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Comércio luso-brasileiro

26 de maio de 2010

Segundo avaliação de economista portuguesa, o país acerta ao investir na melhoria das relações comerciais com Brasil e com os países africanos. Investimentos brasileiros em Portugal também progridem.

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Parceiros na língua e na economiaFoto: AP Graphics/DW Fotomontage

Num momento de pessimismo generalizado em Portugal, um consenso paira sobre o país: as relações com suas ex-colônias merecem ser cultivadas. "É preciso colocar os pés no chão e assumir que Portugal precisa muito mais do Brasil do que o contrário", afirma a economista Aurora Teixeira, professora da Universidade do Porto.

Dados divulgados nesta quarta-feira (26/05) pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) alimentam o pessimismo português. Os números revelam uma economia sensível, com previsão de crescimento de 1% para 2011 – como o restante dos países da zona do euro, o que é considerado pouco.

A adoção de uma série de medidas de austeridade fiscal também dá pistas de que as coisas não estão bem em solo lusitano: o governo anunciou corte de despesas públicas, aumento dos impostos, diminuição dos repasses para os estados.

"Com a estagnação do mercado europeu, precisamos procurar mercados alternativos. E há uma concordância das autoridades de que as opções estão na África, nomeadamente em Angola, e na América Latina, ou seja, no Brasil", explica Teixeira.

Ölkonzern Petrobras - Rio de Janeiro, Brasilien
Petrobrás vai investir em PortugalFoto: DW/Geraldo Hoffmann

O economista brasileiro Frederico Turolla, professor da Fundação Getúlio Vargas, é mais cético. "A superioridade econômica se inverteu, é verdade. Mas isso não quer dizer que o Brasil seja mais desenvolvido que Portugal. É preciso lembrar que a renda per capita é maior em Portugal e que o país conta com a oportunidade de estar atrelado à União Europeia."

O fato de Portugal depender da União Europeia para escoar seus produtos colocou o país em xeque, avalia Aurora Teixeira. Afinal, a própria UE se viu em desvantagem na balança comercial com a América Latina e Caribe: em dez anos, os europeus saíram de uma posição favorável de 5 bilhões de euros em 2000 para, em 2009, mergulhar num déficit de 9 bilhões nas trocas comerciais com os países latinos e caribenhos.

O melhor parceiro

A dinâmica entre Brasil e Portugal já se reflete nas estatísticas. Tanto as exportações como as importações do Brasil para Portugal aumentaram 66% e 57%, respectivamente, entre janeiro e abril de 2010, em comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados do Ministério brasileiro de Desenvolvimento também indicam que a balança comercial permanece favorável para a ex-colônia.

Portugal vende para o Brasil principalmente azeite, cobre, bacalhau e vinhos. Já os produtos brasileiros com mais saída em solo português são óleos brutos de petróleo, soja e minérios de ferro.

"Para Portugal, o Brasil é especialmente apetecível e surge como o melhor parceiro neste momento. E de alguma forma, serve como compensação para a estagnação a que o mercado europeu tem assistido nos últimos anos", avalia a economista.

Essa experiência já é positiva para a Portugal Telecom no Brasil, por exemplo, que detém 31,81% da Vivo, uma empresa de call center e 29% da UOL, tendo acumulado lucros significativos nos últimos anos. Outra área atraente para os lusitanos – além de todas as oportunidades geradas pelos cobiçados eventos esportivos de 2014 e 2016 – é a de energia.

Frederico Turolla destaca também a área de infraestrutura: "As empresas portuguesas têm vasta experiência, mas não possuem mais espaço em Portugal, ao passo que a demanda no Brasil é crescente".

Outro parceiro em potencial para o comércio português é Angola, país ainda visto com algum receio. "É um mercado de alto risco, porque as instituições não funcionam tão bem como no Brasil –apesar de nós, portugueses, também termos uma percepção de que as instituições às vezes também não funcionam no Brasil", reconhece Teixeira.

A contrapartida

Mesmo que o Brasil não precise tanto de Portugal como o contrário, o país europeu pode, por outro lado, servir como porta de entrada de mercadorias brasileiras de alto valor agregado. "Apesar de tudo, o mercado europeu é muito importante para os países que estão fora da UE, e é um mercado difícil", comenta Aurora.

Blick auf die Favela Rocinha in Rio de Janeiro
Renda per capita do Brasil ainda é baixaFoto: Geraldo Hoffmann

E os investimentos brasileiros estão a caminho: a portuguesa Galp e a Petrobrás fecharam na última semana uma parceria que prevê a instalação de uma unidade de produção na refinaria de Sines, em Portugal, com capacidade de produção de cerca de 260 mil toneladas de biodiesel por ano. O local pode servir também como plataforma estratégica para a Petrobrás exportar seus produtos para a Europa.

A fabricante de aviões Embraer iniciou em 2009 a construção de uma unidade em Évora que produzirá estruturas complexas de aeronaves. A empresa também planeja a implantação de um outro centro de excelência na cidade portuguesa para os próximos anos.

A afinidade cultural, segundo Turolla, é um grande fator de aproximação entre as empresas dos dois países – embora as companhias brasileiras só tenham começado o processo de internacionalização no final dos anos de 1990. "São países com cultura e língua parecidas. Para o Brasil, por exemplo, as dificuldades tributárias e afins seriam igualmente difíceis na Alemanha e em Portugal, mas o fator cultural o aproxima mais de Portugal", finaliza.

Aurora: Nádia Pontes
Revisão: Simone Lopes