze representando a figura da mãe, camisolas antigas e uma cama na qual se encontra um objeto perfurado por pregos. "Minha mãe era minha melhor amiga: sensata, paciente, consoladora, sutil, empenhada, indispensável e sobretudo uma tecedeira, como uma aranha", esclareceu a artista em conversa sobre a obra.

Em 1974, a artista, 20 anos após a morte de seu pai dominador, reverenciou-o com Destruição do Pai, refeição canibal numa caverna iluminada por sombria luz vermelha. Bonecas gigantes, em sua maioria com seios fartos e enormes genitais femininos acentuaram na obra de Bourgeois uma discussão sobre o papel de vítima da mulher na sociedade, confirmando mais uma vez o rótulo de "artista feminista radical" atribuído a ela.

Noites de insônia

Várias de suas obras foram sendo construídas em noites sem dormir, contou a artista em 2005, já em idade avançada. "Sofro de insônia, o que é terrível. Convivo com a insônia e não tomo tranquilizantes. Trabalho nos meus desenhos à noite, na cama, debruçada sobre travesseiros. Às vezes ouvindo um pouquinho de música ou o ruído da rua. Guardo cuidadosamente meus desenhos. Eles me fazem relaxar e me ajudam a dormir", dizia a artista.

Louise Bourgeois Skulptur London Flash-Galerie
A aranha gigante de Bourgeois em frente à Tate Modern, em LondresFoto: AP

"A arte de Louise é extremamente pessoal e íntima e somente nos últimos anos é que se tornou aceitável que o artista expresse, em seu trabalho, seu íntimo e suas experiências pessoais através da obra", anotava em 1993 o diário Süddeutsche Zeitung a respeito do trabalho da artista.

Mitos e fábulas

A chave para compreensão do trabalho de Louise Bourgeois, assinala o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung, está na associação de suas obras com os mitos e as fábulas. Principalmente em seus trabalhos posteriores, diz o jornal, "voltam muitas peças conhecidas, que marcam simbolicamente todas as fábulas europeias", entre as quais os espelhos, frágeis recipientes de vidro, agulhas grandes e objetos de tecelagem.

Louise Bourgeois Flash-Galerie
Escultura de Louise Bourgeois no Walters Art Museum de BaltimoreFoto: AP

"As fábulas são crueis. E Louise Borgeois as adorava", conclui o jornal, resgatando as palavras Arthur Miller, um de seus grandes e antigos amigos, apreciador da "sinceridade de Louise frente a seus sonhos e à sua mais particular visão": É aí que mora a beleza da intensidade que sua arte emana", disse o escritor.

Mostra em Berlim

Em Berlim, o museu da Coleção Scharf-Gesternberg apresenta até o próximo 15 de agosto uma mostra da obra de Louise Bourgeois e do surrealista Hans Bellmer (1902-1975), embora os dois nunca tenham se encontrado pessoalmente.

Double Sexus, o título da exposição, cria um diálogo entre as perspectivas masculina (do alemão Bellmann) e feminina (de Bourgeois) sobre o corpo humano e, consequentemente, sobre temas como sexualidade, gênero e os papéis de cada um na sociedade. Um programa de palestras, leituras cênicas e encenações acompanha a exposição.

SV/dpa/ap
Revisão: Simone Lopes